Luma Tamm Luiz da Costa Pupulin

Um grande desafio!

Chefe da Seção de Controle de Animais de Pequeno Porte- Departamento de Controle de Zoonoses e Endemias, Luma Tamm Luiz da Costa Pupulin é Médica Veterinária, formada pela Universidade de Uberaba (UNIUBE). Ela assumiu o cargo em 2019. Jovem, sabe que tem grandes desafios pela frente, primeiro porque é uma questão de saúde pública e também porque a causa animal tem sido acompanhada de perto cada vez mais e ganhado vozes importantes na luta por direitos. A comunidade de Uberaba tem conhecimento que aqui existem castramóveis que podem fazer um trabalho muito bom junto à população de animais de rua e faz parte do objetivo da veterinária colocá-los em funcionamento o mais rápido possível. Também foi entregue ao CCZ um Mercado Pet e um ambulatório. A cidadão precisa ser esclarecido constantemente sobre o funcionamento dessas unidades, como também precisa conhecer os projetos de ampliação do trabalho no CCZ. Fomos ouvir a médica veterinária Luma para fornecer ao seguidor do blog as informações do trabalho que está sendo realizado, procurando esclarecer alguns pontos de dúvidas da população.

“Nós estamos trabalhando arduamente para que os castramóveis e todos os outros projetos em andamento possam entrar em ação o mais rápido possível…”

Marcos Moreno– Desde quando você está à frente do canil do CCZ de Uberaba?
Luma Tamm Luiz da Costa Pupulin- Iniciei meu trabalho na Seção de Controle de Animais de Pequeno Porte no dia 04 de julho de 2019 e desde então sigo trabalhando no cargo.

Marcos– Para esclarecer: qual é a função do CCZ nesse setor?
Luma– A Seção de Controle de Animais de Pequeno Porte no Departamento é responsável por realizar o controle de doenças de caráter zoonóticos, aquelas doenças onde os principais transmissores são os cães e gatos ao homem, no qual a zoonoses faz o combate delas, entre elas: raiva e leishmaniose. Nós realizamos a observação de animais com suspeita de raiva; testes rápidos de leishmaniose; eutanásias com presença de laudo veterinário; microchipagem animal; vacinação antirrábica e recebimento de carcaças.

Marcos- Como você chegou a esse cargo no CCZ?
Luma– Bom, eu me formei no ano de 2016 na Universidade de Uberaba, onde assim que me formei iniciei os estudos para concursos públicos, e no ano de 2019 surgiu a oportunidade de trabalhar no cargo, como ainda não havia trabalhado na área desde então decidi viver a experiência e aprendizado.

Marcos– Qual a diferença entre um canil municipal e um Centro de Zoonoses?
Luma-Canil municipal seria uma área voltada para o recolhimento de animais errantes do município, ou seja, animais em situação de abandono e que necessitam de algum cuidado, portanto a função do canil municipal seria o recolhimento destes. Já o Canil do Centro de Zoonoses é um canil voltado para o combate de zoonoses, ou seja, para atender aqueles animais suspeitos de doenças zoonóticas (raiva, leishmaniose).

Marcos- Sabemos que é urgente um programa efetivo de castração para controle da população de animais, especialmente cães, na cidade de Uberaba. Existe uma programação por parte do CCZ?
Luma- No ano de 2020 foi adquirido pela Prefeitura Municipal de Uberaba três castramóveis para realizar o controle populacional, e atualmente estamos dando andamento na compra de insumos para posteriormente obter a aprovação do Conselho de Medicina Veterinária, para que então em breve essas Unidades Móveis possam estar funcionando e atendendo toda a população.

Marcos- No caso de castração de cães de rua, como é feito o processo? E quem cuida do pós operatório?
Luma- Quando as Unidades Móveis estiverem em funcionamento iremos beneficiar principalmente os animais errantes, no qual o pós operatório desses animais será feito no próprio CCZ sob os cuidados de médicos veterinários, por 10 dias, e após a retirada dos pontos os animais serão soltos ao local de origem.

Marcos- No ano passado foram inaugurados um Mercado Pet e um Ambulatório. Estão funcionando de acordo com a proposta para o qual foram criados?
Luma- O Mercado Pet está em funcionamento desde sua inauguração, onde atualmente ele está funcionando dentro do Departamento de Zoonoses e Endemias, das 07:00 às 17:00, nesse local é possível fazer a doação de medicamento e itens que seu pet não utiliza mais e também adquirir algo que seu animal necessita.
O Ambulatório ainda não está em funcionamento, a obra foi iniciada em junho de 2020 e paralisou em setembro devido a alta dos preço dos materiais, e desde então está em negociação para verificar possibilidade de retomada da obra.

Marcos- Existe um projeto ou uma programação definida de ampliações de ações e instalações a serem realizados por essa gestão?
Luma-Temos o projeto de controle populacional de cães e gatos, que é nosso principal projeto até o momento, que prevê a esterilização dos animais errantes, domiciliados e semi-domiciliados, evitando assim a prenhez indesejada e a transmissão de doenças (entre elas zoonoses).

Marcos- O seu cargo te dá autonomia para reivindicar o que considera necessidade urgente para o CCZ?
Luma- Parcialmente sim, pois através de documentos conseguimos encaminhar aos superiores todas as necessidades e problemas recorrentes no Departamento, e através de justificativas e reuniões alinhamos possibilidades de atender as demandas conforme a urgência.

Marcos- Há prática de eutanásia no CCZ? Em que casos?
Luma– Sim, nós realizamos as eutanásias no Departamento de forma gratuita, porém apenas com presença de laudo veterinário, que justifique a necessidade do procedimento.

Marcos– O CCZ faz o descarte de carcaças de animais eutanasiados?
Luma- E dos que são encontrados mortos em vias públicas?
Sim , nós fazemos o descarte porém não recolhemos nas ruas, nós apenas recebemos no Departamento e semanalmente uma empresa terceirizada recolhe para destinação adequada.

Marcos- Existem entidades parceiras do CCZ para o
desenvolvimento de algumas ações?
Luma- Sim, temos parceria com Hospital Veterinário de Uberaba que nos auxilia durante a campanha antirrábica com a microchipagem animal; e que também irá nos auxiliar quando estivermos com os castramóveis em funcionamento, e em outras ações.

Marcos– Há número suficiente de funcionários para atender a todas
as demandas?
Luma-Por enquanto sim, temos funcionários o suficiente, porém vamos precisar contratar novos médicos veterinários e auxiliares quando iniciarmos o funcionamento das Unidades Móveis e Ambulatório Pet.

Marcos- Como médica veterinária, o que você espera que seja o CCZ
de Uberaba?
Luma-Espero que possamos concluir todos os projetos que estão em andamento, principalmente das Unidades Móveis e Ambulatório, visto que são de extrema importância para o Controle Populacional, que visa um conjunto de estratégias para prevenir o descontrole de natalidade e o abandono animal.

Marcos- Você pode deixar uma mensagem para os seguidores do
blog?
Luma- Peço que as pessoas venham conhecer o trabalho do Departamento, qualquer duvida entrar em contato, pois estamos sempre dispostos a esclarecer todos os questionamentos. Nós estamos trabalhando arduamente para que os castramóveis e todos os outros projetos em andamento possam entrar em ação o mais rápido possível, pois queremos assim como a população ver os animais e os tutores se beneficiando deste trabalho.

Guilherme Borges Moraes


Sobre escolhas

A Medicina Veterinária não foi sua primeira opção no momento de se decidir por uma faculdade. Ingressou no curso de Administração. Mas Guilherme viu rapidamente que não era essa a sua escolha vocacional verdadeira e correu para a outra faculdade, a que definitivamente o levaria para a carreira para a qual foi talhado já na infância, quando acompanhava seu avô, Juarez Borges, na lida da fazenda, no trato do gado, dos animais domésticos. Esse sempre foi seu universo. Durante a graduação no curso de Medicina Veterinária teve oportunidade de participar de grupos de estudo que prestavam serviços em fazendas da região. Nessas ocasiões teve contato direto com casos interessantes envolvendo animais de pequeno e médio portes, aprendizado que ele hoje valoriza bastante no seu corrido dia-a-dia. Colabora com o trabalho de protetores de animais sempre que possível. É um profissional dedicado e fez uma opção de trabalho com atendimento em domicílio, buscando facilitar a vida de tutores que, por variados motivos, encontram dificuldade em levar os animais às clínicas para consultas. O dr. Guilherme é o primeiro entrevistado de 2021 do Moreno Pet Blog, que dessa forma cumpre o objetivo de sempre oferecer para os seguidores o melhor conteúdo.

“…quero salientar o relevante trabalho dos protetores que resgatam e cuidam de animais de rua, conduzindo esses animais para uma possível adoção”

Marcos Moreno: A opção pela formação acadêmica aconteceu em função do seu contato desde cedo com animais de grande porte em fazendas de propriedade da família?
Guilherme Borges Moraes– Sempre tive contato com animais, tanto de grande como de pequeno porte. Minha infância passada na fazenda de meu avô e na fazenda do meu tio em Araxá, com certeza, influenciou na minha escolha em fazer veterinária.

Marcos– Animais domésticos de pequeno porte, como cães e gatos também despertaram sempre interesse?
Guilherme– Quando criança sim. Sempre tive animais em casa. Já na faculdade, durante o curso, tive preferência pelo estudo de animais de grande porte. A participação em grupos de estudos que prestavam serviço em fazendas da região, ofereciam estudos clínicos muito interessantes com bovinos e equinos e isso chamava muito a minha atenção.
Porém, depois de formado, surgiu uma oportunidade de estágio na área de clínica e cirurgia de pequenos animais. Esse trabalho despertou meu interesse pela área. Sou muito grato a oportunidade que me foi dada, na ocasião pelo Dr. Farley Gomides Torres. Com ele aprendi muito e senti vontade de me aprofundar e trabalhar na área. Foi com essa experiência que vi que a minha verdadeira vocação era na medicina e não na produção, como é o caso de animais de grande porte.

Marcos- O trabalho com animais de pequeno e grande porte são completamente diferentes do trabalho com grandes animais, de rebanho por exemplo?
Guilherme– Sim. Apesar das bases de medicamentos serem bastante semelhantes, no caso de bovinos, que foi a área que tive mais contato, o foco é na produção (carne e leite), e na reprodução. Já a área de pequenos animais é mais focada no bem estar e na saúde dos pets. Por isso que eu digo que com pequenos animais a atuação do veterinário é mais na área médica. E com os animais de grande porte está mais ligado a cuidados com a nutrição e reprodução.

Marcos- O que é comum em termos de doença/tratamento nos dois casos?
Guilherme- Algumas doenças transmitidas por ectoparasitas (carrapatos) tem diagnóstico e tratamento semelhantes. E são bastante comuns nos dois casos. Mas são mais frequentes as diferentes doenças que acometem animais de pequeno e de grande portes.

Marcos– A cada dia cresce o número de vacinas que protegem os animais domésticos de doenças. Ainda estamos longe do ideal?
Guilherme- Hoje o leque de vacinas é bastante amplo e de grande eficácia, quando produzidas por laboratórios confiáveis. Um animal com o calendário de vacinas completo dificilmente terá problemas com alguma das doenças cobertas pela vacina e, consequentemente, será um animal saudável sempre.

Marcos– Até a algum tempo o máximo que as pessoas faziam era vacinar o cachorro (por exemplo) contra raiva. Nem gatos era vacinados com frequência. Que cuidados com a saúde de um pet hoje está muito distante disto?
Guilherme– Atualmente, grande parte das pessoas já tem em mente a importância da vacinação completa, porém ainda há um longo caminho até um cenário ideal nesse aspecto. Quem tem um pet, em casa, convivendo com a família, tem que estar atento aos sinais que podem mostrar alguma alteração na saúde do animal.
É muito comum a gente atender animais que já estavam apresentando sintomas de doenças, muitas vezes graves, e só são levados ao veterinário quando há o agravamento expressivo desses sintomas. Essa demora na busca de um atendimento profissional leva a uma intervenção tardia que pode impossibilitar que o veterinário salve a vida do animal.
Mas por outro lado cuidados com higiene básica, controle de parasitas e castrações tiveram um avanço muito grande. Atribuo isso à facilidade maior de acesso à informação sobre os cuidados e os benefícios que estes procedimentos trazem para o animal. Espaços como este blog, por exemplo, são extremamente importantes pois têm a função de levar esse tipo de informação aos tutores de pets.

Marcos- Os pets estão mais sensíveis ou isto é uma mudança natural por uma questão cultural?
Guilherme- Os pets se tornaram parte da família e também devido ao tratamento humanizado que os animais de companhia vêm recebendo, ultimamente, muitos se tornaram mais sensíveis a mudanças de rotina. Alguns até tornam-se dependentes da companhia humana de uma forma até prejudicial, levando em conta que o animal as vezes não terá uma atenção pelo tempo todo como foi acostumado. Então o recomendado, é que o animal seja tratado como tal, com limites, espaço definido, etc. Lembrando que a exigência de atenção varia conforme a espécie e a raça, sendo aconselhável um estudo prévio.

Marcos– Quais são as doenças que mais acometem cães e quais as mais difíceis de terem um bom resultado com tratamento?
Guilherme– As principais são, doença do carrapato (erlichiose), cinomose, infeções de pele, e no caso de cadelas, infeção de útero e tumores mamários. No caso da cinomose, o tratamento é bastante oneroso e mesmo assim os resultados, muitas vezes, não são satisfatórios. Porém com uma vacinação completa, o risco de uma infeção pelo vírus da cinomose é mínimo.

Marcos– O que mudou no segmento veterinário por causa dessa pandemia ou o segmento permaneceu inalterado?
Guilherme– Houve um aumento na procura por atendimento veterinário e principalmente no serviço de banho e tosa. Talvez pelo tempo passado dentro de casa, em contato maior com os pets, os tutores notaram a necessidade de melhorar os cuidados com seus animais.

Marcos– A pergunta que todos querem fazer: animais domésticos são ou não são passíveis de serem infectados pelo Covid 19?
Guilherme– Até agora foram detectadas presença do covid 19 em alguns animais, sendo casos raríssimos, porém o consenso é que eles não têm papel importante na propagação do vírus. Como o vírus é muito novo, muitos estudos ainda precisam ser feitos, qualquer certeza com relação a isso, seria precipitada.

Marcos-Há algum procedimento recomendável no convívio com os animais nesses tempos de pandemia?
Guilherme– Seriam os mesmos que para outras atividades de contato, ainda mais no caso do animal conviver com outras pessoas, ou ter acesso a rua. Então lavar as mãos e utilizar o álcool gel após o contato com os pets é recomendado.

Marcos-Você poderia deixar uma mensagem para os seguidores do blog?
Guilherme- Vejo, cada vez mais, que as pessoas optam por terem pets em casa. O contato com animais é extremamente benéfico a crianças e adultos. É muito comum ouvir que a presença do pet transformou a relação entre as pessoas da família. E com isso o cuidado com esses animais tem sido crescente. Como veterinário eu vejo com muito otimismo essas atitudes. Também quero salientar o relevante trabalho dos protetores que resgatam e cuidam de animais de rua, conduzindo esses animais para uma possível adoção. É um trabalho sério que independente do poder público consegue salvar muitos animais e consegue ainda encaminhá-los para famílias que se interessem em adotá-los.
Eu mesmo tenho em casa um cachorro que foi adotado. É uma prática que está ganhando cada vez mais adeptos. Diante disso é necessário destacar a importância do trabalho do médico veterinário. Com atendimento e orientações de um profissional esses animais têm qualidade de vida e longevidade. Esse é o principal objetivo do nosso trabalho.
Espaços como o Moreno Pet Blog, por exemplo, que difundem informações e incentivam boas práticas, desempenham um papel de extrema relevância na conscientização da sociedade sobre a causa animal. Só com um trabalho de equipe entre profissionais da saúde animal e voluntários que os resultados podem aparecer.

Vera Rajjar

Consciência em Evolução

Médica Veterinária Especialista em Homeopatia, Vera Hajjar é também Terapêuta Energética. Voluntária em Instituição Conscienciocêntrica em prol da evolução das pessoas, dos animais, natureza e do planeta, pesquisadora dos animais na reurbanização intra e extrafísica e escritora incluindo temas: Animais; Evolução; Assistência; Zooconvivialidade; Reciclagem Íntima e Reurbanizações. Acredito ser Vera uma pessoa iluminada com uma missão extraordinária de fazer com que outros humanos reconheçam o quão especial é a ligação entre nós e outras espécies. No meu entendimento, ela caminha com extrema segurança na trilha do trabalho de despertar nas pessoas a possibilidade de evolução de suas consciências. Não tenho dúvida de que é preciso ser especial para fazer uma verdadeira imersão nesse universo, visto que ainda há uma grande parte da humanidade estacionada em culturas seculares e estagnadas em equivocadas visões de vida. Esse é o meu pensamento. Me senti muito honrado em roubar um pouco do tempo da médica veterinária Vera Hajjar e usá-lo para reponder pra mim e para os meus leitores/seguidores as primeiras e básicas perguntas que surgem em nossa consciência com vontade de evoluir.

“Quanto maior equilíbrio pessoal melhor a contribuição para a evolução dos animais”

Marcos Moreno– Em que área da Medicina Veterinária concentra a sua atuação?
Vera Hajjar– Especialista em Homeopatia Veterinária e Terapia Energética. Hoje estou concentrada na escrita de artigos e livros com finalidade de esclarecimento, assistência, trazendo novas ideias em relação a convivência e interação homem-animal no contexto evolutivo.

Marcos– Ainda não é comum profissionais da área de medicina veterinária com imersão em estudos mais profundos em relação à convivência com os animais no âmbito da consciência. O que a despertou para isto?
Vera – Ao olhar para o animal, vejo muito mais do que um corpo físico ou ser vivo de estimação, pois estão em crescimento como indivíduo. Esta percepção é condição inerente ao ver todo bicho como Consciência em evolução. Ao pesquisar a relação da minha interação com outras pessoas percebo imaturidades a serem entendidas e superadas em prol da convivência mais sadia. E o meu traço observador, permitiu a expansão ao relacionar a maneira de tratar o animal com o padrão de maturidade evolutiva do ser humano.

Marcos– Existe estatística de quantas pessoas no mundo têm acesso e/ou interesse por esses estudos?
Vera– A conscientização das pessoas na ideia de o animal enquanto Consciência em evolução, ainda é pequena. Observo um crescimento significativo em termos de pesquisa científica, mais pessoas engajadas visando a melhoria do bem estar animal, aporte às necessidades básicas, emocional, respeito e a busca por lei de proteção, esse movimento contribuindo para formação de massa crítica.

Marcos– A demanda por atendimento com essa abrangência está evoluindo bem?
Vera- De certa maneira sim, muitas pessoas não aceitam mais convenções pré-estabelecidas quanto à doença, sofrimento, abandono e maus-tratos aos animais. É importante compartilhar a visão integral saindo das verdades absolutas ao trazer novas reflexões.

Família multiespécie

Marcos– A gente percebe que de um modo geral as pessoas estão considerando os animais de uma forma melhor, com mais respeito. Isto é apenas impressão ou é uma realidade?
Vera– Esta é uma percepção real envolvendo a convivência sadia. Os animais, por hipótese, têm nascido em condição evolutiva que propicia maior contato com os humanos e também vêm conquistando cada vez mais a atenção das pessoas, por sua simpatia, naturalidade e interação ativa, até existe a consideração, na psicologia, a família multiespécie, constituída por pai, mãe, filhos e pets.

Marcos– Recentemente você publicou um artigo sobre Zooconvivialidade. Pouquíssimas pessoas já ouviram falar. O que é?
Vera- Existem parâmetros para avaliar o nível de evolução da pessoa, e um deles é a Zooconvivialidade, considerando a maneira de relacionar-se, o auxilio e o respeito aos animais. Em outras palavras, diria que é a qualidade da convivência da pessoa com o animal pautada em relações positivas ou negativas. Você leitor ou leitora já disse “com licença” ou “por favor” para um bicho?

Marcos– Sei que são bastante profundos esses estudos e o contexto do blog é bem genérico e simples. Por isto a pergunta: há uma evolução dos animais além do corpo físico?
Vera– Sim. O corpo físico é o veículo que permite aprendizados na vida atual. Todas as experiências com os humanos e outros animais, permitem o desenvolvimento dos outros corpos: o corpo emocional, o corpo energético e o corpo mental, tendo a relação homem-animal papel fundamental em tal avanço. Quanto maior equilíbrio pessoal melhor a contribuição para a evolução dos animais.

Marcos- De imediato a grande maioria das pessoas vai pensar em espiritualidade ou mesmo religiosidade. Tem ligação?
Vera- O estudo que venho desenvolvendo não está ligado a dogmas ou crenças, poderia relacionar de maneira generalizada a espiritualidade, porém em padrão mental – racionalidade e lucidez.

Marcos– Sempre ouvi dizer que os animais percebem mais que os humanos a presença de espíritos, usando uma linguagem simples. O que há de verdade nesta afirmação?
Vera- A capacidade de interagir com a dimensão extrafísica (astral) nos animais, em geral, realmente é facilitada, em termos evolutivos, por terem feeling energético natural. Já as pessoas devido a seus processos emocionais (medo, incompreensão) tendem a restringir sua percepção parapsíquica, em tese inerente ao ser humano.

Marcos– Os cães têm uma evolução diferente dos outros animais? É uma espécie mais próxima da evolução do homem?
Vera- Eu admito que o desenvolvimento de características é próprio do grupo, considerando o grau de aprendizado no decorrer das vidas em concordância ao propósito evolutivo de cada espécie. De certa maneira os cães estão se aproximando mais da evolução do homem, porém não é via de regra, devido a complexidade de elementos envolvidos.

Receber Renovar Retribuir

Marcos- Você está terminando de escrever um livro. Pode falar alguma coisa sobre isto?
Vera– Neste livro, trago a ideia da evolução dos animais enquanto Consciência, além do olhar convencional, em visão científica, ao abordar outras vidas, veículos de manifestação da sua essência, a genética extrafísica e a relação aos traumas, doenças e personalidade, o ciclo de suas vidas e a influência da reeducação íntima da pessoa no avanço evolutivo dos bichos.

Marcos– Gostaria de uma mensagem sua para os seguidores do blog.
Vera- Ao observar a maneira de um animal se manifestar, podemos resgatar coisas boas que por algum motivo deixamos para trás ao longo do nosso trajeto evolutivo, por exemplo, alongar-se ao levantar, ser solidário, perceber o mundo além do físico, o ensinamento de não colocar expectativa para receber algo em troca, alegrar a vida das pessoas com o olhar, ser transparente, assim é possível tornar a vida mais leve e alegre retribuindo a magnitude da presença dos bichos em nossas vidas com afeto, lucidez e ética cósmica, o que contribui para um mundo melhor.
Trinômio: Receber! Renovar! Retribuir!

Sérgio Meccheri Di Vito

Abençoados Resgates

O uberabense Sérgio Meccheri Di Vito é formado em Zootecnia pela FAZU e em Medicina Veterinária pela UNIUBE. É ele o responsável técnico da ONG SUPRA. Também é veterinário voluntário na Secretaria do Bem Estar Animal. Com esses trabalhos que preenchem todo o seu tempo, acumula histórias incontáveis, muitas com um final feliz. Mas as histórias sempre começam com um resgate ou um socorro e, naturalmente por isto, sempre com um triste começo. Isto sobrecarrega o lado emocional desse profissional dedicado. “É impossível não se emocionar”, ele diz. A gratidão e a pureza que os animais refletem no olhar é genuína e dá perfeitamente para nós humanos, entendermos. Muito mais, dá para sentirmos. O trabalho do Sérgio não tem hora para começar nem para terminar. Não tem final de semana ou feriado, afinal, não se escolhe dia e hora para ser abandonado ou acidentado, e muito menos para ser socorrido. Obrigado pela entrevista!

