Pets veganos: nasce um novo — e caríssimo — mercado

 

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Alimentação sem proteína animal e utensílios eco-friendly: os adeptos da vida ‘natural’ refletem seus hábitos na criação dos bichos de estimação
Por Bruna Motta
Um casal que não consome alimentos de origem animal, que mobiliou a casa sem uma única peça de plástico e que se locomove de bicicleta decide adotar um cãozinho de estimação. Pergunta: como vai alimentá-¬lo e acomodá-lo? A seu jeito, é óbvio, porque cara de um, focinho do outro. Com a fatia da população adepta da vida “natural” crescendo sem parar — segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, 14% dos brasileiros não consomem carne, por exemplo — e a loucura por pets beirando a epidemia, uma parcela do mercado está se especializando em atender caninos, felinos e outros desta nova era. Sim, já há veganos na pracinha. A mudança de hábitos pode soar estranha em se tratando de animais, cujo instinto mais forte é o da sobrevivência, mas fazer o que se o bicho é espelho do dono? Uma verdade antropologicamente sólida: pessoas escolhem animais que se parecem fisicamente com elas, como comprovam as pesquisas. “Antigamente o bicho de estimação ficava fora de casa, não participava da rotina dos donos. Agora ele é mais humanizado. O tratamento mudou e os hábitos de consumo, também”, diz Guilherme Martinez, gerente comercial da feira PET South America, a maior da América Latina, que monitora o avanço do segmento natureba no planeta pet.
E que planeta. De acordo com o IBGE, os lares do Brasil alojam 52 milhões de cães e 22 milhões de gatos, alcançando o quarto lugar no ran¬king mundial de população de animais de estimação. Essa bicharada movimenta um mercado que cresce 40% ao ano em faturamento e prevê amealhar 21 bilhões de reais em 2019, atrás apenas dos Estados Unidos (pela primeira vez o Brasil passou a China nesse departamento). “Trata-¬se de um claro reflexo do estilo de vida dos donos”, confirma Martinez.
O público-alvo varia de acordo com o grau de ortodoxia. Em um extremo desponta gente como a advogada Krystal Castor, 32 anos, que se apresenta como ativista do veganismo, o qual defende com garra (perdoe o trocadilho) na internet. “Não conseguiria viver de uma maneira e criar meus bichos de outra”, diz ela, dona de um border collie e de um gato anabel redpoint. Todo dia aparece uma boa-¬nova nessas antenadas prateleiras: muito acessório à base de fibra de arroz, caminhas de algodão 100% recicláveis e até cosméticos (veja o quadro abaixo). Tudo caríssimo, mas bichinhos com consciência ecológica pagam sem reclamar.
Na alimentação, nada é mais como antes nos potinhos de bambu. Para os autênticos cães veganos, proteínas animais são coisa de um passado a ser enterrado. As novas misturas, que combinam vegetais e frutas, podem ser preparadas em casa, porém já se acham em profusão no mercado. Há dez anos na produção de rações, a BF Foods, de Porto Alegre, inaugurou em 2018 uma linha à base de proteína de soja. A inspiração baixou em uma viagem aos Estados Unidos, onde essa é uma opção comum nas pet shops. “Ao longo deste primeiro ano, vimos um crescimento de 30% nas vendas de alimento vegano”, calcula Claudio Maia, gerente de marketing da marca gaúcha. Mas, afinal, bicho pode deixar de comer carne? A Associação Veterinária Britânica (BVA, na sigla em inglês) estudou o assunto e concluiu que gatos têm de ter carne na dieta — os felinos são carnívoros obrigatórios e ela é imprescindível para seu desenvolvimento saudável. “Teoricamente, é possível criar cães com uma dieta vegetariana, mas os donos precisam se informar e acrescentar suplementos a ela, para prevenir doenças”, avisa Daniella dos Santos, vice-presidente da associação. Fica a pergunta que todo cachorro faria se pudesse falar: biscoitinho sabor bacon pode?

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