Frederico Lopes Cançado

Admirador de cães

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Ele é um jovem engenheiro agrônomo que cresceu envolvido pela cultura de fazendeiro da região, o que é bem marcante em Uberaba, capital da agropecuária. Entre a cidade e a fazenda, na lida com bois, cavalos e animais menores, foi descobrindo outras características nos cães, além do talento para pastoreio e outras habilidades próprias para o meio rural. Também deixou rolar sua incrível habilidade com plantas e acabou se tornando um paisagista e um criador de cães. São duas profissões extremamente prazerosas, mas que exigem uma dedicação prá lá de especial, porque desse cuidado dependem vidas.

 
“…qualquer cão mesmo sem raça pode dar o maior carinho e fazer ótima companhia, basta receber atenção.”

 
Marcos Moreno– Você cresceu em contato com a agropecuária. Hoje você tem algumas raças de cães e dedica uma parte do seu tempo no cuidado com eles. Você é um criador de raças caninas?
Frederico Cançado Lopes– Me considero um admirador de cachorros que escolheu criar algumas raças em especial.

Marcos– Porque se interessou pela atividade?
Frederico– Escolhi raças com características diferentes, mas com a docilidade em comum. Existem varias raças que eu gostaria de ter, mas escolhi as mais apropriadas pra mim.

Marcos Eu sempre penso que existem “cachorros de moda”. Há raças mais procuradas em determinadas épocas?
Frederico– Acredito que sim. Algumas se destacam e se valorizam com a procura da moda, porém grandes canis que criam com qualidade e sempre se destacam e conseguem seu valor independente da moda.
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Marcos- Para se tornar um criador de raças deve ser preciso muita pesquisa. Existem cursos específicos para formar um criador?
Frederico– Existem alguns cursos para adestramentos e normalmente existem associações e principalmente o kennel club (em tradução livre “clube de canis”), ou kennel clube, é uma organização para assuntos caninos que se preocupa com a criação, registro, exposição e promoção de mais de uma raça de cão.
Marcos– A maior procura hoje é por cães para trabalho ou para companhia?
Frederico- Acredito que os dois perfis tem seu lugar e mesmo a associação das duas características, afinal qualquer cão mesmo sem raça pode dar o maior carinho e fazer ótima companhia, basta receber atenção.

Marcos– A raça Border Collie é realmente mais inteligente?
Frederico– Os borders são sim considerados os mais inteligentes e eu posso te dizer que das 3 raças que eu crio o border é o mais fácil de comandar, cada um com uma inteligência distinta. Mas um border pode dar muito trabalho se não gastar energia por exemplo. Mesmo com sua obediência e principalmente por causa de sua inteligência.

 

Marcos– Instinto ou criação? O que influencia mais o comportamento de um cão?
Frederico– Ambas as partes com certeza! Características comportamentais são transferíveis geneticamente mas o ambiente tem total influencia na minha opinião.

Marcos- Existem muitos Kennels Clubes no Brasil?
Frederico– Existe a Confederação Brasileira de Cinofilia (estímulo ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de diferentes raças caninas) (CBKC) é a entidade mater da cinofilia nacional. Foi criada como sucessora dos convênios nacionais e internacionais do Brasil Kennel Clube, e tem sede no Rio de Janeiro. E existem hoje mais de 80 clubes afiliados à CBKC, que são os “kennels” espalhados por outras cidades.

Marcos– Como funciona a questão da documentação de um cão? Há documentos com pedigree, etc?
Frederico– Existem vários kennels que auxiliam o trabalho da confederação. Todos com a intenção de se aprimorar as raças.

Marcos– Comprar ou não comprar, eis a questão!
Frederico– Não julgo quem vende nem quem doa. Julgo apenas quem não cuida. Independente se você vende ou não é preciso de muita dedicação. Já vi varias casos de canis que vendiam filhotes caros mas foram pegos maltratando matrizes e até filhotes. Infelizmente isso não controlam. Visam mais o controle racial.

Marcos– Você pode deixar uma mensagem para os seguidores do blog a respeito dos cães?
Frederico- Minha mensagem é que independente da raça e até mesmo se é um animal puro de raça ou não, um cão vai sempre dar amor se ele receber amor.

