Ana Lúcia Árabe Ferreira

Arquitetura do bem!

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Talento e competência são traços básicos do seu trabalho. Dedicação, generosidade, serenidade são partes genuínas do seu caráter. Somando tudo a tantas outras características  bacanas, tentamos definir a arquiteta Ana Lúcia Árabe Ferreira, que, com um trabalho extremamente exigente, ainda encontra tempo para ser uma protetora de animais simplesmente porque não entende a vida de outra forma. Me sinto confortável em fazer o título dessa entrevista: “Arquitetura do Bem”. E agradecido também. Ana Lúcia é casada com o médico Lisandro Ferreira, que nunca deixou de dar apoio à sua causa em favor dos animais, e mãe de Isabela, estudante de medicina que herdou da mãe o nível de consciência em relação aos bichinhos. Com mestrado em arquitetura, Ana Lúcia está concluindo uma pós graduação em “Master em Arquitetura & Lighting”. Essa mulher está realmente construindo um mundo melhor.

 

“A mudança do animal de rua e o animal no seu novo lar ,com o carinho que nunca teve , é impressionante e isso é o que nos move a nunca parar”

 

Marcos Moreno– Tenho conversado com algumas pessoas que fazem parte de uma categoria interessante: Protetores Independentes. Todas as histórias têm em comum um aspecto pessoal, um ponto de partida que acontece com um animal da própria pessoa. Com você também foi assim?
Ana Lúcia Árabe Ferreira: Meu inicio como protetora independente começou com o primeiro resgate, na rua da minha casa ,onde recolhi, cuidei, castrei e entreguei ao novo tutor com todas as vacinas em dia. Foi uma experiência gratificante. Primeiro veio o medo de como faria, se conseguiria cuidar e encaminhá-lo para pessoas que cuidariam e que se importariam (como eu) com aquele animal indefeso. Senti a necessidade de ter noticias e acompanhar a adaptação desse animal ao seu novo lar. Hoje continuo sempre acompanhando meus filhos adotivos nos seus novos lares. A mudança do animal de rua e o animal no seu novo lar ,com o carinho que nunca teve , é impressionante e isso é o que nos move a nunca parar.

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Marcos– Você é uma profissional muito bem sucedida, mas há outras pessoas que não têm a mesma condição financeira que você. É caro fazer isto, não é?                           Ana Lúcia- Acolher, resgatar um animal não é barato já que partimos da premissa de que temos a responsabilidade de retirar o animal das ruas, de maus tratos, seja de onde for e dar uma condição melhor para ele e isso tem custos como: veterinários com possíveis tratamentos longos e até cirúrgicos, internações por dias que se tornam caríssimas, castração, vermifugação, vacinação e na maioria das vezes o hotelzinho, já que todas as protetoras estão lotadas com animais em casa.
Marcos– É possível explicar mais ou menos como você consegue tempo para tanta coisa?
Ana Lúcia- O resgate acontece sem que a gente esteja preparada para tal fato, então o tempo é o que tem menor peso e sempre contamos com a ajuda de outros protetores.

Marcos– Esse caráter “protetor” se espalha pela família toda? Marido e filha seguem seu exemplo?
Ana Lúcia- Isso é uma verdade. Meu marido e minha filha acabam envolvidos na causa e sem contar as pessoas que trabalham comigo como secretária, pedreiros, pessoas da obra. É impressionante como a causa envolve pessoas… até os porteiros de condomínio me ajudam, seja no resgate, seja no cuidado com o animal que está na portaria e isso me é relatado quando chego na obra.Fico extremamente feliz porque penso que não estamos sozinhas nessa causa.
Marcos– Toda pessoa que se envolve com esse maravilhoso trabalho de proteger, sofre em algum momento de uma depressão horrível. Isto também é um “lugar comum” nessas pessoas. O que você me diz sobre isto?
Ana Lúcia- Infelizmente é comum um protetor ou outro se ausentar por um tempo e se organizar intimamente para depois voltar à ativa. O que nos deixa assim não são os animais, mas as atitudes de muitos seres humanos que abandonam ,maltratam, adotam e não tem a menor responsabilidade e condição de manter um animal…..São essas atitudes do ser humano que nos deixam mal porque não conseguimos acudir todos os casos que chegam até os protetores.

Marcos– Ainda há muitos cativeiros por aqui, pela nossa região?
Ana Lúcia- Acredito que haja muitas pessoas que usam da causa para se beneficiarem e enquanto tiver alguém para comprar, vai existir quem vende e sabe lá em que condições esses animais vivem. Na maioria das vezes em péssimas condições. Acredito que só com uma lei rígida poderá ter algum êxito com relação a esse fato. Temos exemplos incríveis em outros locais do mundo onde o respeito ao animal não deixa de ser um fato secundário. Por exemplo, a Austrália, onde existe a proibição da reprodução de cachorros e gatos para fins comerciais e com isso tentam acabar com as fábricas de filhotes de animais domésticos. Outro exemplo é a Suíça. A Suíça é o sonho de todo protetor de animais. A preocupação com a dignidade e o bem estar dos bichos é enorme, e aqueles que desrespeitam, maltratam, abandonam e matam animais sofrem punições severas. Poderia ser assim no Brasil.

Marcos– Há uma fiscalização séria em torno de cativeiros e/ou criadouros clandestinos?
Ana Lúcia- Não há. Na maioria das vezes a descoberta de algum cativeiro ocorre por meio de denuncias.

Marcos– O que mais dificulta um resgate seja em cativeiros seja por uma situação de abandono?
Ana Lúcia- O que mais dificulta um resgate é o custo do mesmo. O protetor se questiona como vai pagar pelos animais resgatados, onde serão colocados esses animais porque na maioria das vezes, os animais estão em péssimo estado e todos os protetores estão com as casas lotadas de animais sem condições de dar o lar temporário para eles (LT). Na realidade esse pensamento ocorre em conjunto ao resgate porque o sentimento de um protetor fala mais alto e a união dos protetores também é um fato que ajuda muito e nos fortalece. A nossa indignação ao ver o estado do animal e quando vemos, já tomamos a iniciativa do resgate.

Marcos– Você acredita que uma educação de base influencia a consciência das pessoas em relação aos animais?
Ana Lúcia- A educação é a base de tudo. Um país que se preocupa com a educação tem como conseqüência um questionamento em todo sentido e o bem estar do animal é um desses questionamentos.

Marcos– Há uma polêmica sobre a castração química. Você tem uma opinião sobre isto?
Ana Lúcia- Sou totalmente contra. Vários profissionais da área criticam a falta de dados que garantam a segurança do procedimento. Foi verificado que o produto aplicado nos animais provoca edema e necrose dos testículos e ninguém sabe se os animais sentirão dor, desconforto ou desenvolverão tumores malignos.

 

“A compaixão por todos os seres vivos é a prova de uma conduta mais firme e verdadeira de uma pessoa”
Marcos– Vou repetir o de sempre: gostaria que você deixasse aqui uma mensagem para as pessoas em relação aos animais.
Ana Lúcia- Um homem só será realmente ético quando for capaz de ajudar e quando se der ao trabalho de impedir que causem danos a todas as coisas vivas. E se nós vemos coisas erradas ou crueldades, as quais temos o poder de evitar e nada fazemos, nós somos coniventes.
Penso que a compaixão pelos animais está ligada ao caráter do homem, e quem é cruel com os animais não pode ser bom. A compaixão por todos os seres vivos é a prova de uma conduta mais firme e verdadeira de uma pessoa.

 

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