Fabiana Lombardi

Amigo Invisível !

Sim, essa expressão pode definir também a luta dos protetores independentes de animais. Eles são os “amigos invisíveis” dos cães e gatos que vivem nas ruas porque nasceram nelas ou porque foram abandonados. São muito visíveis para esses seres, mas poucas pessoas sabem o que realmente fazem e como fazem para amenizar um pouco a vida triste desses bichos. Os animais sempre agradecem, mas as pessoas, de um modo geral, viram o rosto e fingem não ver para não sair de suas zonas de conforto. Pior ainda são aquelas pessoas que julgam os protetores “loucos”, “insanos” e etc. Um cachorrinho bonitinho e bem cuidado, ou um gatinho, podem despertar atenção e até provocar elogios, mas não sendo um sortudo desses, são solenemente ignorados. Nossa entrevistada, Fabiana Lombardi saiu dessa “zona de conforto” quando teve acesso às redes sociais e se deparou com a situação e a quantidade desses animais que sofrem por causa da fome, de doenças, de frio, de maus tratos, enfim, que não têm um tutor e estão à mercê das consequências do abandono. Hoje ela assume a corajosa escolha de ajudá-los, sofrendo preconceitos, gastando muito dinheiro, e dedicando muito tempo. Não é uma escolha fácil.

“Sofro preconceito todos os dias, pois o mundo do abandono e dos maus tratos é invisível para a maioria!”

Marcos Moreno – A primeira pergunta é sempre igual pra todos os protetores: quando e porque você começou a ser uma protetora de animais?
Fabiana Lombardi- Tudo começou quando tive acesso às redes sociais. Antes disso, já cheguei a resgatar alguns cachorros atropelados, mas não tinha ideia de como era a vida dos animais de rua e abandonados. Quando eu comecei nessa causa, não conhecia nenhuma protetora ou simpatizante. Comecei a ver as publicações das maldades e abandonos, o que jamais pensei que existia. Isso há 9 anos! Nunca pensei em ser uma protetora, apenas queria somar no trabalho de algumas delas

Marcos– Quando você se propôs a fazer o que faz, tinha ideia da proporção que essa atitude iria tomar?
Fabiana- Foi tudo acontecendo muito devagar, nem eu sei como explicar. Aos poucos fui adicionando protetoras, vendo os resgates. Ajudava como eu podia, tanto financeiramente como pedindo ajuda, mas nunca imaginaria que eu teria a coragem e a força de me tornar uma protetora! Não é tão lindo e fácil como todos pensam, pelo contrário. Tem mais momentos de sofrimento do que momentos lindos.

Marcos- Você sabe quantos animais já resgatou? Tem um controle disso?
Fabiana– Não tenho controle de quantos animais resgatei. Já foram muitos.

Marcos– Todos esses animais ficam na sua casa?
Fabiana- Os animais que estão comigo hoje não ficam todos na minha casa. Não cabe. Estão em outras casas e hoteizinhos, mas ficam na minha responsabilidade.

Marcos- Você procura adoção para esses animais?
Fabiana– Já tive várias adoções, boas e péssimas, com final trágico, inclusive! Hoje poucos vão para adoção. Tenho que conhecer muito bem a pessoa e deixar bem ciente de que eles vivem muitos anos e tem gastos. Adoção pra mim é a parte mais difícil de um resgate.

Marcos- Você sofre preconceito por ter abraçado essa causa?
Fabiana- Sofro preconceito todos os dias, pois o mundo do abandono e dos maus tratos é invisível para a maioria! O que eu mais escuto é: “Você não vai salvar o mundo, você passa dos limites, gasta demais, pede demais. Você não é normal”. E muitos outros julgamentos que magoam e me fazem, às vezes, desacreditar do ser humano.

Marcos- Remédios e procedimentos médicos para animais custam caro. Você conta com pessoas para te ajudar?
Fabiana- Um resgate envolve muito dinheiro. Os remédios e procedimentos são caros, chegando às vezes a somar um valor cinco vezes mais do que você ganha ao mês! Tenho madrinhas sim, mas mesmo elas ajudando o dinheiro nunca paga todos os custos. Sou muito grata a elas e entendo que elas doam o que estão ao alcance. Não tenho ajuda de nenhum órgão. Alguns veterinários me ajudam como podem, buscando soluções para que não se gaste muito.

Marcos- Nesse trabalho árduo, quais são as maiores dificuldades?
Fabiana– A minha maior dificuldade é a financeira, pois os gastos são bem altos! A falta de punição pelo abandono e maus-tratos também dificulta o trabalho das protetoras.

Marcos- Você recebe muitos pedidos de resgate ou a maioria acontece casualmente?
Fabiana– Recebo muitos pedidos de resgate, mas hoje não posso atendê-los, pois eu cuido de muitos animais de rua diariamente. Muitas vezes, preciso me virar sozinha quando os animais que cuido nas ruas adoecem, o que gera um desgaste enorme. Eu tento fazer o meu melhor.

Marcos- É muito comum entre as pessoas que lidam com resgates de animais e com a causa, de um modo geral, terem depressão. Você enfrenta esse problema?
Fabiana– Quem abraça a causa tem um desgaste psicológico muito grande. Você chora, sofre e perde o sono! Eu tenho que trabalhar meu psicológico diariamente, porque tenho muitos animais para cuidar. Sempre penso que se eu me entregar, meu trabalho acaba, então eu busco a Deus e peço proteção para mim e para os animais. Essa tarefa é uma luta sem fim e acabamos nos deprimindo com os acontecimentos tristes.

Marcos – Você tem uma rotina de horário para tratar de tantos animais?
Fabiana- Eu tenho uma rotina pra cuidar dos animais, porque na rua a única coisa que eles têm é o alimento e um carinho que recebem rapidamente. Essa rotina vai de 6:00 às 10:00 e na parte da tarde, das 17:00 às 21:00

Marcos- Você acredita que os animais que você cuida sentem gratidão?
Fabiana- Marcos, a gratidão deles é nítida. Abanam o rabinho e os olhos de alguns brilham quando comem ou recebem atenção. Muitos ficam tristes porque não podem ir comigo. Todos os dias eles esperam um carinho. É dolorido demais quando estão lotados de carrapatos. Eu dou remédio e no dia seguinte, eles até deitam no chão de felicidade e de alívio.

10d e respostas

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