Silvio Rodrigues da Cunha

À sombra das Tamareiras

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Mega empresário do setor de hotelaria, que tem como carro-chefe o Tamareiras Park Hotel, Silvio Rodrigues da Cunha tem uma trajetória de sucesso que todos os uberabenses conhecem. Um exemplo a ser mirado por aquelas pessoas que desejam vencer na vida, alicerçadas na confiança, no empreendedorismo, no dinamismo, na ética, para citar apenas algumas de suas características. Silvinho, como é conhecido e tratado pelos muitos amigos, nunca perdeu a simplicidade no trato com as pessoas. Inteligente e generoso. Mas isto todo mundo sabe. O que nem todos sabem é que ele curte muito seus cães, todos resgatados e recuperados. Quando não está viajando, faz questão de alimentá-los pessoalmente todos os dias em sua propriedade rural e dividir com eles algum tempo do seu dia sempre muito corrido. Com esse tutor tão dedicado, os cães se sentem protegidos, à sombra das tamareiras!

 

“Quem tem um animal de estimação nunca vai ter depressão”

 

Marcos Moreno– As pessoa o conhecem como um grande e bem sucedido empresário. Mas poucas pessoas sabem que entre suas atividades está essa dedicação sua pelos cachorros que mantém em uma de suas propriedades. Você sempre teve afeição por cães?Silvio Rodrigues da Cunha– Sim. Desde pequeno tivemos cães em casa.
Marcos– De onde vêm os seus cães? Você tem preferência por determinadas raças?
Silvinho- Meus animais são todos abandonados. Muitos pego na estrada da minha fazenda, outros chegam bem doentes nos Hotéis Tamareiras. Eu levo eles para a veterinária cuidar e depois adoto.

443ee000-cb9e-4207-92c2-a5e5bb5697b8Marcos– Já teve alguma experiência com um cão de difícil convivência?
Silvinho– Não. Todos são muito dóceis e parecem que agradecer por receber carinho e atenção.
Marcos- Tem alguma história especial de um de seus cães?
Silvinho– O primeiro cachorro que ganhei quando adquiri a fazenda, foi um boxer. Esse cão (Leão) foi atropelado na rodovia e quebrou a bacia. Teve que ser sacrificado e fiquei muito chateado, pois era um cão muito amigo e brincalhão.

 

Marcos– Acabaram de concluir um estudo na Hungria que afirma que os cães entendem o que falamos. Você conversa com seus cães?
Silvinho– Sim. E todos me entendem muito bem e vice versa.
Marcos– entre os animais selvagens, por qual você tem uma especial admiração?
Silvinho– Gosto muito dos elefantes. Eles são dóceis e tem memória afetiva.

 

Marcos– Você percebe que a relação Homem/animal tem evoluído? Desde quando?                                                                         Silvinho– Sim. Estamos em uma constante evolução.
Marcos– Há muitas campanhas contra o comércio de animais domésticos. O que você pensa a respeito?
Silvinho– O ideal seria a adoção consciente. Mas não critico quem compra algum animal, pois deve gostar das características da raça. Eu já tive um cão pastor, que além de trabalhar bem, era o xodó dos meus ajudantes. Dormia na casa de um deles.
Marcos– Naturalmente você já deve ter visto filmes com temas de animais. Você se emociona? Pode citar um que tenha te tocado mais?
Silvinho– Marley e eu é um filme que não tem como não se emocionar.
Marcos– Pelo a todos os meus entrevistados que deixem uma mensagem para os humanos em ralação aos animais. Gostaria muito da sua.
Silvinho– Os animais são seres dotados de alma. Quem tem um animal de estimação nunca vai ter depressão. O amor incondicional que eles nos devotam, a fidelidade deles é algo que transcende.

Ana Lúcia Árabe Ferreira

Arquitetura do bem!

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Talento e competência são traços básicos do seu trabalho. Dedicação, generosidade, serenidade são partes genuínas do seu caráter. Somando tudo a tantas outras características  bacanas, tentamos definir a arquiteta Ana Lúcia Árabe Ferreira, que, com um trabalho extremamente exigente, ainda encontra tempo para ser uma protetora de animais simplesmente porque não entende a vida de outra forma. Me sinto confortável em fazer o título dessa entrevista: “Arquitetura do Bem”. E agradecido também. Ana Lúcia é casada com o médico Lisandro Ferreira, que nunca deixou de dar apoio à sua causa em favor dos animais, e mãe de Isabela, estudante de medicina que herdou da mãe o nível de consciência em relação aos bichinhos. Com mestrado em arquitetura, Ana Lúcia está concluindo uma pós graduação em “Master em Arquitetura & Lighting”. Essa mulher está realmente construindo um mundo melhor.

