Lessandra Moreira de Carvalho

 

Razão e Sensibilidade!

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Formada em direito, Lessandra trabalha no TJMG. É casada e paralelamente com todas as atividades de esposa e funcionária pública, tem um trabalho que nunca termina e não propõe finais de semana ou férias remuneradas. Ela é protetora independente de animais, notadamente cães. Inteligente, objetiva e, especialmente franca, sem medo de dizer o que precisa ser dito e a quem precisa ser dito. Fala com razão e sensibilidade. Uma lição de autenticidade em um momento ainda cheio de “clichês” e pouca prática.

 

“A atitude de quem resgata é realmente uma atitude de muita doação de nós mesmo e de tudo que temos, mas É PRECISO ESTABELECER LIMITES SIM!!! “

 

Marcos Moreno– Lessandra, você é uma conhecida protetora independente dos animais. Desde quando você abraçou essa causa e por quê?
Lessandra Moreira de Carvalho– Abracei a causa animal há, aproximadamente, 8/9 anos, mas hoje em dia que vejo que foi, principalmente, depois que minha mãe faleceu de uma forma bem traumática para mim. Sempre amei cães, amo a natureza, os animais, mas creio que “tentei resgatar e ter muitos animais como uma forma de fazer um trabalho voluntário de ajudar um ser vivo e, inconscientemente, tentar preencher o vazio da falta da minha mãe com o amor e trabalho pelos animais.” Demorei anos para entender esta última parte.

Marcos– Você já participou de alguma ONG?                                                                                                                                              Lessandra– Nunca participei de ONG em Uberaba, pois acho que as da nossa cidade viraram um “depósito” de animais, o que acho terrível para o bem estar deles. Existem sim ONGs hiper limpas, organizadas, de extrema responsabilidade com cada animal no Brasil, mas são muito poucas. Já participei no início do Grupo Santo Focinho, que mais tarde também já tee o objetivo de virar ONG. Mas acabei saindo do grupo depois.

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Marcos– A atitude de quem protege animais é uma atitude, naturalmente, de muita doação. É preciso estabelecer limites?
Lessandra-
A atitude de quem resgata é realmente uma atitude de muita doação de nós mesmo e de tudo que temos, mas É PRECISO ESTABELECER LIMITES SIM!!! Falo por causa própria: é uma tarefa que suga nossa vida, nosso dinheiro e nosso estado emocional.
Assim, uns 4/5 anos atrás, eu comecei com umas dores terríveis na barriga, quase não conseguia andar, passei muito, muito mal. Quando vi que não melhora, fui a um médico que já me conhecia há anos, e só de me ver falar, disse: “você está totalmente agitada e ansiosa demais. Tanto que essa dor é ar que você está engolindo enquanto e fala, sua respiração esta afetada pelo emocional. O que está acontecendo?”
Foi aí que me abri com o médico e contei o tanto de resgate que eu estava fazendo, eu ficava olhando as postagens do face que ninguém resgatava e eu ia lá no “fim do mundo” resgatar o que via.
Eu participava de vários grupos de resgate no whatsapp e vivia enlouquecida resgatando. E estava extremamente nervosa com tantos resgates e problemas.
Foi ai que o médico disse que eu iria sair naquele dia de todos os grupos que eu participava e que teria que cuidar da minha saúde.
Foi o que fiz. Fui inclusive para a psicóloga. Após uma semana sumiram todas as dores.
Marcos– De quantos cães você cuida hoje?
Lessandra– Atualmente cuido de 20 cães: 8 são meus e 13 estão em uma casa alugada só para eles, prontinhos para adoação, castrados, vacinados, sem uma pulga sequer. Quem toma conta desses animais sou eu e Cláudia Toledo.

Marcos– Por que cresce tanto o número de protetores de animais? O abandono é maior hoje e as responsabilidades menores?
Lessandra– Bom, é grande o número de protetoras, estão todas lotadas e endividadas, mas são poucas as que pegam, levam no veterinário, cuidam de tudo, castram (QUE PRA MIM É UMA DAS PRINCIPAIS FUNÇÕES DE UM PROTETOR) e vacinam. Sabe por quê? Porque gasta dinheiro e a maioria não quer gastar nada, ou quer que os outros paguem tudo pra elas, o que é absurdo, mas existe! Muitas pegam da rua, dão um banho e botam para adoção!
Não acho que a responsabilidade dos tutores é menor. Acho é que as pessoas estão mais irresponsáveis a cada dia que passa. Por isto o abandono.Também nossa lei é ridícula. Nunca previu sistema de reclusão (cadeia é abrangida aqui) como pena para ninguém!!! Podem abandonar, matar, maltratar que NADA, pois era previsto só detenção!
Acho que não faz 1 mês que a lei foi alterada para incluir a Pena de Reclusão… Vamos ver se algo muda, pois nossa própria polícia é totalmente despreparada para a causa animal.
Marcos– Ao lado de outras pessoas com o mesmo nível de consciência em relação à causa, você esteve participando de sessão da Câmara Municipal de Uberaba, recentemente, que votou um projeto de reforma do CCZ de Uberaba. Como surgiu esse projeto?
Lessandra– Quanto ao projeto de reforma do CCZ, onde estive com outras protetoras independentes na sessão da Câmara Municipal de Uberaba, ele surgiu primeiramente numa reunião com no máximo dez pessoas, dentro de uma quadra, para conversarmos sobre nossas idéias. Entre elas estava o Jurandir, que já trabalhou anos na Secretaria de saúde. Ele foi a nossa luz no fim do túnel. Com a experiência prática de quem sabe como tudo tramita nos ajudou a pôr no papel nosso projeto e entrar na Câmara para que fosse separado, no orçamento de 2019, o dinheiro para colocarmos em prática.

