Juliana Sene

      Começar bem!

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Estamos começando um novo ano. E para começarmos em grande estilo, vamos contar um pouco da história de Juliana Sene, uma Fisioterapeuta que equilibra suas atividades profissionais com o trabalho voluntário de ser protetora independente de animais. Para quem precisa entender melhor esse trabalho, ele se resume, a meu ver, em puro altruísmo. Em favor dos animais. Ela não fundou uma ONG, não faz desse trabalho qualquer possibilidade de meio de sobrevivência, mas não se sente capaz de dar de ombros ao pedido de socorro de um animal que, provavelmente não sobreviveria sem atitudes assim. Vice presidente da Ong SARA – Solidariedade Animal, Responsabilidade Ambiental, mergulhou nesse trabalho há aproximadamente sete anos, quando aconteceu o fechamento de três canis na cidade de Uberaba, denunciados por maus tratos aos animais. Foi notícia regional, daquelas com aquelas cenas horríveis que infelizmente ainda assistimos pelo país afora. Fabiana é exemplo de lutadora pela causa. Verdadeiramente!

 

 

“Precisamos de uma mudança urgente, hoje são mais de 13 mil animais abandonados na nossa cidade, isso também é um problema de saúde pública”

 

Marcos Moreno– Juliana, o que é SARA?

Juliana Sene– SARA – Solidariedade Animal, Responsabilidade Ambiental.
Ong onde seu carro chefe é educação, orientação (campanhas, palestras e etc.) e castração, que não possui abrigo, pois os filiados e fundadores acreditam que acumular animais em abrigos não é a saída para resolver o problema de superpopulação na cidade e cremos que abrigos não sejam locais ideais para animais residirem. A saída hoje para superpopulação, na nossa opinião é educação ( orientação sobre a importância da castração) e um programa efetivo do ccz de castração (gratuita).

Marcos– Você é protetora independente?
Juliana– Sim, sou protetora independente, faço esse trabalho independente de participar de alguma ONG. Os animais que resgato são custeados por mim, resgato, presto socorro se necessário (consultas, exames, tudo que for necessário) para que se restabeleça, castro, vacino , vermífugo, identifico e procuro adoção responsável.
Marcos– Quais funções semelhantes entre uma ONG de proteção animal e um Centro de Controle de Zoonoses?
Juliana– Trabalhos educativos, procurando esclarecer e contar com a colaboração e participação de toda a sociedade e principalmente controle de populações de animais domésticos (cães, gatos) por meio de esterilização cirúrgica (castração). Se a ong tem abrigo isso deverá ser feito assim que o animal tenha condições de enfrentar a cirurgia, anestesia e etc, senão acaba procriando dentro do abrigo e também para que seja encaminhado para adoção castrados. A maioria das Ongs que não possuem abrigos , também tem projetos de castração e educação como o ccz.

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Marcos– Existem no Brasil CCZ que funcionem bem?
Juliana– Lembro de ter postado no facebook um tempo atrás um ccz exemplo, onde tudo funcionava muito bem, desde o atendimento a animais errantes vítimas de atropelamento à castração e feirinhas de adoções, mas infelizmente não consegui achar a publicação na internet. O ccz da nossa cidade há uns anos atrás chegou a trabalhar bem melhor do que hoje, infelizmente. Antigamente quando era gerido por outra direção o canil recolhia animais errantes vítima de atropelamento e prestava socorro, recolhia cadelas no cio na cidade e eram castradas no ccz e encaminhadas para adoção, feirinhas regulares para adoção dos animais que se encontravam no canil e também mantinha um convênio com a polícia do meio ambiente para que animais de maus tratos fossem encaminhados para lá até que se achasse um fiel depositário para o mesmo. Hoje esse convênio também não existe mais.

Marcos– Sempre pergunto sobre a opinião do entrevistado sobre políticas públicas. O que falta e o que existe?
Juliana– Pois é nossos animais da cidade estão muito carentes em relação a políticas públicas, hoje nem o ccz funciona …que dirá o resto!!! Precisamos de uma mudança urgente, hoje são mais de 13 mil animais abandonados na nossa cidade, isso também é um problema de saúde pública. Precisamos de leis mais severas de maus tratos, de um programa de castração gratuita (ccz), de apoio aos animais resgatados de maus tratos pela polícia de meio ambiente (veterinários, medicamentos, local para recebê-lo e etc), um ambulatório para atendimento para população carente, de uma atenção especial aos cavalos que puxam carroças na cidade (o ideal e “ sonho” de todos amantes é que houvesse proibição de tração animal na cidade), precisamos de muita coisa, ficaria o dia todo escrevendo aqui rsrsrs. Você me pergunta o que existe? Na minha opinião hoje nada de proveitoso e ideal, nem castração que seria o mínimo existe através do ccz.