 

“A mudança do animal de rua e o animal no seu novo lar ,com o carinho que nunca teve , é impressionante e isso é o que nos move a nunca parar”

 

Marcos Moreno– Tenho conversado com algumas pessoas que fazem parte de uma categoria interessante: Protetores Independentes. Todas as histórias têm em comum um aspecto pessoal, um ponto de partida que acontece com um animal da própria pessoa. Com você também foi assim?
Ana Lúcia Árabe Ferreira: Meu inicio como protetora independente começou com o primeiro resgate, na rua da minha casa ,onde recolhi, cuidei, castrei e entreguei ao novo tutor com todas as vacinas em dia. Foi uma experiência gratificante. Primeiro veio o medo de como faria, se conseguiria cuidar e encaminhá-lo para pessoas que cuidariam e que se importariam (como eu) com aquele animal indefeso. Senti a necessidade de ter noticias e acompanhar a adaptação desse animal ao seu novo lar. Hoje continuo sempre acompanhando meus filhos adotivos nos seus novos lares. A mudança do animal de rua e o animal no seu novo lar ,com o carinho que nunca teve , é impressionante e isso é o que nos move a nunca parar.

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Marcos– Você é uma profissional muito bem sucedida, mas há outras pessoas que não têm a mesma condição financeira que você. É caro fazer isto, não é?                           Ana Lúcia- Acolher, resgatar um animal não é barato já que partimos da premissa de que temos a responsabilidade de retirar o animal das ruas, de maus tratos, seja de onde for e dar uma condição melhor para ele e isso tem custos como: veterinários com possíveis tratamentos longos e até cirúrgicos, internações por dias que se tornam caríssimas, castração, vermifugação, vacinação e na maioria das vezes o hotelzinho, já que todas as protetoras estão lotadas com animais em casa.
Marcos– É possível explicar mais ou menos como você consegue tempo para tanta coisa?
Ana Lúcia- O resgate acontece sem que a gente esteja preparada para tal fato, então o tempo é o que tem menor peso e sempre contamos com a ajuda de outros protetores.

Marcos– Esse caráter “protetor” se espalha pela família toda? Marido e filha seguem seu exemplo?
Ana Lúcia- Isso é uma verdade. Meu marido e minha filha acabam envolvidos na causa e sem contar as pessoas que trabalham comigo como secretária, pedreiros, pessoas da obra. É impressionante como a causa envolve pessoas… até os porteiros de condomínio me ajudam, seja no resgate, seja no cuidado com o animal que está na portaria e isso me é relatado quando chego na obra.Fico extremamente feliz porque penso que não estamos sozinhas nessa causa.
Marcos– Toda pessoa que se envolve com esse maravilhoso trabalho de proteger, sofre em algum momento de uma depressão horrível. Isto também é um “lugar comum” nessas pessoas. O que você me diz sobre isto?
Ana Lúcia- Infelizmente é comum um protetor ou outro se ausentar por um tempo e se organizar intimamente para depois voltar à ativa. O que nos deixa assim não são os animais, mas as atitudes de muitos seres humanos que abandonam ,maltratam, adotam e não tem a menor responsabilidade e condição de manter um animal…..São essas atitudes do ser humano que nos deixam mal porque não conseguimos acudir todos os casos que chegam até os protetores.

Marcos– Ainda há muitos cativeiros por aqui, pela nossa região?
Ana Lúcia- Acredito que haja muitas pessoas que usam da causa para se beneficiarem e enquanto tiver alguém para comprar, vai existir quem vende e sabe lá em que condições esses animais vivem. Na maioria das vezes em péssimas condições. Acredito que só com uma lei rígida poderá ter algum êxito com relação a esse fato. Temos exemplos incríveis em outros locais do mundo onde o respeito ao animal não deixa de ser um fato secundário. Por exemplo, a Austrália, onde existe a proibição da reprodução de cachorros e gatos para fins comerciais e com isso tentam acabar com as fábricas de filhotes de animais domésticos. Outro exemplo é a Suíça. A Suíça é o sonho de todo protetor de animais. A preocupação com a dignidade e o bem estar dos bichos é enorme, e aqueles que desrespeitam, maltratam, abandonam e matam animais sofrem punições severas. Poderia ser assim no Brasil.

Marcos– Há uma fiscalização séria em torno de cativeiros e/ou criadouros clandestinos?
Ana Lúcia- Não há. Na maioria das vezes a descoberta de algum cativeiro ocorre por meio de denuncias.

Marcos– O que mais dificulta um resgate seja em cativeiros seja por uma situação de abandono?
Ana Lúcia- O que mais dificulta um resgate é o custo do mesmo. O protetor se questiona como vai pagar pelos animais resgatados, onde serão colocados esses animais porque na maioria das vezes, os animais estão em péssimo estado e todos os protetores estão com as casas lotadas de animais sem condições de dar o lar temporário para eles (LT). Na realidade esse pensamento ocorre em conjunto ao resgate porque o sentimento de um protetor fala mais alto e a união dos protetores também é um fato que ajuda muito e nos fortalece. A nossa indignação ao ver o estado do animal e quando vemos, já tomamos a iniciativa do resgate.