“A demanda por socorro é muito grande”

Marcos Moreno- Como surgiu a Medicina Veterinária na sua vida?
Sérgio Meccheri Di Vito- A Medicina Veterinária foi um sonho que tive desde de criança e que consegui realizar. E hoje, em gratidão a Deus que me concedeu esse mérito, tento ajudar o maior número de vidas.


Marcos- Você sempre quis trabalhar como médico veterinário em Uberaba ou já pensou em trabalhar em outro lugar?
Sérgio- Na verdade gostaria de trabalhar fora , adquirir novas técnicas, novos conhecimentos. Mas o momento está sendo aqui . Quem sabe no futuro tenha algo de bom reservado fora de Uberaba.


Marcos- Você hoje trabalha com a vereadora Denise Max. Imagino que este trabalho te coloca frente a situações de extremo abandono com suas terríveis consequências. Dá pra falar em uma média de demanda por dia? Sérgio – A vereadora Denise é um caso à parte. Sinto muita honra em trabalhar com ela . Aliás nossa amizade é antiga , muito antes dela se tornar uma parlamentar. Uma pioneira na luta pela causa animal . Ela semeou a paixão pelos animais. E isso gerou frutos. Hoje temos inúmeras pessoas engajada na causa animal. Temos muitas histórias. Nem sempre com final feliz , mas também muitas com sucessos.
A demanda por socorro é muito grande. Pra se ter ideia, são de seis a oito ocorrências em média por dia que vai desde de abandono, maus tratos, espancamento e atropelamento a cães amarrados debaixo de sol, chuva, privados de água e comida, etc.

Marcos- Dentro da Medicina Veterinária, qual seria a especialização do seu trabalho?
Sérgio– Hoje em qualquer área profissional, o mercado exige uma especialização. No meu caso, eu sempre gostei da clínica. Uma coisa que sempre digo é que a clínica é soberana . Seja ela na medicina humana ou animal é ela quem vai nortear o tipo de exames, tratamentos a ser feito, etc. Quando era universitário, lembro de um professor meu que me disse que estava muito feliz por eu me tornar um bom clínico. Nunca esqueci do conselho que me deu de que eu estava no caminho certo. Sou muito grato a ele e a todos os meus mestres de faculdade. Fui uma pessoa agraciada por ter grandes mestres . Muito orgulho deles . Mesmo depois de formado, tenho amizade com todos.

Marcos- Você se emociona com o sofrimento dos animais ainda ou já se tornou mais frio pelo fato disto fazer parte do seu cotidiano?
Sérgio- Não tem como não se emocionar. São vidas. A gratidão que eles têm é algo que não tem palavras aqui pra expressar. Peço muito a Deus que não deixe eu me tornar uma pessoa fria, porque é a partir dessa frieza, que vem a ganância, a indiferença e se esquece o juramento que se faz .

Marcos– Você e o Raphael Muchiutti, (que já foi meu entrevistado) já me ajudaram muito com o meu cachorro. Esse trabalho é totalmente voluntário?
Sérgio- Antes de responder a pergunta, faço uma ressalva, parabenizando você pelo amor e zelo que teve com o Chien. Fui testemunha o quanto você amou e lutou por ele. O Raphael é um amigo de longa data que ajuda muito a causa animal. Estamos fazendo um trabalho totalmente voluntário , não medindo esforços.


Marcos- O que aconteceu exatamente com os cães em Peirópolis?
Sérgio- Em Peirópolis, houve um caso de envenenamento de cães, cujo caso está nas mãos da justiça e da polícia. Quero aproveitar e deixar meus agradecimentos à polícia militar, à polícia ambiental, e ao Corpo de Bombeiros que são verdadeiros parceiros . Minha gratidão aos comandantes das corporações.


Marcos- Qual foi o resgate mais difícil (ou os mais difíceis) pra você?
Sérgio– Na verdade todos tem um grau de dificuldade. Mas o mais difícil mesmo é deparar com a maldade, com a ignorância de pessoas inescrupulosas . Isso é muito cansativo e tenso.

Marcos- Você tem pets?
Sérgio– Sim, tenho 4. Todas vieram de resgates


Marcos- Gostaria que você deixasse uma mensagem para os seguidores do blog, por favor.
Sérgio– Bom, se é seguidor do blog é porque são pessoas do bem.
A mensagem que deixo é para se unirem cada vez mais para combater essas atrocidades que esses animais sofrem. Sejam a voz deles .

Denise Stéfani Max


Mão na Massa

Uberabense de nascimento, Denise da SUPRA, como é mais conhecida, morou em São Paulo por algum tempo. Trabalhou como corretora de imóveis e chegou a começar um curso de odontologia. Mas sua atenção sempre voltada aos animais venceu, até porque, esse cuidado exige tempo. Sim, Denise nunca enxergou um animal doméstico como se ele fosse uma “coisa” para se deixar “lá fora”. Sempre teve a consciência das necessidades físicas e emocionais deles. E por isto não ficou na contemplação da vida deles, lamentando as tristezas e enaltecendo a “belezura” dos bichinhos. Colocou a mão na massa. Partiu pra briga em defesa dos abandonados, maltratados, sofridos por todas os tipos de intempéries e crueldade. De São Paulo, onde morava, trouxe muitos para Uberaba e chegou a pensar que por aqui não encontraria abandono. Estava enganada. Aqui começou sua verdadeira luta e por seu trabalho tornou-se um símbolo do que é a Proteção Animal. Muitas vezes polêmica, Denise sabe que “estar bem na foto” nem sempre significa que os animais também estarão. E é realmente por eles o seu trabalho. Foi presidente da SUPRA, Organização Não Governamental (ONG) em Uberaba-MG que atualmente abriga quase mil animais e hoje é vereadora. É impressionante o carinho genuíno que ela consegue ter por todos. Inacreditável? Vai lá ver. E ajudar, principalmente, porque ajuda para um trabalho desses sempre é bem recebida.

“Talvez o que tenha feito as pessoas despertarem pra esse tipo de trabalho (Causa Animal) tenha sido a minha perseverança na defesa dos direitos dos animais…”

Marcos Moreno– Denise, você foi a primeira pessoa a ficar conhecida em Uberaba como protetora de animais. Quando começou esse trabalho você já pensava em uma ONG?
Denise Stéfani Max– Marcos, acho que fiquei conhecida em Uberaba após participar de inúmeros programas de rádio como por exemplo o do radialista Moura Miranda- 7 Colinas. Nesses programas cobrava das autoridades e esclarecia a população sobre duas coisas primordiais: primeiro, controle populacional de animais através da castração em massa e combater o abandono. Uma outra coisa que acredito que tenha contribuído para que eu ficasse conhecida eram as feirinhas de adoção que sempre fazia e faço ainda na Praça Santa Rita e é claro, as inúmeras denúncias feitas por mim ao canil do Centro de Controle de Zoonoses e as atrocidades cometidas aos animais, após, serem capturados pela “carrocinha”. Outro fato também que pode ter contribuído para que eu ficasse conhecida, foram os resgates de animais doentes que viviam perambulando pelas ruas de Uberaba. Eu não conseguia acreditar que a minha cidade que tanto eu amava, não cuidava dos animais em situação de abandono. Isso, me chocou muito após ter voltado para Uberaba, depois de ter morado por anos em São Paulo.
Em São Paulo, eu já participava de um ONG de proteção animal e quando voltei para Uberaba não tinha a pretensão fazer parte de nenhuma ONG, pois o meu único objetivo daquela época era regatar, cuidar e salvar o maior número de animais abandonados e doentes. Prova disso, foi que trouxe comigo de São Paulo 50 animais recolhidos das ruas. A viagem foi longa e cansativa, pois tínhamos que fazer várias paradas e verificar se os animais estavam bem. No carro comigo, vinham os cães menores e no caminhão os maiores. Chegando a Uberaba fomos para uma chácara, perfeita para os cães.
Ao chegar aqui, criei uma expectativa enorme sobre a causa animal em Uberaba. Acreditava que na minha cidade natal não haviam animais abandonados. Mas, andando pelas ruas, percebi que os uberabenses também maltratavam e abandonavam seus animais. Só para esclarecer a Associação Uberabense de Proteção aos Animais foi fundada em 06 de setembro de 1996 e eu não fazia parte da diretoria da SUPRA. Inclusive quando retornei para Uberaba, a ONG estava inativa e só passei a fazer parte da SUPRA tempos depois, após, reativá-la. Mas, não era minha pretensão no primeiro momento ser presidente de uma ONG.

Marcos – Antes de você, naturalmente existiam pessoas que faziam algo parecido. Mas foi você que despertou muita gente para esse trabalho. Poderíamos classificar esse trabalho como se fizesse parte do terceiro setor?
Denise- Claro que antes de mim existiam várias pessoas que cuidavam de animais em situação de abandono, mas, não era tão divulgado como atualmente.
Talvez o que tenha feito as pessoas despertarem pra esse tipo de trabalho (Causa Animal) tenha sido a minha perseverança na defesa dos direitos dos animais e em cobrar das autoridades mais seriedade no quesito, políticas públicas de proteção animal.
É muito gratificante verificar que o meu amor pelos animais tenha despertado nas pessoas, o espirito de solidariedade e paixão pelos nossos irmãozinhos não humanos.
Sobre se o nosso trabalho como protetores fazer parte do terceiro setor, posso afirmar que, sim. Pois, todas as organizações privadas sem fins lucrativos prestadoras de serviços públicos (popularmente chamadas de ONG’s), fazem parte do terceiro setor. Além do mais somos uma empresa que temos muitas obrigações como qualquer outra e sem nenhuma isenção, o que dificulta ainda mais nossas despesas. Desse modo, podemos afirmar por exemplo que, a SUPRA faz parte do terceiro setor sim, pois enquadramos plenamente nesse setor. Isso porque, a Supra e tantas outras ONGs voltadas para pet são organizações privadas, não governamentais e sem o objetivo de lucro.
Vale ressaltar que, fazer parte do terceiro setor não é considerado menos importante. Embora o termo “terceiro setor” seja o mais utilizado no Brasil, é importante afirmar que essa divisão pode transmitir uma ideia equivocada, a de que o primeiro setor teria mais importância que o segundo, e o segundo mais do que o terceiro.

Marcos- Uma ONG destinada à proteção animal, como a SUPRA, tem que ter um quadro de funcionários fixos e remunerados para manter o funcionamento. Quantos profissionais tem a SUPRA?
Denise– Fui presidente voluntária da SUPRA até início de outubro de 2013. Quando assumi a vereança outubro de 2013, deixei a presidência voluntária, mas, não como voluntária, prova disso é que continuo a morar na SUPRA.
Como voluntária, uso 80% do meu salário como vereadora, para ajudar a pagar as despesas da ONG. A ONG não tem funcionário fixo, pois os encargos trabalhistas são caríssimos. Os Voluntários que temos são pouquíssimos, mas compromissados com a causa. Dentre os voluntários assíduos temos, dois veterinários que nos dão suporte para os animais debilitados e os que ficam doentes.
A ONG conta ainda com 2 diaristas para os finais de semana e um para a noite que vem duas vezes na semana para ajudar a cuidar dos Suprinhas. Pois é humanamente impossível ficar a noite sozinha cuidando de mais 900 animais. Nas outras noites tenho tido ajuda de voluntários para pernoitar já que na minha idade e para a minha própria segurança não posso dar ao luxo de ficar mais sozinha, durante a noite.
Um outro motivo por não conseguir pagar funcionário e devido aos gastos com clinicas veterinárias, medicamentos de uso contínuos para os animais doentinhos e também pelo alto preço das rações. Só este ano o saco de ração aumentou 3 vezes e a prefeitura não repassou ainda essa diferença para a ONG. Então, como a SUPRA não vai prejudicar os animais, está pagando essa diferença até que o poder público ajuste o repasse para a ONG. Outra despesa que a Supra tem, mensalmente e que vem aumento muito é com alimentação dos animais em situação de rua. Pois a cada dia aparece mais cães e gatos nos locais onde coloco ração e água.

