Você sabia que consumimos 30% mais do que a capacidade de regeneração do planeta? E que para cada pessoa no mundo existem 9 animais de fazenda criados em um sistema que desrespeita as necessidades físicas, biológicas e psicológicas dos animais?
O sistema industrial intensivo de criação de animais os submete a uma existência de sofrimento. Nossas estimativas indicam que mais de 70 bilhões de animais de fazenda sejam criados e abatidos todos os anos no mundo, sendo que 2/3 vivem em sistemas que visam a alta produtividade e o lucro em detrimento do bem-estar animal.
Como resultado, vacas, aves, porcos e outros animais são submetidos a práticas cruéis e desnecessárias que reduzem sua expectativa de vida e prejudicam seu crescimento. Desenvolvem, ainda, comportamentos anormais que lhes causam danos físicos e psicológicos.
A boa notícia é que é possível mudar essa realidade, começando por uma mudança de hábitos em prol de um consumo consciente. Tudo começa com uma redução no consumo – o que conseguimos ao nos questionarmos mais vezes sobre a necessidade real de determinada compra – e passa pela prática de fazer melhores escolhas, como consumir apenas produtos de animais que foram criados com altos níveis de bem-estar.
A realidade é cruel
Dos animais de fazenda criados e abatidos todos os anos no mundo, dois terços em condições industriais intensivas não conseguem se mover livremente ou expressar seus comportamentos naturais.
Conheça as principais técnicas empregadas nas fazendas de criação intensiva:
• Confinamento: mantidos em currais, baias, gaiolas ou piquetes com área restrita, os animais têm movimentos limitados e são impedidos de exercer seu comportamento natural.
• Superlotação: economicamente mais atrativa, mas estressante para os animais, a superpopulação das instalações provoca conflitos e facilita o estresse crônico que leva à uma baixa imunidade e à propagação de doenças. Para evitar ferimentos graves, o produtor recorre a mutilações preventivas, como corte do bico das aves e do rabo dos porcos, realizadas sem anestesia.
• Ambientes pobres: Nascidos para uma vida ao ar livre, os animais nascem e morrem dentro de espaços industriais intensivos que em nada lembram seu habitat natural.
Disseminação de doenças
O estresse crônico causado pelo confinamento debilita o sistema imunológico dos animais criados em sistemas intensivos, favorecendo a disseminação de doenças. Por isso, antibióticos são administrados de forma “preventiva” e diariamente, o que constitui um terreno fértil para a mutação/adaptação de bactérias que também são nocivas à nossa saúde. Neste processo, ocorre a seleção de organismos que possuem alguma resistência a esses medicamentos e que depois não terão mais efeito no tratamento de humanos e animais.
As estimativas indicam que o uso de 40% a 80% destes medicamentos nas criações em países em desenvolvimento seja desnecessário ou questionável. Apenas animais com doenças bacterianas devem ser tratados com antibióticos. Se nada for feito a tendência é que, até 2030, o uso aumente 67%.
Degradação do Meio Ambiente
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, a pecuária industrial intensiva é uma das atividades de maior impacto sobre o meio ambiente. Degrada o solo, provoca perda de biodiversidade, polui as águas e responde por cerca de 15% das emissões globais de gases de efeito estufa no planeta.
Frangos e suínos criados e abatidos em um sistema sem práticas de bem-estar animal produzem altos níveis de ácido lático e cortisol – o hormônio do estresse. Estas substâncias estão associadas aos defeitos e à qualidade, como por exemplo deixando a carne do frango pálida e sem sabor.
Bovinos e suínos que sofrem estresse prolongado antes do abate consomem todo a reserva de energia do músculo e isso deixa a carne firme e escura, aquele famoso bife sola de sapato. Isso tudo porque o bem-estar não foi respeitado.
O papel do consumidor
Tudo o que consumimos causa impactos, que podem ser positivos ou negativos. A economia, as relações sociais, a natureza e os animais são impactados pelo “o que” e “como” compramos. Ao ter consciência desses impactos, você pode maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos, contribuindo com o seu poder de escolha para construir um mundo melhor. Isso é consumo consciente!
O consumidor consciente é um agente transformador da sociedade por meio do seu ato de consumo. Pequenas mudanças em nosso dia-a-dia têm grande impacto no futuro. O consumo consciente de proteína animal pode melhorar o bem-estar de bilhões de animais de fazenda que são criados e abatidos todos os anos para o consumo humano.
São gestos simples que levem em conta os impactos da compra, incluindo a escolha das empresas da qual comprar, em função de seu compromisso com o desenvolvimento socioambiental.
O papel das empresas
Estar informado e entender quais são os compromissos públicos que as empresas manifestam quanto ao bem-estar dos animais de fazenda é um passo importante para um consumo mais consciente.
Em 2019, o ranking avaliou 150 empresas, em 24 países, que foram classificadas entre os níveis 1 a 6 – sendo o nível 1 o melhor, e 6 o pior. Desde 2012, o BBFAW analisa a gestão e o desempenho das maiores empresas alimentícias do mundo em 35 critérios distintos e objetivos, distribuídos nos seguintes pilares:
• Compromisso de gestão
• Governança e gestão
• Liderança e inovação
• Relatório de performance e impacto
Das 150 empresas avaliadas, somente 22 têm o bem-estar animal como parte integrante de sua estratégia de negócios em 2019. Dentre estas, apenas duas empresas atuam no Brasil (Nestlé e Danone), o que mostra que bem-estar ainda não é um tema prioritário para as demais empresas.
Fonte: https://www.worldanimalprotection.org.br/consumo-consciente