Marcos– Você acredita que uma educação de base influencia a consciência das pessoas em relação aos animais?
Ana Lúcia- A educação é a base de tudo. Um país que se preocupa com a educação tem como conseqüência um questionamento em todo sentido e o bem estar do animal é um desses questionamentos.

Marcos– Há uma polêmica sobre a castração química. Você tem uma opinião sobre isto?
Ana Lúcia- Sou totalmente contra. Vários profissionais da área criticam a falta de dados que garantam a segurança do procedimento. Foi verificado que o produto aplicado nos animais provoca edema e necrose dos testículos e ninguém sabe se os animais sentirão dor, desconforto ou desenvolverão tumores malignos.

 

“A compaixão por todos os seres vivos é a prova de uma conduta mais firme e verdadeira de uma pessoa”
Marcos– Vou repetir o de sempre: gostaria que você deixasse aqui uma mensagem para as pessoas em relação aos animais.
Ana Lúcia- Um homem só será realmente ético quando for capaz de ajudar e quando se der ao trabalho de impedir que causem danos a todas as coisas vivas. E se nós vemos coisas erradas ou crueldades, as quais temos o poder de evitar e nada fazemos, nós somos coniventes.
Penso que a compaixão pelos animais está ligada ao caráter do homem, e quem é cruel com os animais não pode ser bom. A compaixão por todos os seres vivos é a prova de uma conduta mais firme e verdadeira de uma pessoa.

 

Tiago de Melo Andrade

Sobre Baleia, Totó e outros bichos

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Escritor com mais de quarenta livros publicados para crianças e jovens, Tiago de Melo foi vários vezes destacado em nível nacional premiado com importantes prêmios literários,como por exemplo o prêmio Jabuti , do qual foi vencedor em 2001 e finalista em outras três ocasiões. Dia desses uma foto dele com seu cão nas redes sociais chamou a atenção do blog. Um escritor tem uma visão diferente dos animais? Porque em suas obras, muitas vezes os animais ganham vozes. Daí a curiosidade. Pela foto sabíamos que aquele cão só poderia ser dele, e o carinho estava lá, expresso em cores. Então vamos lá. Que papel tem os bichos em uma literatura infantil e/ou juvenil? Tiago de Melo Andrade responde.

 

“Não vejo sentido em nada que infrinja sofrimento por diversão, entretenimento ou esporte”

 

Marcos Moreno– Minha curiosidade a respeito da sua relação com animais foi a partir de uma postagem sua no face com um lindo cão. Sua afeição por animais é desde sempre?
Tiago de Melo Andrade– Não como é hoje em dia. Eu fui uma criança que tinha um pouco de medo de animais em geral. Mas quando eu tinha uns 15 anos minha irmã ganhou um cachorrinho que viveu 16 anos. Depois disso sempre tem algum animal na minha vida.

Marcos– Acredito que o segmento cultural, por ser da área de humanas, seja mais recheado de simpatizantes da causa animal, diferentemente do segmento da área de exatas. Tem a ver ou não?
Tiago– Penso que não, de uma forma geral as pessoas estão mais sensíveis aos dramas que envolvem animais. Se mobilizam, querem ajudar, buscar soluções, arrumam lares para filhotes, etc… Atitudes assim acompanho sempre pelas minhas redes sociais, em perfis bem diversos. Tenho para mim que a crueldade com animais está relacionada mesmo com o caráter e não com a formação intelectual.

Marcos– Algum animal te inspirou em determinadas obras?
Tiago– Uma leitura que eu achava muito divertida era a onça no Livro O Coronel e o Lobisomem, do José Cândido de Carvalho. Gostava muito da maneira que ele atribuía características humanas ao bicho, sem que ele deixasse de ser bicho. O meu pai morou na fazenda, tanta história me contou de animais! Renderam livros como o “No Bucho da Serpente”, ou “O segredo do Papagaio Pelado”, que se inspiram causos dele, como aquele da cobra que vinha mamar escondido nas vacas.