Marcos- Quando você começou a carreira política?
Denise– Marcos, antes de 2012 (eleições gestão de 2013 a 2016) muitos partidos tinham me convidado para ser candidata, mas, nunca me interessei. Mas, em 2012 o meu grande amigo Eduardo Ferro que na época era presidente do PR (Partido da República) convenceu-me a ser candidata a vereadora. Sendo assim, comecei a minha carreira política em 2013 quando assumi a vereança onde estou até a presente data e se Deus quiser continuei se for eleita, até 2024.

Marcos- Você acaba causando muita polêmica com o seu trabalho e pelo fato de ter se elegido vereadora por causa dele. Estava preparada para enfrentar isto?
Denise- A única coisa que não estou preparada e nunca estarei são as injustiças. Preparada psicologicamente nenhuma pessoa está, mas, nós protetores e ambientalistas temos que nos controlar para não prejudicar o nosso trabalho que é muito desgastante. As vezes causo polêmica quando cobro do poder público os direitos dos animais. Isso eu não meço esforço, e se preciso vou até as últimas consequências para defender os pets. Doe a quem doer!

Marcos- Desde que começou essa pandemia de coronavírus você tem andado pelas ruas tentando acudir os animais abandonados. Qual é a realidade deles nesse momento?
Denise- A situação dos animais durante esse período de pandemia está sendo muito triste a desgastante para todos nós protetores, pois muitas famílias estão abandonando seus pets por falta de condições financeiras ou porque estão voltando, para suas cidades de origens porque perderam o emprego. Os locais onde coloco comida na rua, o número de abandonados aumentou muito o que tem onerado os gastos da ONG. O que estou fazendo é resgatar as cadelas no cio, castrando-as e doando na medida do possível.
As cadelas prenhas e paridas também na medida do possível vão para lares temporários e assim que os filhotes estejam mais fortes e vermifugados vão para adoção e a mãe castrada.
Mas, realmente está muito complicado, principalmente porque faço parte do grupo de risco e mesmo assim, procuro acompanhar de perto e ir nos lugares onde a situação é mais complicada porque estão em locais de difícil acesso e no meio do nada.

Marcos- Tenho ouvido você dizer em suas lives sobre sua preocupação com sua idade e por isto pedindo às pessoas mais consciência. Você ainda vai longe com seu trabalho, se Deus quiser, mas tem alguém que a possa substituir caso você precise se afastar para cuidar de você?
Denise- Marcos, ninguém é insubstituível, mas peço muito a Deus que ele me dê muita saúde pra continuar nessa minha missão que não é fácil. Sou do grupo de risco e sei que será muito complicado para mim se eu for contaminada pelo Covid. Todos os dias, eu agradeço a Deus por mais um dia de vida, pois, tenho muitos animais que precisam ainda de mim.
Mas se acontecer alguma coisa comigo e precisar de me afastar, sei que os Suprinhas não ficarão desamparados.

Marcos-Para as pessoas que se envolvem nesse tipo de trabalho, é muito difícil separar a paixão da razão?
Denise– Realmente para muitos protetores é quase impossível separar paixão e razão. Pois, para um protetor é muito difícil ignorar um animal em sofrimento e não o resgatar. Então, somos mais paixão do que a razão. Só que, essa paixão, muitas vezes foge do nosso controle e quando percebemos estamos com muitos de animais. Mas tentamos também ter razão, principalmente quando se trata dos direitos dos animais.

Marcos– Você acredita que essa pandemia vai mudar valores de consciência dos humanos em relação aos animais?
Denise- Eu pensei que a pandemia fosse transformar o homem em um ser mais humano e menos (des)humano. Mas infelizmente, percebi que muitas pessoas se tornaram menos sensíveis com relação aos animais, pois o número de animais abandonados cresceu consideravelmente nessa pandemia e olha que não foi só por problemas financeiros.

Marcos- Quer deixar um recado para os seguidores do blog?
Denise- “A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem” – Arthur Schopenhauer. Essa frase é uma das mais verdadeira que tenho conhecimento. Pois, conhecemos uma pessoa quando ela respeita e ama os animais. Desse modo, posso pedir a todos os humanos que respeitem, amem e tenha compaixão pelos nossos irmãozinhos não humanos que estão em situação de rua porque alguém os colocou nessa situação. Eles não são de rua.
Não gosto de dar conselho e nem tão pouco recado para os meus seguidores, porque gosto de mostrar as minhas ações, aquilo que faço com muito amor e paixão.


Lúcio Flávio S. da Silva

A vida nas mãos!

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Natural de Igarapva- SP, Lúcio Flávio se formou em Medicina Veterinária na cidade de Uberaba-MG e por aqui ficou, onde tem construído uma carreira sólida com competência, adquirindo cada vez mais conhecimento nos Seminários que está sempre participando, cursos específicos e, especialmente na prática desse trabalho que exige, além de tudo isto, muito amor aos animais. Sim, porque acredito que uma pessoa que não tenha empatia pelos animais, também não os possa ajudar. Hoje, 9 de setembro, celebra-se o Dia do Médico Veterinário. Antes mesmo de se formar, Lúcio já participava de trabalhos voluntários em ONGs de proteção animal. Sua dedicação pelos bichos levou a Câmara Municipal de Uberaba a conceder-lhe o título de Cidadão Uberabense. Certamente é um orgulho para Uberaba ter um profissional desse nível somando muito ao trabalho oferecido por aqui no segmento de saúde animal. Hoje, Lúcio Flávio dirige sua clínica a VetCenter com dedicação, legitimidade e sobretudo compaixão pelos  que chegam até lá no colo de seus assustados tutores em busca de alívio para os  problemas de saúde dos seus amados animais. Por todo esse trabalho o Moreno Pet Blog cumprimenta os profissionais dessa área na pessoa do dr. Lúcio Flávio pelo dia do Médico Veterinário. Parabéns e obrigado!

 

“…não podemos esquecer que estamos lidando com uma vida, e com a confiança daqueles que o amam”

 

Marcos Moreno- Há quanto tempo você exerce a profissão de médico veterinário?
Lúcio Flávio S. da Silva–  Há aproximadamente 8 anos.

Marcos– Cresceu muito o número de profissionais desse segmento. Isso e um fenômeno notadamente regional, em função da faculdade, ou acontece em todos os lugares?
Lúcio-  Devido a diversos fatores sociais e econômicos o número de pets cresceu e também a sua importância como mais um membro da família e não um mero bichinho de estimação. Com isso houve uma crescente conscientização quanto aos cuidados e que estes estão diretamente ligados a saúde humana, não somente relacionados ao bem-estar, mas também no controle de doenças classificadas como zoonoses. Essas combinações de fatores resultaram num aumento da demanda por profissionais devidamente graduados e especializados dentro da medicina veterinária por todo o país.

Marcos- Também cresceram as especializações, o que até há bem pouco tempo não existiam muito nesta profissão. A tendência e de uma curva crescente neste aspecto?
Lúcio- Atualmente de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Pet Brasil através do IBGE, verificou-se que o setor pet cresce em torno de 13% ao ano, e com isso a atuação do profissional tem se diversificado cada dia mais. A importância que os pets estão conquistando dentro das famílias faz com que a busca por tratamentos, atendimentos, alimentos, medicamentos entre outras coisas sejam mais específicos o que torna as especializações e os seus campos de atuações cada vez mais procurados e valorizados.

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Marcos- Os animais domésticos mais comuns como pets – cães e gatos – podem desenvolver as mesmas doenças que os humanos?
Lúcio-  Sim. Temos as doenças especificas de cada espécie e raça, as doenças classificadas como zoonoses (que são as transmitidas pelos animais aos humanos), mas também temos o acometimento de doenças comuns a nós, como, problemas cardíacos, hormonais entre muitos outros.

Marcos- A indústria mudou a alimentação dos animais criando as rações que a cada dia são mais especificas. Os problemas da saúde dos animais mudaram em função disto?
Lúcio- A oferta de uma nutrição completa e balanceada trouxe muitos benefícios a saúde animal, além de uma enorme variedade de marcas e valores, contamos também com as especificidades como filhote, adulto, idoso, tipos de raças, porte do animal, além das rações clinicas para animais que possuem determinados tipos de doenças como diabetes, cardiopatias, etc. Ao fornecer uma alimentação adequada o tutor prove um aumento da qualidade e expectativa de vida do seu pet.

Marcos- No aspecto emocional os animais também começaram a receber mais atenção. Isto tem influência na saúde deles?
Lúcio- Com certeza, a saúde emocional está diretamente ligada a este fator, o excesso ou ausência de atenção podem resultar em distúrbios como ansiedade, estresse, comportamentos inadequados, podendo chegar no caso de ocorrer autoferimento e até mesmo depressão.

Marcos-Existem muitas teorias em relação a castração de cães e gatos para evitar ou não doenças futuras. Por exemplo a necessidade da fêmea ter pelo menos uma cria para não ter câncer. O que há de cientifico e o que há de popular nestas afirmações?
Lúcio- Há uma grande confusão no que toca a este assunto, muitas vezes usamos valores morais humanos e aplicamos aos pets na tentativa de justificar certas decisões. Não haverá frustração no macho por ser castrado e não cruzar, e nem falta de realização de uma fêmea por não ser mãe. Esses comportamentos nos animais ocorrem devido ao instinto biológico e não pela razão ou para corresponder expectativas. A castração em si traz inúmeros benefícios, a exemplo temos a prevenção de alguns tipos de câncer, evitar de a fêmea desenvolver uma infecção uterina (piometra), doenças da próstata, do macho ficar estressado por perceber cadelas no cio que leva a brigas por território, além do controle de natalidade que é de extrema urgência e importância já que lidamos com uma superpopulação de animais de ruas cada dia mais crescente.

Marcos- Que cuidados essenciais não existiam em relação aos animais domésticos há duas ou três décadas?
Lúcio-  Apesar da descoberta das vacinas serem anteriores a este período a prática da vacinação periódica é recente além das campanhas de conscientização e até mesmo a obrigatoriedade de determinadas vacinas. A vermifugação, cuidados odontológicos, alimentação adequada, alimentação natural e o acompanhamento veterinário são alguns dos cuidados essenciais mais atuais.

Marcos-Quando a eutanásia é um ato de amor?
Lúcio- A eutanásia de acordo com código de ética do veterinário é definida pela “indução da cessação da vida, por meio de método tecnicamente aceitável e cientificamente comprovado, realizado, assistido e/ou supervisionado por médico veterinário, para garantir uma morte sem dor e sofrimento ao animal”. Apesar de ser um assunto que resulta em discussões acaloradas, e dificilmente chega a um consenso, devemos ter em vista a dignidade até mesmo no ato da cessação da vida, já que a definição de amor é algo tão amplo e complexo.

Marcos- Na medicina humana o célebre Juramento a Hipócrates “sela” simbolicamente o compromisso profissional. Há algum paralelo na medicina veterinária?
Lúcio- Os principais preceitos que regem esses dois juramentos são pautados em bases comuns, na utilização da ciência com ética, respeito, visando a cura para o benefício do homem, mantendo o sigilo profissional em ambos os casos.

Marcos- Ainda a muita coisa para evoluir na medicina veterinária?
Lúcio- Assim como a medicina humana que se aprimora constantemente a veterinária não é diferente, com o surgimento de novas doenças, surgem novos tratamentos e meios de diagnósticos. Então estaremos sempre em busca do aperfeiçoamento.

Marcos- Que mensagem você deixaria para quem quer seguir essa profissão?
Lúcio- Como em qualquer profissão precisa amar e respeitar o que faz. Pois não podemos esquecer que estamos lidando com uma vida, e com a confiança daqueles que o amam.

 

Felipe Ribeiro Zabin

Pelos direitos dos animais

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Graduado em direito pela Universidade de Uberaba – UNIUBE, especialista em direito processual civil pela Escola Superior Dom Helder Camara – ESDHC e especialista em direito do trabalho pela Escola Superior de Advocacia – ESA, dr. Felipe Ribeiro Zabin tem uma atuação destacada na 14ª Subseção da OAB Uberaba/MG. Atualmente é presidente das Comissões de “Estágio e Exame de Ordem” e “Direito dos Animais” e por isto o Moreno Pet Blog foi procurá-lo para saber sobre a abrangência dessa última  Comissão. A surpresa boa foi saber que ele tem 7 cães adotados e um grande carinho por todos eles. Toda a comunidade (cada vez maior, felizmente) que ama bichos se sente confortada ao saber que um trabalho tão importante como o da Comissão de Direito dos Animais é presidido por uma pessoa que, além de conhecimento e competência profissionais, tem por eles tanta generosidade. O mundo precisa de corações gigantes e mentes brilhantes!

 

“A legislação brasileira está longe de pacificar o tema, mas o reconhecimento de que os animais não são mais considerados bens moveis para a Lei 10.402/02 é uma vitória…”

 

Marcos Moreno – Comissão de Direito dos Animais da OAB de Uberaba. É correto falar assim? Essa especificidade (se assim posso dizer) sempre existiu?
Dr. Felipe Ribeiro Zabin – O direito dos animais era, inicialmente, um apêndice da “Comissão de Direito Ambiental”, mas dada a importância e a visibilidade que o tema do direito dos animais tem atraído entendeu-se por individualizar esse cuidado pela criação da “Comissão de Direito dos Animais”. Não existe uma ata com a instituição da comissão, mas tem conhecimento de sua existência desde 2015. Parte do meu trabalho como presidente dessa comissão é, inclusive, passar a documentar os atos e as medidas tomadas para que, independentemente da gestão administrativa, possa ser dada continuidade às medidas que forem efetivas e/ou se mostrarem viáveis.

Marcos– Como é composta a Comissão? Há uma eleição interna na OAB para o cargo de presidente da Comissão?
Dr. Felipe – Todas as comissões da 14ª OAB de Uberaba/MG são compostas, obrigatoriamente, por advogados e advogadas e os “cargos” diretivos são indicações da diretoria e do conselho. E, por isso, é importante ressaltar que não há remuneração, ou seja, todo o trabalho é voluntário, o que não isenta aqueles que estejam na comissão de atuarem de maneira jurídica e técnica, pois vem da comissão a assessoria e a consultoria que orientará a diretoria da OAB local no que tange as políticas ou posicionamentos frente às políticas de direito dos animais.

Marcos- Ser particularmente simpatizante à causa animal influencia na gestão do presidente desse cargo?
Dr. Felipe – Quando a diretoria da 14ª OAB de Uberaba/MG me convidou para ocupar o cargo eles tinham consciência de que eu sempre tive carinho pela causa animal. Desde o início fiz questão de alertar que não sou adepto/simpatizante de polarizações ou radicalismos e, como todo e qualquer advogado, tento conciliar os interesses das políticas públicas com a vontade dos tutores/proprietários dos animais. Mas toda e qualquer defesa, política ou posicionamento, que parta de mim, primariamente tenderá a privilegiar a dignidade e respeito aos animais.

Marcos- O que compete à Comissão de Direito dos Animais? /
Dr. Felipe-  Compete à “Comissão de Direito dos Animais”, primariamente, assessorar e prestar consultoria a Diretoria da 14ª Subseção da OAB de Uberaba/MG no que tange aos direitos dos animais, bem como orientar a sociedade quanto aos direitos e deveres para com os animais. Em caráter secundário, cabe à comissão divulgar e fiscalizar a legislação de proteção animal, bem como atuar de maneira a auxiliar entidades públicas ou particulares (com ou sem fins lucrativos) a atingirem o lógico fim de proteger e resguardar o direito dos animais.

Marcos- Qual o volume de demandas à OAB Uberaba em relação à questão animal?
Dr. Felipe- Quando começamos os trabalhos da Comissão em 2019 tínhamos pretensões grandiosas, mas observamos que sem a estruturação e organização da interna não conseguiríamos fazer um trabalho efetivo. Uberaba/MG, felizmente, possui entidades/órgãos públicos e particulares (com ou sem fins lucrativos) muito atuantes e, pelo caráter técnico que possuímos, não podemos nos limitar a uma atuação superficial. Atualmente temos nos limitado a uma atuação consultiva (passiva e responsiva), mas a minha intenção é entregar a comissão estruturada para que eu ou o próximo presidente consiga atuar ativamente, inclusive, na elaboração de projetos de lei e na fiscalização das medidas administrativas e judiciais.

 

Marcos- Em caso de denúncia de maus tratos, quais são os passos para que um cidadão que não esteja representado por alguma entidade, tenha sucesso?
Dr. Felipe- Atualmente é possível fazer a denúncia de maus tratos, buscar a polícia, a secretaria municipal do meio ambiente (por intermédio da superintendência do bem estar animal) e/ou a promotoria de justiça e meio ambiente. Essa denúncia pode ser feita por diversos canais, desde contato telefônico, e-mail, rede social ou mesmo presencial. É importante ressaltar que o denunciante deve se municiar de provas (áudios, fotos, vídeos e testemunhas), pois quanto maior o acervo mais efetivo é a atuação administrativa ou judicial. A 14ª OAB de Uberaba/MG, por intermédio de sua Comissão de Direito dos Animais, se coloca à disposição de qualquer cidadão para esclarecer e dar suporte jurídico mínimo a qualquer denunciante que busque esclarecimentos sobre a causa e os direitos animais e, se for o caso, acompanhar a demanda até a sua resolução.

Marcos- Ainda são pequenas as penas por crimes cometidos contra os animais?
Dr. Felipe – Sim, as penas são “pequenas”, pois em alguns casos elas se restringem à perda da guarda/tutela do animal e multa, enquanto a detenção prevista em lei é, muitas vezes, desconsiderada. Sou favorável ao “endurecimento” da legislação para que gere no cidadão o medo de maltratar os animais, mas ao mesmo tempo temos que conscientizar a população de que os animais são seres sencientes e como tais merecem cuidado, dignidade e respeito.

Marcos- O que há de concreto na lei sobre a proibição ou não de rodeios, vaquejadas, rinhas e outras práticas consideradas culturais e/ou esportiva que implicam em sofrimento dos animais?
Dr. Felipe – Objetivamente, o STF já se posicionou contrariamente à prática da vaquejada, mas os rodeios eram “permitidos”, pois “limitados” e regulamentados por legislação federal. Em meados de 2019 fora aprovada a Lei 13.873/19 que entende que o laço, rodeio e a vaquejada seriam práticas culturais e esportivas. Ou seja, essas práticas estão “permitidas”, mas ainda estão pendentes de aprovação de regulamentação especifica que contemple e assegurem a proteção e o bem-estar dos animais. A rinha, por sua vez, é, mesmo que indiretamente, proibida pelo Art. 32, da Lei nº 9.605/98. Mas existe um projeto de lei em votação para tipificar a “rinha” e determinar punição específica (PL 6.600/19).

Marcos- E quanto a práticas religiosas?
Dr. Felipe– Algumas religiões de matrizes africanas contemplam o sacrifício animal e o STF decidiu no RE 494.601 que tal prática ritualística é permitida, pois diz respeito à liberdade religiosa que é garantida constitucionalmente. Diferentemente das situações de “entretenimento” o sacrifício animal é a sacralização ritualística do animal que é, geralmente, consumido, após a cerimônia, por aqueles que profetizam aquela fé. Sem prejuízo de apuração de maus tratos caso exista provas.

Marcos- Em que situação pessoas que mantêm animais silvestres mantidos em cativeiro, como araras, papagaios e pássaros, são passíveis de denúncia e consequentemente penalizadas ou não?
Dr. Felipe – O Art. 29, da Lei 9.605/98 determina que quem mata, persegue, caça, apanha ou utiliza de espécies da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, sem a devida permissão, autorização ou licença da autoridade competente, ou em desacordo com o documento obtido, incorre em crime ambiental. Ou seja, ao manter em cativeiro tanto animais silvestres quanto nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, concedida pelo IBAMA, implica na prática de crime ambiental. Respondendo objetivamente, todo tutor/proprietário de animal silvestre sem permissão ou comprovação de origem é passível de denúncia e penalização. Em Uberaba/MG, especificamente, já houve decisões isentando o tutor/proprietário de boa-fé da pena, mas os juízes analisarão caso a caso.

Marcos- Em relação a animais selvagens, todos os tipos de caça estão proibidos ou existe uma “licença para matar” algumas espécies?
Dr. Felipe– A regra geral é de que a caça é proibida no Brasil (com exceção da caça de subsistência e científica), mas existem algumas exceções que devem ser apuradas e permitidas diretamente junto ao IBAMA. Do mesmo modo, a pesca amadora ou esportiva também é regulamentada e para algumas modalidades é necessária autorização/permissão estatal.

Marcos- Um crime em relação a um animal está diretamente e sempre relacionado ao caráter de quem o pratica? Isto é uma questão de opinião ou há lei interpretada dessa maneira?
Dr. Felipe – Essa é uma questão complexa, pois possui várias camadas. O indivíduo que agride/maltrata um animal não tem empatia com a outra vida seja por não o reconhecer como senciente seja por entender que é o seu direito “natural” de fazê-lo (por incrível que pareça tem muita gente que pensa assim). Até quando o agressor é produto do meio e até quando é pura falha de caráter? O certo é que qualquer abuso, maus-tratos, ferimento ou mutilação a animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos deve ser coibido e punido. A dosimetria e a extensão da pena deve passar pela análise do grau de consciência e instrução do agressor, mas de maneira alguma deve haver isenção para aquele que maltrata um animal.

 

Marcos- A ciência já provou e comprovou que os animais são seres sencientes. Ciência e Direito caminham juntos no reconhecimento aos Direitos dos Animais?
Dr. Felipe– No Brasil já temos o entendimento jurídico de que os animais tem natureza “sui generis”, como sujeitos de direitos despersonificados. Ou seja, reconhecidos como sencientes (dotados de natureza biológica e emocional e passiveis de sofrimento). A legislação brasileira está longe de pacificar o tema, mas o reconhecimento de que os animais não são mais considerados bens moveis para a Lei 10.402/02 é uma vitória, pois facilita a defesa dos mesmos contra os maus tratos.WhatsApp Image 2020-08-25 at 13.45.58 (002)Marcos- Particularmente, você gosta de animais domésticos? Tem algum?

Dr. Felipe- Eu atualmente divido minha casa com 07 cães (Presunto, Bila, Tico, Ian, Brenda, Catifunda e Meliante) todos são adotados (alguns foram resgatados bem doentinhos) cada qual com suas manias e modos únicos de demonstrarem carinho. Uns são mais carentes, outros mais independentes e todos de algum modo territorialistas e, por este último motivo, que não tenho gatos, muito embora aqui em casa façamos questão de colocar ração, todos os dias, para os gatos de rua. Não consigo me imaginar numa casa sem nenhum bichinho, quem me conhece sabe que não receberá mensagem de áudio ou ligação sem que exista um latido no fundo.

Monique Mosca Gonçalves

  Senciência e dignidade !

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Promotora de Justiça do Estado de Minas Gerais, atualmente exercendo as funções na 1ª Promotoria de Justiça de Uberaba, ex-membro do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, Mestre em Ciências Jurídico-Ambientais pela Universidade de Lisboa e pós-graduada em Direito Penal pela Universidade Anhanguera/UNIDERP, Monique Mosca Gonçalves também é professora de cursos preparatórios para carreiras jurídicas e autora da obra DANO ANIMAL, recentemente lançada pela editora Lumen Juris (2020). Seu trabalho no que diz respeito à proteção animal tem sido motivo de comemoração e de esperança para protetores da causa, como também colocado a cidade de Uberaba-MG rumo a um importantíssimo pódio de premiação pelo exemplo de cuidado e respeito por esses seres sencientes que, assim como os humanos, se encontram em um contexto planetário jamais experimentado. A segurança que o conhecimento e a dedicação são capazes de trazer a uma pessoa são inequívocos em cada palavra de suas respostas à entrevista gentilmente concedida ao Moreno Pet Blog. Dra. Monique Mosca Gonçalves faz  a gente acreditar que sim, podemos viver em um mundo melhor.

 

“As ações humanas destrutivas do meio ambiente e cruel para com os animais, cedo ou tarde, produzem efeitos perversos contra a própria espécie humana. O novo coronavírus é um claro exemplo disso”

 

Marcos Moreno– Tem sido motivo de muita satisfação, especialmente entre as pessoas que gostam muito de animais, o trabalho realizado pela Promotoria de Justiça através de você no que diz respeito à proteção animal. O quão importante é o trabalho com animais na questão ambiental, que é tão abrangente?
Dra. Monique Mosca Gonçalves – O tema da proteção dos animais ganhou muita visibilidade nos últimos anos, o que representa uma evolução moral e civilizacional da sociedade contemporânea, fruto do despertar para a condição senciente dos animais e a consequente noção de dignidade. Para nós, seres humanos, o reconhecimento desta condição exige a observância de um dever de respeito e de proteção, especialmente considerando a natureza vulnerável dos animais, que não têm voz para postular e defender seus interesses mais básicos. Essa mudança de concepção alterou a visão ambientalista anteriormente predominante, cujo foco era destinado à proteção das espécies e do equilíbrio ecológico, com uma proteção indireta aos animais. Agora, os animais são considerados na sua individualidade, na sua condição de seres capazes de sentir dor, fome, frio, alegria, afeto, etc. etc., e essa condição torna necessária uma proteção essencialmente individual, voltada para os seus interesses fundamentais, como vida e integridade psicofísica.

Marcos- Tenho evidenciado no trabalho que faço em algumas mídias, como essa, por exemplo, os avanços de ações pela causa animal em Uberaba. Qual é a participação e/ou envolvimento da Promotoria com essas ações.
Dra. Monique– O Ministério Público tem papel fundamental na proteção dos animais, uma vez que se trata do principal órgão incumbido pela Constituição da defesa dos interesses coletivos e difusos, como a questão ambiental. Em razão desta vocação, é que o Ministério Público tem buscado atuar em Uberaba, em esforço contínuo e cooperativo com o setor público e privado, para a implementação de políticas públicas em prol dos animais.

 

Marcos- Como pode ser feito um controle populacional de animais de rua?
Dra. Monique- A questão do controle populacional de animais de rua é um tema de fundamental importância no Município de Uberaba, em razão do enorme quantitativo de animais errantes no meio urbano. Para tanto, o Ministério Público e o Município firmaram uma parceria, na qual, em linhas gerais, o Município se comprometeu a implementar a política de controle populacional ético de animais de rua, mediante a castração cirúrgica em massa de cães e gatos, além do registro, da vacinação e da realização periódica de campanhas de adoção. Em complemento, deverão ser fortalecidas as ações de combate e punição do abandono. Por parte do Ministério Público, foi realizada a doação de um castramóvel, que já se encontra em poder do Município.
Marcos- As pessoas comentam que as ONGs estão superlotadas. Qual o papel das ONGs no trabalho de controle populacional?
Dra. Monique- A sociedade civil organizada é um importante braço do controle populacional, uma vez que, especialmente em Uberaba, são as ONGs que acolhem os animais de rua e realizam os programas de adoção. Contudo, a experiência já demonstrou que acolher os animais em abrigos não é suficiente, uma vez que as instituições não têm capacidade de dar o atendimento para todos os animais necessitados. É preciso que haja investimento em educação e efetiva punição contra o abandono, uma vez que a absoluta maioria dos animais que sofrem nas ruas foram abandonados por tutores negligentes e irresponsáveis.
Marcos- Saúde humana, saúde animal…essas questões podem ser vistas distintas uma da outra?
Dra. Monique- A pandemia de COVID-19 é um grande exemplo da impossibilidade de se tratar separadamente saúde humana e saúde animal, uma vez que a ciência já demonstrou que a sua origem está diretamente relacionada com a problemática ambiental e a forma de tratamento dos animais. Por isso, a palavra de ordem do momento é saúde única, que constitui o modelo de abordagem que contempla os três objetivos de forma integrada: saúde humana, saúde animal e saúde ambiental.
Marcos- Houve um aumento considerável de abandono de animais por causa da pandemia de Covid-19. Onde estão os maiores focos dessa situação?
Dra. Monique- De fato, os dados oficiais mostram um aumento não apenas do abandono mas da ocorrência de maus-tratos durante a pandemia. Esse fenômeno relaciona-se com o isolamento social e a maior permanência das pessoas no domicílio, o que, por sua vez, gerou o aumento de violências no contexto doméstico em geral, especialmente contra mulheres, crianças e animais. Os órgãos de repressão precisam estar atentos para a efetiva punição contra tais atos criminosos.

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Marcos- Todas essas questões dizem respeito a animais domésticos. E os silvestres? Como está a situação do Bosque de Uberaba, por exemplo?
Dra. Monique- Por determinação do Poder Público no enfrentamento da pandemia, o Parque Jacarandá ainda se encontra fechado para a visitação pública. Contudo, o Ministério Público tem atuado junto ao Município para garantir o bem-estar dos animais que lá se encontram. Para tanto, foi firmada, por exemplo, uma parceria com o Hospital Veterinário de Uberaba – HVU para dar atendimento especializado aos animais. Além disso, há aproximadamente 01 (um) ano, o Ministério Público e o ente municipal celebraram um acordo que dará uma nova conformação estrutural ao Zoológico. A curto prazo, o Município se comprometeu a realizar a reforma estrutural e funcional do estabelecimento, privilegiando os objetivos de incremento do bem-estar dos animais e educação ambiental. A longo prazo, será conferida uma nova destinação ao local, com a extinção do paradigma de aprisionamento e exposição dos animais. A escolha dessa mudança paulatina se deve à condição dos animais que se encontram no local, já que muitos são idosos e, infelizmente, não existem muitas opções de encaminhamento, de forma que a transferência imediata poderia ser prejudicial ao próprio bem-estar dos animais.
Marcos- Há denúncia de práticas consideradas esportivas acontecendo em Uberaba que expõem e maltratam animais?
Dr. Monique- Muitas práticas esportivas que impõem intenso sofrimento aos animais, a exemplo do rodeio, ainda são consideradas lícitas, de forma que, neste âmbito, cabe apenas a fiscalização do cumprimento das exigências normativas. Contudo, felizmente, a conscientização social tem evoluído, bem como a tutela jurídica. No último mês de julho, por exemplo, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou inconstitucional uma lei municipal de Bauru que autorizava a realização de prova de laço, com a derrubada de animais e a utilização do sedém (peça que faz com que o animal corcoveie repetidamente), considerando a prática como cruel e, portanto, proibida pela Constituição Federal. Trata-se de uma tendência na jurisprudência brasileira.
Marcos- Parece que ainda há uma cultura forte na região de se criar aves em gaiolas. Isto é criminalizado?
Dra. Monique- A criação de aves silvestres em cativeiro está sujeita a condições estabelecidas na legislação, especialmente o sistema de controle por anilhas. A captura e o cativeiro irregular de animais silvestres são considerados crime ambiental. Infelizmente, trata-se do crime ambiental de maior incidência na região, o que exige especial atenção por parte dos órgãos de fiscalização e de repressão, uma vez que se trata de conduta extremamente nociva ao meio ambiente e aos animais. É preciso, especialmente, investir em educação para a conscientização pública de que lugar de animal silvestre é na natureza e o aprisionamento de seres que nasceram para voar é ato cruel e criminoso.
Marcos- Em relação a caça, essa prática ainda é permitida?
Dra. Monique- A caça de animais silvestres é uma prática vedada, como regra, pela Lei de Proteção à Fauna (Lei nº 5197/67). Contudo, há um movimento político recente para tentar flexibilizar essa proibição e também houve a ampliação da caça do javali, com a flexibilização da normativa do IBAMA, o que tem provocado a expansão da caça ilegal de animais silvestres, já que os caçadores por vezes não se limitam à espécie permitida e acabam matando outros animais, inclusive espécies ameaçadas de extinção. Também há o problema da utilização de cães para a caça de javalis, que pode implicar em maus-tratos em razão das lesões provocadas nos embates. Denúncias contra estas práticas têm se tornado cada vez mais comuns na região.
Marcos- Toda essa atenção voltada para os animais é algo que vem crescendo, eu diria. Lembro que quando criança existia o que poderia chamar de incentivo à pratica de matar passarinhos. Você acha que as pessoas estão mais conscientes?
Dra. Monique- Sem dúvidas houve uma mudança de concepção e a tendência é que essa conscientização venha a se fortalecer cada vez mais, já que o respeito aos animais é parte da evolução civilizatória da sociedade e, neste âmbito, não se admite retrocesso.
Marcos- Pelo o que pude perceber em minhas últimas entrevistas, Uberaba poderá vir a ser um exemplo de trabalho de Proteção Animal?
Dra. Monique- Pelos projetos e ações construídas nos últimos anos, Uberaba pode realmente se tornar um modelo de proteção dos animais, mas ainda há muito espaço para evoluir. O mais importante, hoje, é que Uberaba conta com uma rede de atuação na questão animal, que integra a Administração Pública municipal, através da Superintendência de Bem-Estar Animal, a representatividade na Câmara Municipal, através da vereadora Denise Max, a sociedade civil organizada, o Hospital Veterinário de Uberaba – HVU, além de Ministério Público, Polícia Militar do Meio Ambiente, Corpo de Bombeiros Militar, dentre outros. É essa atuação em rede que tem possibilitado o atendimento completo aos mais variados casos e a criação de leis, programas e políticas públicas em prol dos animais.
Marcos- Você concorda que as pessoas estão sempre falando em “um mundo melhor” para os humanos, mas raramente em um “ser humano melhor” para o mundo?
Dra. Monique- São duas questões indissociáveis. Tanto a saúde como o bem-estar de nós seres humanos andam de mãos dadas com a saúde e o bem-estar dos animais e o equilíbrio ecológico. As ações humanas destrutivas do meio ambiente e cruel para com os animais, cedo ou tarde, produzem efeitos perversos contra a própria espécie humana. O novo coronavírus é um claro exemplo disso.
Marcos- Sempre peço ao meu convidado para deixar uma mensagem para os seguidores do blog. Gostaria uma mensagem sua.
Dra. Monique- Agradeço pelo honroso convite e quero, em especial, parabenizar os uberabenses, que são os verdadeiros responsáveis pela evolução na questão da proteção dos animais.

Iraci José de Souza Neto

 Relevantes conquistas

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O blog tem tentado acompanhar toda atividade em torno da causa animal e com muita satisfação constatado o trabalho importante que a Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba-MG, através de seu secretário Iraci José de Souza Neto tem realizado neste segmento, tantas vezes questionado e cobrado por ações que visem o bem estar dos animais na cidade. Jovem, dinâmico, focado, o secretário Iraci tem demonstrado muita habilidade no trato com todas as partes que se organizam em favor dos animais, se mostrando sensível à causa e apresentado ao município relevantes conquistas para este setor tão importante para a Saúde Pública. O blog o procurou para conhecer melhor os projetos já realizados e os que estão em andamento.

 

“Eu acho que as pessoas estão decepcionadas com as pessoas, por isto, valorizando ainda mais esses animais que só te dão carinho, não pedem nada em troca, são leais …”

 

Marcos Moreno– Sobre desafio das políticas públicas de saúde
Iraci José de Souza Neto– Primeiro gostaria de agradecer a possibilidade de estar falando com você e seu blog numa causa bastante importante hoje para a sociedade, seja no espírito de defensoria da causa animal, seja num trabalho como um desafio das políticas públicas de saúde que a gente sabe que se tornou hoje por causa  desta proliferação dos animais de pequeno porte, cães e gatos em todo pais, esse descontrole populacional dos nossos animais que são muito queridos hoje pela sociedade.
Quase todo cidadão hoje tem um animal em casa, como um ente da família, e nós temos também muita gente que cuida e defende esses animais que estão nas ruas, infelizmente em virtude desse descontrole populacional.
Uberaba é uma cidade acolhedora por si só e então defende com unhas e dentes essa causa, e a gente logicamente apoia, mas tenta fazer uma política de bem estar animal, uma política de controle populacional com planejamento com segurança, com organização e logicamente com o envolvimento de todos.

