CEPF e IEB mobilizam ações sustentáveis para conservar o Cerrado

SEMANA MEIO AMBIENTE

Estudo aponta que a vegetação nativa do maior bioma nacional pode ficar reduzida em 20% até 2050; ações de preservação podem garantir segurança hídrica e proteção à sociobiodiversidade

Com uma área de 24% do território brasileiro, segundo bioma em extensão do Brasil, o Cerrado está presente em nove estados e já perdeu mais da metade de sua vegetação nativa. E mais: a sua ocupação descontrolada e contínua pode levar à perda de 82% da cobertura vegetal original até 2050, em um espaço que se estende do Brasil ao Paraguai. As informações constam no Perfil do Ecossistema: Hotspot de Biodiversidade do Cerrado, do CEPF, entidade que organiza ações para conservação do bioma.


O Cerrado é um dos ecossistemas mais afetados pelo desmatamento nos últimos anos. Dados do PRODES Cerrado, programa criado e operado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontaram que, entre agosto de 2019 e julho de 2020, o desmatamento no Cerrado atingiu 7,3 mil km², uma área 13,21% maior que o total registrado no período anterior. Segundo o órgão, Maranhão foi a região que teve a maior área desmatada, 1.836,14 km², seguido por Tocantins (1.565,88 km²) e Bahia (919,17 km²).
“A conservação de um bioma diz respeito à manutenção dos ecossistemas para garantir a nossa sobrevivência dentro de um contexto global, muito mais que conservar a fauna e a flora, mas a biodiversidade como um todo. Por isso, para agirmos em escala e de forma efetiva, engajamos pequenos e médios empreendedores, assim como grandes empresas, universidades, centros de pesquisa, organizações da sociedade civil e as comunidades para transformar a realidade”, diz Michael Becker, coordenador da Estratégia de Implementação Regional do CEPF Cerrado.


Segundo ele, a devastação do Cerrado traz graves consequências ao equilíbrio do meio ambiente e a sua conservação está atrelada à segurança hídrica, à manutenção e criação de territórios sustentáveis no Brasil. “É urgente que a relevância do Cerrado seja reconhecida pela sociedade. Dos aquíferos que abastecem o país, três estão presentes no bioma: Guarani, Urucuia e Bambuí. Além disso, o Pantanal, que possui a maior planície alagada do mundo, e os afluentes dos rios Amazonas, São Francisco e Paraná também dependem das águas que fluem pelo Cerrado”, explica.
Iniciativas como as que estão sendo desenvolvidas pelo Fundo de Parceria Para Ecossistemas Críticos (CEPF) e pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), ajudam a encontrar o caminho para um novo modelo, rumo ao desenvolvimento sustentável do bioma, alinhando conservação, renda e inovação em empreendimentos socioambientais.
Entre os anos de 2016 e 2021, o CEPF lançou cinco editais de apoio a projetos no Cerrado, que possibilitaram parcerias com 52 instituições, resultando em 62 projetos que reúnem ações de conservação da sociobiodiversidade aos serviços que provisionam às comunidades. Essas ações envolvem 8.322 pessoas e fortalecem a gestão territorial de aproximadamente 2 milhões de hectares no bioma, além de contribuir com o beneficiamento de 184.461,89 kg de matérias-primas extraídas do Cerrado, o que promove um incremento de renda para os povos e comunidades tradicionais de R$ 176.705,00 na comercialização de sementes nativas e de $ 245.443,78 em frutos do Cerrado.
A conservação do bioma também se reflete em sua rica biodiversidade. O Cerrado abriga o equivalente a 11% dos mamíferos, 13,4% das aves, 20% dos répteis e 30% dos anfíbios do país, e a sua devastação pode implicar na extinção de espécies como o beija-flor-de-gravata-verde, o lobo-guará, o pato-mergulhão, entre outras.

