Mais de 600 animais silvestres morreram nos últimos meses em um centro de tratamento do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) que fica em Seropédica, na Baixada Fluminense. A empresa terceirizada que cuidava do espaço deixou de prestar o serviço no ano passado.
Um outro contrato, de emergência, foi feito, mas também foi rompido. Enquanto isso, animais vivem no meio de muita sujeira e quase sem alimentação.
O local é um dos maiores centro de tratamento de animais silvestres do país. São mais de 1,2 mil animais vivem lá. Sob a responsabilidade do Ibama, os macacos, as aves e outros bichos deveriam estar se recuperando dos ferimentos causados pelo tráfico ilegal destas espécies.
Os animais que conseguem se recuperar, como araras, são devolvidos à natureza. E os que estão feridos, como é a situação de uma seriema, que teve uma das asas cortadas, precisam ficar no centro.
Só que, sem tratadores, cerca de 600 animais morreram nos últimos quatro meses, segundo um levantamento que ainda está sendo feito pelos funcionários do centro.
Atualmente, o centro só tem quatro funcionários, que estão fazendo o que podem. Mas como são poucos, eles mal conseguem dar conta de retirar os animais mortos.
O centro tem muita sujeira e os animais que ainda estão vivos sofrem de fome. A equipe de dez tratadores que fazia a limpeza dos espaços, alimentava e cuidava dos bichos, pertencia a uma empresa terceirizada, que não renovou o contrato com o Ibama.
No dia 30 de julho, a empresa disse que não queria prorrogar o contrato.
No mesmo dia, o Núcleo de Compras e Contratos do Ibama informou aos responsáveis pelo Centro de Seropédica que a empresa não renovaria o contrato. De forma anônima, funcionários dizem que, depois da suspensão desse contrato, os animais ficaram sem tratadores durante 50 dias.
Eles acrescentaram que, depois, outra empresa foi contratada em regime de emergência, mas o serviço foi interrompido há cerca de um mês, no dia 17 de janeiro. Enquanto isso, todo dia chegam novos animais no centro.
Gaviões, um falcão e corujas, aves que já chegaram feridas no centro, estão há mais de um mês sem tratadores, sem a limpeza adequada, correm o risco de piorar, contraindo infecções.
Uma denúncia chegou até a Polícia Federal, que também hoje fez uma perícia no centro de triagem. Os funcionários serão chamados para prestar depoimento.
A contratação de uma equipe de tratadores é responsabilidade do superintendente do Ibama no Rio, o contra-almirante da reserva da Marinha Alexandre Dias da Cruz, que assumiu o cargo em março de 2019.
O Ibama informou que a equipe da Corregeoria, a Secretaria de Biodiversidade e a Diretoria do instituto foram acionadas e farão a apuração e adoção das medidas necessárias.
Por Márcia Brasil e Mônica Sanches