48359388_2213374392019674_7159256384129728512_nMarcos– Na literatura há animais que sempre serão vilões? Qual a origem disto?                                                                 Tiago– Sim, como as cobras e mesmo a onça. Acredito que a origem está em nosso imaginário em nossos próprios medos. Muitas vezes transferimos para a imagem de um animal as angustias humanas, nossos temores… Se as coisas não estão dando certo em sua vida, o azar é culpa de um gato preto que cruzou o caminho. Lembro de criança ganhar um chaveiro que era um pé de coelho de verdade mesmo, com as unhas e tudo. Era para dar sorte. Que coisa bizarra! O coelho é um símbolo de sorte porque se reproduz com facilidade. Bem, assim vai e a imaginação humana vai atribuindo significado os animais e a literatura que é obra dos homens muitas vezes usa desses símbolos em que o animas são transformados: sorte, azar, morte, paz, doenças…

Marcos– Que personagens célebres da literatura são animais?
Tiago– Muitos, vou destacar alguns cães. Podemos começar com a cachorra Baleia de Vidas Secas, o Totó do Mágico do Oz, o fantasma canino em O Cão dos Baskervilles, há o Cerberus, cão que guarda as portas do inferno na literatura romana e a Lessie, que pra que não sabe antes de ser filme foi livro.

Marcos- Estão sendo alvo de protestos alguns autores em função de obras consideradas de preconceito racial. Em relação a animais existe algum pensamento de “revisão”?
Tiago– Sim. Não se escreve hoje como há cinquenta, cem anos. Imagino que a preocupação da maioria dos autores é a de sensibilizar o leitor para acolher e proteger a vida animal.

Qual é a sua opinião sobre touradas, vaquejadas e práticas semelhantes?
Tiago– Por mim acaba. Não vejo sentido em nada que infrinja sofrimento por diversão, entretenimento ou esporte. Ultrapassa a fronteira da ética. Para mim não há justificativa plausível para a continuidade dessas práticas.

Marcos– Que animal selvagem mais te fascina?
Tiago– É um pergunta difícil de responder, eu fico fascinado bem fácil… mas eu fico muito impressionado com aqueles animais abissais, que vivem nas fendas oceânicas e são bem diferentes do que estamos acostumados a ver.

 

Marcos– Você já leu algum livro no estilo “Marley e eu”, por exemplo?
Tiago– Não. Não me atrai muito. Mas posso dar sugestões de histórias para ler com animais. Dois contos geniais brasileiros são: Baleia, Graciliano Ramos e A Legião Estrangeira , Clarice Lispector

Marcos-Abusando do seu talento literário, que mensagem você poderia deixar para o leitor do Moreno Pet Blog?
Tiago– A melhor mensagem é: aproveite seu pet! Eles vivem tão menos que a gente. Tantas vezes deixamos de dar um pouquinho a mais de atenção. Num dia eles chegam um filhotinho que parece não vai crescer nunca, no outro resta só o retrato. Se tem uma coisa que eles nos ensinam bem é a importância de valorizar o amor, a amizade e vida.

Raphael Muchiutti Picacio

Consciência crítica e generosidade!

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Servidor Público efetivo, o advogado pós-graduado, Raphael Muchiutti Picacio há alguns anos milita em defesa de animais. Natural de Marília-SP, hoje vive em Uberaba com seus 6 cães e tem uma experiência valiosa com ONGs de proteção animal, além do conhecer muitos Centros de Zoonoses. Tem uma visão ampla e bem fundamentada da realidade desse segmento em Uberaba, tanto do ponto de vista das ONGs quanto do poder público. E o principal: tem uma consciência crítica que aliada à sua generosidade o torna um ser humano admirável.

 

“Em um município de quase 340 mil habitantes seria necessário castrar no mínimo uns 4000 mil animais por ano”

 

Marcos Moreno- Você não é de Uberaba. Quais os motivos que o trouxeram para cá?
Raphael Muichitti Picacio– Sou natural de Marília SP, minha família veio para Uberaba no ano de 1991 em função do meu pai ser servidor público do Estado de Minas Gerais. No ano de 2011 até cheguei a mudar para Votuporanga SP, mas em 2012 fui convocado para tomar posse em cargo público na Prefeitura Municipal de Uberaba.

Marcos– Com relação ao cuidado- envolvendo tempo trabalho, etc- com os animais, em que categoria você se sente mais confortável? Protetor Independente, voluntário…?
Raphael– Acho que na vida tudo muda, já cheguei a dedicar 3 horas diárias durante toda a semana para cuidar de animais abandonados, posteriormente, quando fui assessorar a vereadora Denise da SUPRA, trabalhava várias horas por dia com a causa animal. Hoje em dia me enxergo como protetor dos animais e voluntário da SUPRA.