Equilíbrio do Meio Ambiente


Na publicação Perfil do Ecossistema, observamos que o Cerrado destaca-se pela abundância de espécies endêmicas: são mais de 12 mil plantas nativas, 251 mamíferos e 856 pássaros, além de 800 espécies de peixes, 262 répteis e 204 anfíbios. Mas, apesar de ser uma das savanas tropicais mais ricas do mundo, com três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul, possui mais de 1,5 mil espécies ameaçadas de extinção, principalmente pela expansão das atividades agropecuária e o desmatamento ilegal.
Sobre o CEPF e IEB – O Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (Critical Ecosystem Partnership Fund), o CEPF, que existe há 21 anos, realiza ações globais para minimizar novas devastações, restaurar terras degradadas para a recriação da conectividade ecológica na paisagem e ampliar a rede de áreas protegidas.
Desde 2016, o CEPF investiu US$ 8 milhões na conservação do bioma. No Brasil, conta com a parceria e o apoio do IEB, instituição brasileira selecionada para atuar como Equipe de Implementação Regional da estratégia do CEPF no Cerrado. A lista das organizações que fazem parte da rede podem ser conhecidas aqui: http://cepfcerrado.iieb.org.br/lista-projetos/.
A atuação do CEPF conta também com o apoio da Agência Francesa para o Desenvolvimento, a Conservação Internacional, a União Europeia, o Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF), o Governo do Japão e o Banco Mundial.


Conheça alguns dos projetos do CEPF/IEB:
Cafés do Cerrado Mineiro
Em parceria com grandes empresas que atuam na cafeicultura e cooperativas, o CEPF/IEB desenvolveu o Consórcio Cerrado das Águas (CCA) com o objetivo de recuperar, conservar e criar corredores ecológicos para minimizar perdas nas lavouras de café, como está ocorrendo nesta safra, devido à forte estiagem. Empresas como Nespresso, Nescafé, Volcafé, Nestlé, Cofco Intl, Lavazza e as cooperativas Expoccacer e Cooxupé são parceiros neste projeto que já investiu em torno de R$ 3 milhões em ações ambientais. Saiba mais em: http://cerradodasaguas.org.br/


RPPN
As Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN) são áreas que podem ser criadas nas propriedades rurais para proteger a biodiversidade local perpetuamente. O CEPF/IEB, através do programa Reservas Particulares Naturais, atua no incentivo no estabelecimento de RPPNs no Cerrado, em parceria com a Fundação Pró-Natureza (Funatura) auxiliando na desburocratização do processo junto aos proprietários rurais, e assistência técnica para elaborar planos de manejo. O CEPF/IEB já participou da criação de 47 RPPNs no bioma e o objetivo é estabelecer 70 RPPNs no Cerrado até o final de 2021.


ICMS Ecológico na Serra da Bodoquena (MS)
A parceria entre a Fundação Neotrópica e o CEPF/IEB capacita os Conselhos Municipais de Meio Ambiente (Comdema), nos municípios da região Serra da Bodoquena (MS), a fim de ampliar a arrecadação do ICMS Ecológico, um mecanismo de repartição de receitas tributárias baseado em critérios ambientais. Com a comprovação de conservação ambiental e correta gestão de resíduos urbanos sólidos, os municípios podem obter até 25% do ICMS arrecadado pelo Estado.


Cadeia sustentável do baru
Para fortalecer a cadeia produtiva de uma das maiores riquezas gastronômicas brasileiras, a castanha do baru, originária do Cerrado, o CEPF/IEB firmou parceria com o Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB) e o Working – Associação de Integração Profissional para fomentar o comércio justo da castanha, maximizar os retornos socioeconômicos para as comunidades de produtores locais e promover a conservação da biodiversidade e a manutenção dos serviços ecossistêmicos do Cerrado.


Espécies indicadoras de qualidade da água
Indicadoras da qualidade das águas do Cerrado, espécies endêmicas como o Pato Mergulhão e a perereca Pithecopus ayeaye estão ameaçadas de extinção. Para estudar e conservar estas espécies nativas do Cerrado, o CEPF/IEB mantém projetos com o apoio e parcerias de universidades, Instituto Araguaia e o Instituto Amada Terra de Inclusão Social, visando aumentar as populações destes animais no bioma e evitar o seu desaparecimento.


Niquelândia (GO)
A cidade de Niquelândia, em Goiás, já foi um dos maiores pólos de mineração de níquel do país, mas quando a indústria mineradora Votorantim Metais encerrou suas atividades no município, a crise econômica atingiu em cheio a sua população. Com o objetivo de reerguer a economia local, o CEPF/IEB em parceria com o Instituto Tiradentes e a Associação Kalunga, apoia o Projeto Niquelândia para restabelecer a economia local com o desenvolvimento agroecológico.

Add a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *