Feios, sujos e malvados

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Gostar de cachorro é comum. Levar um animal todo estropiado para casa é para poucos, ou melhor, é para Rosa. Aos 55 anos, uma peruana que vive desde menina no Brasil dedica seu tempo, afeto e dinheiro aos bichos. Rosa Villanueva vive com o companheiro Ruy no Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis. Atualmente eles cuidam de 30 cães, dois gatos e uma pomba de asa quebrada.
Ruy reclama. O trabalho é penoso. Mas ajuda sem hesitar, constrói as casinhas, as cercas, a UTI improvisada e o pergolado de bambus para que, no verão, o maracujazeiro se derrame em sombra sobre a cachorrada.
Rosa não ganha mal. É bióloga com mestrado em ecologia, tem dois empregos e auxilia como consultora no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Mas, quem vê sua casa de três peças de tijolos sem tinta e construída pela metade, não imagina.
É que a grana cobre pagamentos de veterinários e medicações. Quanto ela não diz “senão o Ruy pede divórcio”. Já ração revela que é pouca, “500 quilos por mês”.
E talvez tanto desprendimento soe absurdo em um mundo onde a moeda vale mais que o amor. Mas absurdo mesmo é o estado em que Rosa encontra os animais.
Não há sequer um único animal naquela casa que não tenha uma história trágica. São os “feios, sujos e malvados”, que sobreviveram à negligência e violência dos donos, à rejeição das ruas, até conhecerem Rosa, a melhor amiga que poderiam ter.
O mesmo empenho da protetora que acorda às 5h30 da manhã para limpar a sujeira do pátio, distribuir alimentos e tratar os doentes, faz com que os cães se transformem. Os sarnentos se curam, os cegos vêem, os aleijados andam, os desenganados revivem.
É como se todo cão do morro soubesse que ser atendido por Rosa vale mais que qualquer vela para São Francisco de Assis. O mais surpreendente é a compreensão com que lida com as pessoas que maltrataram os bichos. “Eles também são judiados”, avalia.
Para Rosa, o pior ciclo de enfrentamento é a reincidência, significa que o ex-proprietário de um cãozinho que abandonou, terá outros cães e os tratará do mesmo jeito ou pior.
Rosa justifica a sina como o respeito a sua própria natureza. “Ser protetora não é uma profissão é uma essência. Eu simplesmente não consigo ignorar a dor alheia. Já passei por muitos perrengues em outros lugares, mas nunca abandonei meus bichos. São da família”.

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