 

“A Denise Max, uma agente pública que defende a causa, tem que ter todo o reconhecimento independentemente das diferenças que a gente sabe que acontecem e que existem em todo seguimento”

 

Marcos–  Fale sobre este planejamento de políticas públicas para a causa animal.
Iraci– Em 2015 houve uma situação onde através de uma denúncia, houve uma interdição da sala de procedimentos, uma sala de castração da Zoonoses. Então, a partir de 2015, o município de Uberaba ficou sem um único ponto de procedimentos individuais e coletivos para com os animais de rua ou animais das pessoas que não tinham condições de levar num hospital veterinário, que a gente sabe que é caro.
A Denise Max, uma agente pública que defende a causa, tem que ter todo o reconhecimento independentemente das diferenças que a gente sabe que acontecem e que existem em todo seguimento. Temos que reconhecer a Denise como uma propulsora da causa animal no município de Uberaba e conseqüentemente das possibilidades de avanço que a gente pode ter.
A partir da minha chegada em 2017, surgiram várias discussões, minhas diretamente como secretário municipal de saúde e a própria Denise com várias agendas, entendimentos e desentendimentos. Tudo com muito respeito em relação à construção dessas políticas, de um caminho seguro, organizado e planejado para Uberaba em relação a causa animal, sabendo que existe aqui um conselho, um fundo, mas que não existe um envolvimento tanto da sociedade quanto do poder público de forma conjunta e agregada, para que a gente possa através dessas discussões construir e avançar nesse procedimento.
Eu acho que depois de tanta coisa,  coincidentemente no último ano deste governo,  Uberaba vai ter condição de entregar, se não totalmente, já bastante encaminhado uma política de cuidado e bem estar dos animais de pequeno porte no município. Quase que em 100%.

Marcos-  Qual será a abrangência das políticas públicas de saúde animal?
Iraci- São vários eixos, várias áreas em discussão na parte de educação, na parte de captação de recursos, na parte de planejamento técnico/administrativo de deliberações que é a atualização do Conselho Municipal de Bem Estar Animal e conseqüentemente de uma organização do fundo municipal para captar e receber recursos pra dar condições de sustentar essas políticas. Um envolvimento de mais de seis secretarias municipais como toda sociedade civil organizada através das ONGs, o ministério público, enfim todos os protetores e protetoras coletivas e individuais, institucionais e não governamentais para trazer para o debate esse projeto, que estamos chamando de Projeto Bem Estar Animal, que com certeza vai ser transformado no programa de bem estar animal e depois num projeto de lei. Ai Uberaba, até o final do ano e já pra próxima gestão, terá um projeto de Estado, não um projeto de plano de governo, mas um projeto de Estado permanente na cidade de Uberaba.

Marcos– Efetivamente, como funcionaria?
Iraci– Com uma estruturação física, com organização, como eu disse, pra levar a parte educacional às escolas através das secretarias municipais e estaduais de educação, com envolvimento da comunidade e de toda a rede de comunicação e mídia do município de Uberaba. É importante os meios de comunicação levarem alguma mensagem sobre o cuidado com os animais, a organização de projetos e de convênios com as organizações especificas do seguimento por parte das secretarias e o próprio ministério público do meio ambiente. Importante a participação da Polícia Militar, da Secretaria de Agricultura com envolvimento da zona rural (que a gente sabe através da nossa campanha de vacinação anti-rábica todo ano nos meses de Julho, Agosto, Setembro que há muitos animais domésticos). E claro, a secretaria municipal de saúde junto com o departamento de zoonoses porque a gente sabe que o animal é um vetor de transmissão de doenças para o ser humano, então a gente tem que ter esse cuidado. Nós temos que trazer também o campo acadêmico, as universidades, e  nós temos uma faculdade de medicina veterinária e um hospital veterinário que, apesar de ser privado, tem total interesse em colaborar com a sociedade e com o poder público em grandes projetos.

 

“…é importante os meios de comunicação levarem alguma mensagem sobre o cuidado dom os animais…”

Marcos– Sobre chipagem de animais, há algum planejamento?
Iraci– Dentro dos projetos de saúde já temos milhares de animais chipados, já reiniciamos a castração no ano passado, que neste ano, infelizmente, por causa da pandemia deu uma parada, mas já castramos centenas de animais com plano de manejo e controle populacional.

Marcos– Isso é feito no Centro de zoonoses?
Iraci– Esse foi contratação de uma empresa, de uma licitação, até que a gente pudesse voltar.
Marcos– Você está falando da castração química?
Iraci- Não, a castração química já acabou, nós tivemos um momento para usar aqueles medicamentos.
Marcos– Aquilo foi bem polêmico?
Iraci– Sim muito polêmico, mas como o município tinha adquirido uma certa quantidade do farmaco para fazer, transformamos aquilo numa pesquisa. Não numa pesquisa cientifica, mas uma pesquisa de resultados com o apoio do Ministério Público, da universidade, buscando um entendimento da sociedade protetora. Uberaba teve oportunidade inclusive de ter um debate com relação a isso, e isso faz parte da evolução.

Marcos– O que está previsto sobre controle populacional?
Iraci– Existiu uma planejamento lá atrás. A gente foi muito contestado, até criticado e a gente entende. O momento chegou, vamos ter condições de entregar tudo de uma vez só, e isso foi construído lá em 2017 numa avaliação, num levantamento de dados, num entendimento da situação dessa política, de como essa política pública de controle populacional (de um manejo de animais de pequeno porte) estava sendo feita ou qual era o seu cenário/espaço no município de Uberaba.

“…vamos ter condições de entregar tudo de uma só vez…”

Marcos– Uma pergunta para contextualizar: você me falou que “nesse último ano da administração”, quer dizer que isto tudo já era planejado e efetivamente no último ano de administração está sendo realizado?
Iraci– Nós pedimos um tempo para todos os protetores, para todas as pessoas envolvidas no segmento para gente construir um caminho seguro e sólido que não teria volta. Nesse tempo, houve quem não acreditasse, houve quem duvidasse, houve quem criticasse. Mas nós vamos entregar tudo aquilo que a secretaria municipal de saúde planejou como já falamos.

Marcos- O que você fala sobre o Projeto Solidário?
Iraci- Nós fizemos um projeto que já está pronto que é o da farmácia e o mercado solidário também para pet, nos moldes da farmácia solidária (Projeto até premiado). Então nós trouxemos o mesmo modelo do projeto solidário para esse universo. Quem não usa mais um medicamento veterinário, que pode ser usado por outro animal, pode doar. Uma ração, um utensílio  para cachorro como um bebedouro de água, uma coleira, uma almofada especifica, uma cama, enfim tudo isso. Vamos trabalhar juntos com toda a sociedade, com toda a mídia, com todos vocês que gostam e protegem e querem ver o avanço, para que a gente tenha nesse mercado as doações e assim possamos atender aquelas pessoas que mais precisam e não tem condições. Isto é um ponto. Também já estamos construindo e levantando a parede do primeiro ambulatório pet que é uma unidade básica de saúde (nem tão básica assim) que terá procedimentos de cirurgias, inclusive as castrações, curativos e até de pequenas intervenções ambulatoriais invasivas.

Marcos– Isso tudo efetivamente e administrativamente vai funcionar em um local físico?
Iraci– No Centro de Zoonoses estamos construindo a unidade de saúde animal, construção em torno de 300 metros quadrados, com bloco cirúrgico, sala de observação, consultório médico veterinário e sala de coleta de exames. Uma unidade de saúde para animal mesmo.

 

Marcos– Tem previsão de conclusão?

Iraci- A conclusão da obra está prevista para até o final de setembro. A formatação e a implantação depois da entrega da obra, no mês de outubro, e até o final de outubro nos gostaríamos de estar entregando esse ambulatório animal para a sociedade.

 

Marcos– Vão ser contratados novos profissionais?
Iraci– Vamos contratar os profissionais, técnicos de veterinária, profissionais administrativos que vamos precisar, médicos veterinários (porque o ambulatório vai funcionar de segunda a sexta-feira a princípio). Além disto temos os castra moveis que são os ambulatórios itinerantes. Dentro do projeto vamos ter essa unidade fixa e os ambulatórios itinerantes para fazer as castrações.

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Marcos- Será mais de um?
Iraci– São três. Já foi entregue um e serão mais dois. O contrato já está assinado e devem chegar até final de Julho e início de agosto, todos os dois com essa infraestrutura.

 

Marcos– Sobre legislação
Iraci– Estamos já formatando através da secretaria de governo a nova legislação do Conselho Municipal do Bem Estar Animal e conseqüentemente do fundo que é a parte da discussão das políticas, envolvendo a sociedade pra dar as diretrizes dentro do projeto, do programa e conseqüentemente da legislação. E pra  termos realmente as deliberações em relação a política do Bem Estar Animal, em termos de infraestrutura, vamos buscar levar esse tema, como eu já disse, para as escolas, e através das crianças, mobilizar e sensibilizar as famílias, como uma sociedade do terceiro setor, com possibilidade de parcerias, assim como as universidades e o hospital veterinário de Uberaba. Todos são muito importantes nesse projeto social. Estamos falando de um fortalecimento, e obviamente de uma política sólida que  elaboramos no final de 2017.

 

“…o eixo de engrenagem de todo esse sistema e a sistemática tem que partir da Superintendência do Bem Estar Animal”

 

Marcos– É total o envolvimento da Superintendência de Saúde Animal?
Iraci- Lógico que a Secretaria de Saúde, através de vários projetos, vai dar uma consolidação, mas o eixo de engrenagem de todo esse sistema e a sistemática tem que partir da Superintendência do Bem Estar Animal. É através da Superintendência que serão realizadas as reuniões ordinárias do Conselho Municipal de Saúde  e os devidos debates. É através do fundo municipal do Bem Estar Animal que virão os recursos financeiros adquiridos com parcerias e a execução de várias ações vinculadas ao Bem Estar Saúde Animal, seja na área da saúde, na área de educação, enfim nas diversas áreas de comunicação, na divulgação das ações, etc. A Secretaria da Saúde tem organizado estruturalmente a parte física e o manejo desses atendimentos de política pública de saúde animal, com o envolvimento do ministério público. Neste primeiro castra-móvel contou com o envolvimento do ministério público com uma assinatura de um termo de cooperação. Os demais foram com a colaboração do deputado Franco Cartafina, da Vereadora Denise Max junto com ao departamento da época pra vir mais recursos para a compra desses castra-móveis. Cumprimos e demos a palavra para pessoas que todo recurso que viesse através de renda parlamentar destinada ao bem estar animal, será revertido na sua totalidade, sem nenhuma desvinculação para outros setores da saúde a não ser aquilo que era a rubrica mesmo. Claro que há a questão sentimental embutida nesse projeto.

Marcos– Esses recursos quando não vem por indicação de terceiros, eles existem permanentemente numa gestão?
Iraci- Não, eles não existem. A gente vai ter que fundamentar até para a próxima administração dentro do orçamento, o recurso especifico para custeio dessas ações permanentes de rotina. Há todo um trabalho a ser feito até o final do ano pra dentro da peça orçamentária vincular recursos específicos do próprio orçamento municipal para custear e manter toda essa estrutura que tá sendo criada para o bem estar animal, controle populacional, o controle de zoonoses em relação aos animais da nossa cidade.

Marcos– Você acha que as pessoas estão mais conscientes em relação aos animais?
Iraci– Acho que há um sentimento muito forte por parte das pessoas. Hoje temos uma sociedade em defesa dos animais. Eu acho que as pessoas estão decepcionadas com as pessoas, por isto, valorizando ainda mais esses animais que só te dão carinho, não pedem nada em troca, são leais … Então eu vejo por esse lado, lógico que politicamente há um apelo muito forte desde que seja legitimo, transparente, honesto no processo. Não é possível usar esse apelo para trazer algum benefício próprio, mais para  retornar isso para própria sociedade.