Marcos– Toda pessoa simpatizante da causa animal não esquece o momento ou a situação que a despertou para essa atividade. Qual foi o seu momento?
Raphael– Essa questão de “despertar” é complexa, na verdade ainda hoje posso dizer que não estou 100% “desperto” para a causa animal, vou explicar.
As experiências que temos na vida, as reflexões filosóficas, os livros que lemos, filmes, etc. ajudam a formar quem somos assim como a genética. Gostar de animais eu sempre gostei, agora, quando eu resgatei o meu cachorro Idi (em 2009) eu comecei a despertar para a péssima situação dos animais abandonados e em paralelo com isso a maldade de alguns humanos. O Idi foi abandonado, sem água e nem comida, ainda bebê, no meio de uma estrada de terra distante 15 km da cidade de Iturama MG, ele ficou tanto tempo no sol que quase morreu e teve suas retinas queimadas pelo sol, ou seja, desde pequeno ele é cego.
Com esse fato eu comecei a dar mais atenção aos animais como um todo, mas ainda acho que tenho de “despertar” em vários sentidos, uma questão mal resolvida ainda por mim é no tocante ao vegetarianismo, ainda não despertei para isso e tenho questionamentos que sempre me atormentam.

Marcos– Você tem experiência de trabalho em ONGs?
Raphael– Sim, tenho experiência tanto na SPAVO uma ong da cidade de Votuporanga/SP onde fiz resgates, feiras de adoções, reuniões com políticos, etc.
Agora, a minha maior experiência foi na SUPRA onde eu atuo como voluntário desde o ano de 2012.

Marcos– Você conhece várias ONGs, pode citar algumas que sejam modelos?
Raphael– É complicado falar em “modelos”, é lógico que existem ONGs que são “perfeitas”, como a APA de Uberlândia, mas isso depende de inúmeros fatores como: fonte de custeio dos gastos, administração, número de animais que a ONG possui, etc. Outro fator importante é que nem sempre uma “ONG” dita como modelo vai ser “modelo” em todas as suas atitudes, um exemplo disso foi o que ocorreu comigo no ano de 2014. Nessa época, eu procurei uma “ONG” modelo que existe no interior do Estado de São Paulo para buscar conhecimentos para melhorar a situação administrativa da SUPRA, foi então que a diretoria da mencionada ONG disse para mim que a visita sairia R$180,00 reais, na hora eu até perdi a voz, achei entranho essa posição. Eu não buscava conhecimento para gerar dinheiro para mim, eu buscava informações para melhorar a situação dos animais abandonados em Uberaba e resgatados pela SUPRA.
Como se vê, é uma ONG “modelo” que não pensa nos animais.

Marcos– Muitos abrigos são considerados uma “bomba relógio”. O que isto quer dizer?
Raphael– Essa questão é bem complexa e perigosa, algumas das pessoas que lidam com animais abandonados não conseguem equacionar a quantidade de animais que possuem com a qualidade de vida que eles podem dar para esses animais. É lógico que são duas variáveis bem subjetivas que cada “protetor” tem de analisar, entretanto, existem algumas pessoas que passam do limite em quantidade de animais e viram acumuladoras. Isso é um perigo, primeiro porque vai gerar inevitavelmente casos de maus-tratos e em segundo lugar, caso essa pessoa morra ou fique doente pode não existir “plano B” para socorrer ou dar a destinação para os animais.
Os órgãos de fiscalização devem acompanhar essa situação estabelecendo limite na quantidade de animais. O Centro de Controle de Zoonoses, o CRMV-MG e o MPMG, devem atuar nesse lado também, não só no caráter instrutivo, mas também providenciando o cumprimento da “Legislação” pois “a saúde é direito de todos e dever do Estado” e animais abandonados é caso de saúde pública.

Marcos– Você também conhece Centro de Zoonoses em pleno e satisfatório funcionamento. Onde?
Raphael– Sim, conheço alguns. O melhor, sem sombra de dúvidas, é o de Piracicaba/SP. Também conheço os CCVs de Votuporanga, Barretos, Ribeirão Preto, São Jose do Rio Preto. Na época em que conheci o CCZ de Piracicaba eu percebi o quanto que o Município de Uberaba está atrasado nas políticas públicas referentes à “causa animal” e consequentemente à “saúde pública”.
O CCZ de Piracicaba/SP, em especial o canil/gatil de lá, possui 14 veterinários lotados e uma estrutura impressionante.
Fazendo uma comparação com o CCZ de Uberaba fica estarrecedor a diferença, tanto assim o é que o CCZ de Uberaba, em especial o canil, já foi denunciado no CRMV-MG e o MPMG, sendo que nesse ultimo a PMU teve que fazer ate um Termo de Ajustamento de Conduta, e mesmo assim está bemmmmmmm longe do razoável.
Não estou exagerando não, o CCZ de Votuporanga/SP tem a mesma estrutura, a mesma quantidade de funcionários que o de Uberaba, a diferença é que Votuporanga/ SP tem 94 mil habitantes e Uberaba tem 330 mil habitantes, ou seja, o CCZ de Uberaba, no que se refere ao canil/gatil existe só para falar que tem.
A Prefeitura Municipal de Uberaba vem “enxugando gelo” nesse ponto faz décadas e não anos.