Marcos– A denúncia de maus tratos funciona? A quem recorrer?
Juliana– Sim, funciona. O problema é que se a polícia chega até o local e constata, o animal teoricamente deveria ser retirado, mas o poder público não disponibiliza um local de destinação desse animal vítima de maus tratos, nem veterinário para fazer um laudo de maus tratos e tratar o animal, então acaba ficando complicado retirar. Aí o que acontecesse é que o animal acaba ficando no local com o “agressor” e o mesmo ficando como fiel depositário o que não é o ideal. O ideal é que a pessoa que faz a denúncia se prontifique a dar o lar temporário e a cuidar do animal até ser destinado a um fiel depositário/ possível adotante futuro.
Recorrer ao 198 ou 190.

Marcos– O que identifica maus tratos?
Juliana – Abandonar, espancar, golpear, mutilar e envenenar; Manter preso permanentemente em correntes; Manter em locais pequenos e anti-higiênico; Não abrigar do sol, da chuva e do frio;  Deixar sem ventilação ou luz solar; Não dar água e comida diariamente; Negar assistência veterinária ao animal doente ou ferido;  Obrigar a trabalho excessivo ou superior a sua força; Capturar animais silvestres; Utilizar animal em shows que possam lhe causar pânico ou estresse; Promover violência como rinhas de galo, farra-do-boi etc..
Outros exemplos estão descritos no Decreto Lei 24.645/1934, de Getúlio Vargas. Lei Federal 9.605/98 – dos Crimes Ambientais Art. 32º. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Pena: detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Marcos– O Brasil ainda está muito distante de um ideal de respeito aos animais?
Juliana– Muitooooo, na minha opinião, as leis precisam ser revisadas, penas são muito brandas, na maioria das vezes pagas com multas ou serviços prestados, e isso para mim é no mínimo revoltante.
Precisa mudar a cultura do Brasil, na minha opinião deveria começar a educação e respeito em relação ao meio ambiente e animais na escola, fazer parte da grade curricular. Orientação e educação!!! Hoje nos deparamos frequentemente com tutores de animais totalmente desinformados quanto ao mínimo que um animal doméstico necessita como vacinas, vermifugação, castração e tal. Acreditem…. tem gente que acha e jura que o animal só tem que tomar de vacina a antirrábica, quando a outra é de extrema importância e na minha opinião muito mais importante. Hoje passamos por um surto de cinomose na cidade devido à falta de informação e de cuidado com os animais. Às vezes o tutor economiza 40 reais com uma vacina e depois tem que gastar mais 1000 reais p tentar salvar um animal com cinomose e ainda não salva.
Estamos longe de ser um país que cuida e respeita os animais.

Marcos– O que você tem como sonho no sentido de proteção animal?
Juliana– Meu sonho é que eles sejam respeitados como devem ser, sejam amados, que as pessoas tenham no mínimo compaixão.
Politicas públicas para os animais, leis severas, projetos sérios e que funcionem, castração gratuita, apoio da prefeitura aos animais errantes (os abandonados, atropelados, doentes), ambulatório público, fim das carroças, esses são alguns dos meus sonhos!

Marcos– Pode deixar uma mensagem para os homens em relação aos animais?
Juliana– Quem ama um animal com todo o seu coração mostra também o seu bom caráter, sabe identificar um amor genuíno pelo qual eles nos respondem e que não chega até nós de forma humana, chega de forma sutil e ao mesmo tempo intensa, verdadeira e inesquecível.
Animais nos ensinam mais do que qualquer ser humano quando estamos falando sobre lealdade e companheirismo. Eles são puros, amáveis e dedicam a sua lealdade ao dono sem outras limitações pelas quais o ser humano passa. Respeitar os animais significa respeitar a vida. O respeito também é sinal de sensibilidade e entendimento do sentido da vida.
Minha vida com certeza seria diferente sem eles (sem os 18 que eu tenho e os da rua) sobraria mais tempo, mais dinheiro, seria mais livre ….. Mas, quando penso no meu amor por eles, no amor deles por mim, na minha dor em ver um animal em situação de sofrimento….não trocaria eles por nada nem ninguém. São minha vida, dão sentido a minha existência.
Para mim são… o melhor no mundo….sinônimo de amor.

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