Marcos– Algumas pessoas envolvidas com a causa já me disserem que há estados mais desenvolvidos nisso que o estado de Minas. Essa informação procede?
Iraci- Sim, existem lugares, municípios ou estados que tem um política consolidada com relação ao bem estar do animal, ao controle populacional, até por que passou a ser um problema de saúde pública, por serem os animais vetores de doenças como por exemplo a leishmaniose entre outras que afetam principalmente as crianças. Enfim então existe dentro da política, só relembrando aqui, o canil como foi um ponto de discussão lá atrás. Mas estamos reformando e repaginando todo o canil, inclusive construindo duas baias sobressalentes para alguma necessidade de acolhimento de animais de grande porte, que de vez em quando acontece de aparecer um cavalo, uma égua perdida na cidade e até doente. Então vamos ter oportunidade de dar uma estrutura de acolhimento a esses animais. O canil vai ter espaço para os animais tomarem sol, grama sintética, muita qualidade, muito conforto. Precisamos retribuir o que fazem pelos humanos. Muitas das vezes podemos ver cachorros em portas de hospitais aguardando seu dono sair e o dono não sai, ou ele entrar pro leito hospitalar e o dono sair junto com ele… isso traz um sentimento muito forte e incentivo pra que a gente possa trabalhar especificamente uma política diferenciada como outros estados e municípios já tem. Buscamos ter um parâmetro e assim ter uma estratégica para consolidar essa política do Bem Estar Animal e fazer controle populacional, logicamente espelhando em municípios do sul do país que já estão bem avançados. Temos aqui no interior de São Paulo um hospital público. Nós não conseguimos um hospital público, mas entendemos que uma unidade de saúde animal seria inovadora na região e no estado e acredito que no Brasil. Dificilmente vamos encontrar um ambulatório, uma unidade de saúde especifica no nosso estado com todas as orientações e quesitos sanitários. Fizemos o projeto e tivemos análise da vigilância sanitária municipal e estadual. Visitamos os blocos cirúrgicos dos hospitais para trazer todo o dimensionamento e todo o fluxo de esterilização e pensamos nos mínimos detalhes.

Marcos– Um projeto/programa desse porte nunca aconteceu?
Iraci- Não, aqui em Uberaba, tirando um pouco da nossa modéstia, acredito que até por conta dessa desconfiança e críticas lá no início do nosso mandato como secretario e as críticas em cima do próprio prefeito Paulo Piau, não. O prefeito nos deu a liberdade de construir esse projeto, e foi uma solicitação dele mesmo que consolidássemos algo para Uberaba ter um controle populacional de animais baseado  na questão de saúde pública. E  encontramos algo muito superior ao pedido dele, então vamos entregar com certeza a maior política de saúde e bem estar animal do estado de Minas Gerais. A gente tem falado isto e repetido porque eu não vejo em outro lugar da região o que estamos fazendo para esse seguimento especifico.

Marcos– Especificamente por causa da pandemia de coronavírus houve algum tipo de demanda em relação aos animais?
Iraci– Fomos acionado para fazer algumas colaborações na questão de doação de ração, porque com o isolamento/distanciamento social/ diminuiu a circulação das pessoas e consequentemente a gente sabe que os cachorros/animais de rua ficaram um tanto quanto mais abandonados. Então fizemos algumas doações de rações dentro da nossa condição no momento. Temos ração para o trato do dia a dia do canil, mais a gente colaborou, como ponto de apoio, para doação de roupas de animais. Também fomos acionados algumas vezes para fazer algumas intervenções pontuais, em torno da penitenciária, em uma situação da casa de uma família que tinha muitos cães. Fomos até lá e fizemos, junto com a universidade, uma análise e uma chipagem dos animais. Ações pontuais durante a pandemia foram provocadas até por parte do ministério público e por partes de algumas ongs especificas. Infelizmente não podemos dar continuidade ao nosso trabalho de castração cirúrgica até terminar essa situação provocada pela pandemia. Tínhamos planos para dar uma continuidade muito interessante e importante ao longo desse ano, mas a gente sabe que a castração vai ocasionar uma aglomeração e um risco de transmissão e de contaminação de Covid 19. Mas vamos ter a oportunidade de retornar isso o mais breve possível.

Paula Picceli

Nós do Bem- Proteção Animal

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Felizmente existem pessoas como Paula Picceli, cuja sensibilidade está em cada detalhe do projeto “Nós do Bem”, começando pelo nome, que como ela própria explica na entrevista, a ambiguidade dessas três letrinhas -“nós”-  foi pensada para dar nome à ação de uma causa tão nobre.  O projeto nasceu em Outubro de 2019 em São Paulo – capital, e hoje é constituído por um grupo de cerca de 30 voluntários apaixonados por animais e ativistas da causa. O trabalho da ONG é de resgatar animais na capital, mas também doar para a região metropolitana e algumas cidades do interior. A missão é criar laços/nós, unir pessoas engajadas, cuidar e amar os animais. Para manter financeiramente as ações, são feitas rifas solidárias de produtos  recebidos em doação, vendas de produtos personalizados como máscaras e copos, manutenção de  um brechó online- @brechodobem_pelosanimais – e um sistema de apadrinhamento através do catarse, além de doações pontuais recebidas via transferência bancária. Pelos caminhos das redes sociais o Moreno Pet Blog acabou encontrando esse grupo de pessoas que formam esses fortes nós de amor e solidariedade em uma metrópole onde as pessoas estão mais absorvidas pela necessidade da própria sobrevivência.

 

“Nossa esperança é que a Humanidade perceba como estamos inseridos na natureza e no meio ambiente, e passe a viver com mais consciência quando essa situação da pandemia acabar.”

 

Marcos Moreno– “Nós do Bem”, esse pronome aqui também tem o sentido de substantivo- referindo-se a “laços apertados”- não é? Como surgiu a ideia de constituir a ONG?
Paula Picceli-Nós do Bem– Isso mesmo, “Nós” tem o significado ambíguo: o coletivo e a união como nós de uma corda.
O grupo que hoje participa do projeto já era envolvido na causa animal, alguns até voluntários em outras ONG`s, inclusive eu. Vez ou outra, me unia à essas pessoas para realizar algum resgate independente por fora da ONG.
Em Agosto de 2019, junto à ONG em que eu era voluntária, resgatei a Estrela, prenha, abandonada após uma desocupação que aconteceu na Cohab de Carapicuíba. A Estrela estava lá, no final da gestação, com uma barriga enorme e magra, muito magra. Não pensamos duas vezes e assumimos o caso.
Acionei alguns contatos dessas pessoas que sempre estavam prontas para ajudar, e juntos conseguimos cuidar dela e de seus 9 filhotes, oferecendo lar temporário, alimentação, medicamento, tratamento e cuidados diários. Este caso me fez perceber como a união de pessoas engajadas é poderosa, e a partir disso decidimos nos unir para formar o projeto Nós do Bem – Proteção Animal.

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Marcos– A ONG é formalizada como tal ou ainda não?
Paula- Estamos em processo de formalização do projeto como Associação. A oficialização dos projetos é um processo complexo, pois necessita de advogado, contador mensalmente, um número mínimo de voluntários para o conselho, e por isso vemos muitos projetos pequenos que ainda não são formalizados. Não possuir um CNPJ não significa que um projeto não é sério ou confiável, muitos apenas ainda não chegaram na fase de formalização, mas também merecem apoio!

Marcos- Naturalmente é formada por voluntários. Mas existe alguns profissionais para o trabalho administrativo?
Paula– Durante esse processo de formalização, percebemos a necessidade de ter alguém a frente deste trabalho administrativo. Para tanto, temos uma voluntária que tem experiência no ramo e nos ajuda com esta atividade. Após a formalização, será necessário realizar o pagamento mensal de um contador terceiro.

Marcos- Vocês só recolhem animais machucados/doentes, tratam e colocam para adoção ou também outros animais “sadios”, porém abandonados?
Paula– Nosso critério não é somente a saúde do animal, pois animais que parecem estar saudáveis podem ter problemas sérios de saúde apontados por um hemograma. Resgatamos animais em situações de risco das mais diversas, abandonados, machucados, doentes, acidentados, etc. Todos eles passam pelo tratamento veterinário necessário, são castrados, vacinados e depois doados para famílias responsáveis.
Marcos– No dia-a-dia como são identificados os animais que precisam de ajuda? São denúncias?
Paula– Recebemos muitas denúncias, praticamente todos os dias, tanto nas redes sociais do projeto, quanto através de nossos voluntários individualmente. Para realizar um resgate, nós primeiro investigamos o caso. Por vezes, o animal tem um dono e nesses casos é necessário fazer uma denúncia por maus tratos na delegacia. Após a investigação, levantamos se temos os recursos necessários para o resgate: espaço físico, dinheiro e voluntários disponíveis.
Marcos– As pessoas procuram a ONG para deixar animais que não querem mais? Qual é a política de receber animais?
Paula– Sim. Casos assim às vezes chegam mascarados como denúncia de abandono, e ao chegarmos no local do resgate descobrimos que o animal na verdade tem dono, mas que não quer ou não pode mais cuidar dele.
Nestes casos em que o tutor assume que não ficará mais com o animal, nós o recolhemos, pois entendemos que ele terá uma vida melhor com uma família que estará disposta a cuidá-lo e amá-lo.
Marcos– Como é o espaço físico da ONG?
Paula- No momento não temos um espaço físico para os animais, principalmente pelo lado financeiro. Aluguel de um imóvel, contas de consumo e funcionários são custos fixos altos e infelizmente ainda não podemos arcar. Usamos a estratégia de lares temporários, pagos e solidários, espalhados pela cidade.

Marcos– O abandono de animais é maior em certos países e, dentro dos países, há regiões piores neste caso?
Paula– De maneira geral, regiões mais desenvolvidas tem menos problemas com abandono de animais, pois o poder público trata o problema como questão de saúde pública, realizando campanhas de castração e vacinação. Regiões mais carentes acabam por negligenciar a questão, pois os recursos são mais escassos, destinados à população. Importante pontuar que infelizmente vemos a crueldade humana atuar em todas as faixas de renda.

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“Estrela, hoje saudável em sua nova casa, coberta de amor e cuidados.”

 

Marcos– Há, em âmbito nacional, algum órgão público ou político que se preocupe realmente com os animais abandonados no Brasil?
Paula- Vinculado ao Ministério da Saúde, existem os Centros de Controle de Zoonoses (CCZs), que realizam trabalho de castração e vacinação de animais nas cidades que estão presentes. Nas principais capitais esse serviço conta com abrigos para animais retirados das ruas. Em alguns estados, como o caso de São Paulo, existem as Delegacias de Proteção Animal, que recebem e apuram denúncias de abandono e maus tratos aos animais.
O trabalho pesado no Brasil é realizado pelo terceiro setor, que hoje ganha voz por conta das redes sociais e a influência de autoridades e especialistas, que usam de sua força e conhecimento para fomentar cada vez mais o trabalho de ONGs e Associações, proporcionando uma vida digna aos animais.

 

Marcos– Vocês da ONG acreditam que a consciência humana em relação aos animais é maior hoje? Será melhor algum dia, especialmente por causa da pandemia do Covid -19?
Paula– A internet e as redes sociais uniram pessoas em grandes grupos em prol de uma causa, e a relação com os animais se beneficiou por conta disso. O trabalho de proteção animal ganhou muito alcance e aumentou a conscientização de que os bichinhos também têm sentimentos e merecem respeito.
A pandemia mostrou dois lados da relação da humanidade com os animais. Vimos muitos casos de abandono, e alguns de morte, quando circularam as notícias falsas de que cachorros e gatos eram vetores de transmissão da COVID-19, mostrando o egoísmo destas pessoas. Ao mesmo tempo, durante a quarentena e o isolamento social vimos o número de adoções aumentar. Pessoas descobriram quanto a companhia de um animal é prazerosa e reconfortante. A nossa campanha “Cãorentena” foi um sucesso total – doamos tanto animais na nossa custódia quanto animais de outros projetos.
Nossa esperança é que a Humanidade perceba como estamos inseridos na natureza e no meio ambiente, e passe a viver com mais consciência quando essa situação da pandemia acabar.