Alessandra Amaro Dias Piagem

A face do bem

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Aos 40 anos de idade, Alessandra Amaro Dias Piagem toma conta do Abrigo dos Anjos- como próprio nome diz, um abrigo para cães abandonados- fazendo um trabalho que começou por causa de uma longa aventura pessoal, que ela nos conta nessa entrevista. Os filhos a ajudam muito, aliás sem eles não seria possível, claro, já que hoje são quase 600 animais que vivem no abrigo. Ela é empenhadíssima no que faz e está sempre criando campanhas que movimentam pessoas para ajudar a manter essa grande matilha alimentada e cuidada. Não mede esforços para encaminhar os cães para adoção responsável. Sabemos que muitos deles só sairão dali, mortos. O espaço físico desse “abrigo dos anjos” como ela batizou, é carregado de energias múltiplas. A mais forte é a dela, naturalmente. Energia boa que emana dessas pessoas que só pensam no bem. Mas há também energias pesadas, trazidas pelo abandono, pela crueldade, pelo desprezo. Energias que o ser humano carrega e transmite sempre, não os cães. Mas em seus olhares, podemos distinguir tudo isso, como também a energia da gratidão quando recebem um pouquinho de carinho e um lar pra chamar de seu. Essa é Alessandra, da qual nada mais é preciso dizer.

Marcos Moreno– Quem conhece de perto o seu trabalho como protetora de animais fica impressionado com tanta dedicação a tantos animais. Não posso deixar de perguntar : como isto começou?
Alessandra Amaro dias Piagem– Tinhamos uma cachorra que no meio de um dia qualquer sumiu. Procuramos por todo o bairro, espalhamos panfletos, fizemos uma divulgação em massa a procura da Pandora. Ficamos todos desesperados a procura dela, toda a minha família tinha um vínculo grande com ela, pois estava conosco já a algum tempo. Se passou um ano e não conseguimos encontrá-la. Voltando do trabalho em uma noite chuvosa, encontrei pela rua uma cachorra bem debilitada, aparentemente doente e a levamos ao veterinário, que a diagnosticou com anemia. Os veterinários nos receitaram alguns medicamentos e começamos o tratamento dela em casa. Depois disso passei a enxergar os animais com outros olhos e tentava os ajudar o máximo que conseguia. Vieram os próximos animais e de 1 em 1, tínhamos 60 animais dentro de casa e 100 no quintal. Não foi uma luta fácil e por muitos fui chamada de doente, louca, acumuladora. Mas graças a tudo isso, hoje, minha ONG abriga quase 600 animais muito bem cuidados e estamos trabalhando a cada dia para melhorarmos nossa estrutura para atender nossos animais tirados das ruas.

 

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Marcos– Você tem filhos que te ajudam no trabalho. Fazem porque também gostam de animais ou simplesmente para te ajudar?
Alessandra– No começo era mais para me ajudar, mas com o passar do tempo foi criando um vínculo entre os animais e eles, e hoje toda a ajuda é feita por amor aos animais e pela causa. Nós achamos que o salvamos, mas eles que nos salvam todos os dias.

Marcos– Onde você está hoje é um terreno doado pela PMU?
Alessandra– Não, é uma chácara alugada que pagamos com o dinheiro de doações.

Marcos– Você consegue ajuda do município?
Alessandra– Ainda não. Tivemos a emenda liberada, mas ainda não começamos a receber.

Marcos– Acho que a higienização de um lugar que abriga tantos cães é fundamental. Que ajuda você tem para fazer isto?
Alessandra– Temos voluntários que todos os dias nos ajudam com a limpeza da chácara, que todos os dias é lavada para o bem estar dos nossos animais.

Marcos– Há sempre ajuda voluntários da área veterinária para tratar dos pets?
Alessandra– Temos parceria com alguns veterinários que fazem um orçamento a baixo do mercado para nos atender, já que todos sabem que dependemos de doações.

 Marcos– Eles vão até ai ou você tem que providenciar transporte para levá-los às clínicas?

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Alessandra– Depende do caso, como ainda não temos uma sala adequada para atendimento, os nossos animais que precisam de uma atenção especial são levados para a clínica, para serem tratados lá. Mas uma vez na semana nossa veterinária vem para ajudar na medicação e fazer uma vistoria nos canis, e atendendo os que não precisam ser retirados daqui.

Marcos– Eles têm que ter pessoas por perto 24 horas por dia. Você mora na ONG?
Alessandra– Eu e 4 dos meus 5 filhos moramos no abrigo e nunca deixamos o local sozinho. Sempre que precisamos sair todos, temos pessoas de confiança para tomar conta por algumas horas. Mas a maioria das vezes, se eu não estou, um dos meus 2 filhos mais velhos fica sempre responsável pelo abrigo.

Marcos– Quando morrem os cães que ninguém adota e acabam ficando por aí, pra onde são levados?
Alessandra– Temos uma área afastada onde enterramos nossos animais quando o perdemos. Estamos buscando melhorar isso. A melhor solução seria cremar, mas em nossa cidade ainda não existe um local adequado.

Marcos– Quantos cães ao todo estão no abrigo hoje?
Alessandra– Não temos um numero exato pois sempre chegam mais animais e muitos também são adotados, mas em nossa ultima contagem eram em torno de 589 animais em média.

Marcos– Há uma quantidade grande de adoção?
Alessandra– No momento sim, pois temos fotógrafas voluntárias que fotografam nossos animais e nos ajudam a divulgar. Através dessas fotos, muitos dos nossos animais recentemente encontraram um lar.

Marcos– Pode deixar uma mensagem para os humanos em relação aos animais?
Alessandra– Como eu disse acima, não salvamos os animais, eles que nos salvam. Precisamos permitir amar, pois o amor e a gratidão que recebemos em troca é gratificante.
Esses animais não merecem o que sofrem, e nós humanos, temos a missão e o dever de cuidar.
Nós não merecemos os animais, mas já que os temos, devemos cuidá-los e amá-los todos os dias. Porque eles nos amam sem nos julgar. Os animais são os únicos capazes de amar de verdade sem se importar com a cor da sua pele, com o que você é ou tem, eles simplesmente nos amam sem esperar nada em troca. E isso é amor.

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