Marcos– Você pode falar por alto o que está previsto nesse projeto em termos serviços e espaços físicos?
Lessandra– Primeiramente, temos um Centro de Zoonoses que não funciona pra nada com relação aos animais de Uberaba. Então, nosso Projeto é fazer aquilo funcionar plenamente, com obras em todo o terreno da CCZ, salas de cirurgia, sala de pós-cirúrgico, veterinários concursados para fazerem muita castração cirúrgica, locais para animais resgatados de maus tratos, ter um funcionário que realmente vá com o cambão ajudar no resgate de um animal quando precisarmos, pois isso não existe hoje, e é função da zoonoses, etc.

50220c6a-a4c2-4c0e-b867-c728d71e6104Marcos-Quais são os maiores impedimentos do funcionamento de um CCZ adequado?
Lessandra– Na minha opinião, os maiores impedimentos para funcionamento de um CCZ adequado é a falta de vontade das pessoas, dos políticos e a falta de recursos! Isso é uma obrigação da prefeitura de cada município e o prefeito daqui nunca foi cobrado por isto!
Marcos– Quer que dizer que é possível existir um CCZ adequado às suas obrigações?
Lessandra– Lógico que é possível existir um CCZ adequado e que cumpra suas obrigações, mas para começarmos tudo até terminar sabemos que vamos encarar muita luta pela frente. Mas já demos o primeiro passo. Tem que haver comprometimento da prefeitura.
Marcos– Você pode citar alguns lugares, dentro de fora do país que podem servir de exemplo?
Lessandra– O que vou citar como exemplo é como acabar com o abandono num país: Holanda e Alemanha! Estes países simplesmente acabaram com os cães de rua, sem matar nenhum!
Eles proibiram a venda de animais de raça, investiram alto nos abrigos públicos e obrigaram a quem quisesse ter cães, que adotassem dos mesmos.
Além disso, tem mesmo que exigir uma série de regras para você ter um cão ou gato, como, por exemplo: passaporte, microchip de identificação, cadastro do animal na Prefeitura do município, imposto anual para cada animal, alguns também exigem seguro para cobrir eventuais danos que possam ser causados pelo animal.
Lá o número do microchip também é registrado na coleira de identificação, que traz inclusive o símbolo da prefeitura.
Isto para mim é um sonho! Um sonho que aconteça algum dia no Brasil!

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Marcos– Que outras espécies de animais que vivem no meio urbano você considera que estejam desprotegidos?
Lessandra– No meio Urbano, além dos cães e gatos, acho que os pássaros estão muito desprotegidos! Além do tráfico que existe, há também os prédios espelhados, que, como o fórum de Uberaba, os animais vêm voando, não sabem que é vidro, batem e morrem, ou ficam machucados ou com asa quebrada não podendo mais voar. Também acho que animais selvagens como cobras, micos, lagartos, furões, nada disso deveria ser aceito como animal de estimação, é absurdo. E, com certeza, também são traficados.

Marcos– O que você pensa da substituição dos animais de tração por veículos motorizados?
Lessandra– Eu acho que os animais de tração não deveriam existir nunca mais, e não precisam ser substituídos por veículos motorizados, mas sim por uma simples bicicleta com um tipo de uma caixa enorme de folha de alumínio ou ferro atrás, é o que chamamos de cavalo de lata. Isso já foi feito em algumas cidades do Brasil.

Marcos– Gostaria que você deixasse uma mensagem para as pessoas…
Lessandra– Bom, a minha mensagem para as pessoas é que passem a ter responsabilidade real pelos seus animais, que parem de comprar e adotem mais animais resgatados com amor e com condições de comprar ração, levar ao veterinário, pagar as vacinas anuais e que tenham cuidado de não deixar eles fugirem. Assim como vocês não perdem seus filhos, não percam seus animais. Pensem que adotar é um gesto nobre e de solidariedade com um animal que já sofreu muito nas ruas e que merece, mais que qualquer outro, um lar amoroso.
CASTREM SEUS ANIMAIS! MACHOS E FÊMEAS!
Parem de achar que podem comprar um cão de raça em 10x, mas não tem dinheiro para cuidar dos problemas de pele que vão ter, cardíacos, renais, nos olhos. Depois abandonam na rua!
Parem de pensar só em animais de raça, porque nem você, que é Brasileiro, tem raça, pois somos um dos povos mais miscigenados do mundo!

17d e respostas

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