Marcos– O bom funcionamento de um CZZ passa pela questão política?
Raphael– Sim, isso depende 100% do Poder Executivo. É lógico que os órgãos de fiscalização devem cobrar do Município providências, já que ele não faz por si só, mas no Brasil existe sempre um “vou empurrando com a barriga” de todos, principalmente do Poder Executivo.
Veja bem, outro exemplo de que Uberaba está muito atrasada em políticas públicas voltadas para os animais.
Desde o ano de 2011 o município de Votuporanga/SP promove diversas castrações gratuitas em cães e gatos, machos e fêmeas. Em 2011 eram castrados 1000 mil animais por ano, esse número vem crescendo a cada ano, hoje eles castram 1800 no período de 12 meses.
Em Uberaba, há vários anos não existe castrações feitas pelo Município de Uberaba. Recentemente houve uma licitação para castrar 360 animais em 6 meses…. isso é uma piada de mal gosto.
Em um município de quase 340 mil habitantes seria necessário castrar no mínimo uns 4000 mil animais por ano.
A Prefeitura Municipal de Uberaba, no que diz respeito à causa animal, não chega nem em “enxugar gelo”.

Marcos– Tenho informação que a FGV desenvolveu um estudo para o CCZ de Uberaba. Por que isso não foi levado a cabo? Ou foi?Raphael– Na verdade a FGV fez um trabalho de reestruturação do executivo municipal, nesse estudo houve a criação da Superintendência do Bem-Estar Animal. Essa superintendência teria várias competências ligadas à “causa animal”, principalmente no tocante as políticas públicas. A reestruturação do Canil do CCZ seria uma vertente disto. Entretanto, nada ocorreu e o Canil do CCZ foi denunciado no MPMG gerando um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para reformar o CCZ.                                                                 52181496_644117039343009_3317323183404613632_n

Marcos– Você foi nomeado Superintendente do Bem Estar Animal de Uberaba, função criada pela PMU. Não é mais?
Raphael– Sim, fiquei nomeado por alguns meses, mas já estava bem cansado de não ver resultados práticos na causa animal. É uma atividade bem complicada lidar com sofrimentos diários de animais abandonados e não ver resultados práticos. A mentalidade de alguns políticos não muda. Então decidi desistir do cargo comissionado e voltar para o meu cargo efetivo mesmo. Foi a melhor decisão que tomei naquele ano, a pressão saiu dos meus ombros.

 

“…a cultura/educação é definitivamente influenciadora na população de animais abandonados”

 

Marcos– A cultura de um local tem influência da população de animais abandonados?
Raphael– Sim, a cultura/educação é definitivamente influenciadora na população de animais abandonados. Aonde falta tudo, inclusive educação a última coisa que a população se preocupa é com os animais.
Isso fica nítido em bairros mais pobres onde a população de animais abandonados é maior.

Marcos– Tenho visto, pelas redes sociais, muita manifestação contra a castração química em animais de rua na cidade de Uberaba. Você é a favor?
Raphael– Sou totalmente contra, é um método totalmente duvidoso em vários sentidos. A castração química não deve ser utilizada por órgãos públicos, seria um desrespeito com o dinheiro público, custa caro e não resolve definitivamente o problema da proliferação de animais abandonados.

Marcos– Sempre peço para o meu entrevistado deixar uma mensagem para os homens em relação aos animais. Pode ser?
Raphael– Legal, existem várias frases sobre os animais, mas existe uma que é a minha predileta.
“Receio que os animais considerem o homem como um ser da sua espécie, mas que perdeu da maneira mais perigosa a sã razão animal, receio que eles o considerem como o animal absurdo, como o animal que ri e chora, como o animal desastroso.” – Friedrich Nietzsche
É uma frase que possui várias interpretações dependendo do ponto de vista… em suma, os animais nos acham um “desastre”.

Jurandir Ferreira

IMG-20190205-WA0029Casado com Beatriz, pai de três filhos e avô de três netos, Jurandir Ferreira é eletricitário aposentado da CEMIG há 20 anos. Como ativista do Controle Social em Defesa do SUS (desde 2003) acabou participando do Conselho Municipal de Saúde em Uberaba (2004-2012) e do Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais (02/2012-02/2018). Atualmente é Coordenador da Pastoral da Saúde no Regional Leste 2 da CNBB – Minas e Espírito Santo desde 2012. As protetoras e protetores independentes de animais de Uberaba o reconhecem como uma pessoa fundamental na defesa dos direitos dos animais, que claro, é uma questão de saúde pública. O blog deixa claro que o espaço é democrático, podendo ser usado adequada e oportunamente com matérias (entrevistas) que sejam esclarecedoras e com o foco no respeito à vida animal.

 

“Eu gostaria de pedir aos Gestores Municipais que se interessem mais pela causa animal, pois eles são tão importantes quanto os humanos…” 

 

Marcos Moreno– Tenho informação que sua ajuda foi fundamental para reivindicações da reforma do Centro Controle de Zoonoses (CCZ) de Uberaba. Qual o seu interesse?
Jurandir Ferreira– Como membro do Conselho Municipal de Saúde, fizemos uma proposta que fora aceita pela Gestão à época(2011) para a melhoria da assistência dada pelo CCZ e que culminou num projeto de reformas e ampliação, inclusive com admissão de profissionais veterinários para que pudéssemos realizar castração de Cães e Gatos errantes e domiciliados visando a redução populacional, mas com o descaso da Gestão, o projeto “foi engavetado.” O meu interesse neste momento é dar apoio às cuidadoras/cuidadores independentes, que me procuraram e demonstraram preocupação com a quantidade de animais errantes na cidade com riscos de uma epidemia de zoonoses. Fui procurado por Claricinda e Cecília devido à quantidade de animais errantes abandonados por seus “donos” na cidade inteira sem que o Poder Constituído tome qualquer providência. Fizemos algumas reuniões com presença de várias Cuidadoras Independentes e iniciamos estudos para ver qual seria a melhor estratégia para que tivéssemos êxito nas nossas pretensões. A principio tivemos que estudar a legislação em vigor para depois iniciarmos as ações efetivas junto aos responsáveis e Ministério Público.
Marcos– O conhecimento dessas necessidades e dos fatos envolvendo o CCZ e os meandros de tudo isto tem origem onde?
Jurandir– Eu trabalhei na CEMIG por 25 anos e em toda minha trajetória laborativa eu estive à frente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes-CIPA – representando os Trabalhadores e Trabalhadoras para que fossem eliminados os Riscos de Acidentes no Trabalho; quando me aposentei em 1998, voltei minhas energias para os trabalhos na Igreja Católica e ao Controle Social do Sistema Único de Saúde- SUS, trabalhos estes voluntários e de grande valia para mim e nossa Comunidade.

Marcos– Quando foi aprovada a reestruturação do CCZ e o que foi efetivamente feito?
Jurandir: Em 2011 – Mas não foi avante – Os Gestores sempre encontram justificativas de falta de verba para a sua efetivação.

 

“… uma cadela gera em 6 anos com seus próprios descendentes 67.000 crias e uma gata 240.000, e é esta a nossa realidade de hoje”

 

Marcos– O que um CCZ de uma cidade do porte de Uberaba deveria ter em pleno funcionamento?
Jurandir: Os trabalhos do Centro de Controle de Zoonoses- CCZ tem várias atividades importantes para a Comunidade no Controle de Zoonoses, como: Raiva, Leishmaniose, Leptospirose, Toxoplasmose – mas o que também está nos causando enormes prejuízos em todos os sentidos, é a ausência de condições para realização das castrações permanentes que tem objetivo de esterilizar, principalmente as fêmeas, para que seja efetivamente feito “Controle Populacional.” Como exemplo, uma cadela gera em 6 anos com seus próprios descendentes 67.000 crias e uma gata 240.000, e é esta a nossa realidade de hoje.

Marcos– O não funcionamento normal e aceitável de CCZ de Uberaba é em função de falta de verba?
Jurandir– Eles dizem que sim, mas eu sempre digo que é falta de planejamento, pois se planejar, com o pouco recurso que temos, dá para se fazer muito mais, pois todos os anos temos oportunidade de indicar onde vamos gastar os Recursos Próprios – Verba vinda da arrecadação Municipal.

Marcos– Dentro da abrangência da saúde pública em Uberaba existe algum órgão especialmente criado para proteção animal?
Jurandir: Sim. Há uma Superintendência; apesar de ser ocupada somente pela Superintendente sem nenhum trabalhador ou trabalhadora vinculada à ela.É uma situação estranha porque quando se cria uma Superintendência, supõe que há necessidade de criar vários cargos no seu organograma para a realização das atividades necessárias, mas não é isso que vemos na Gestão Municipal – Uma Superintendência que não agrega nenhum trabalhador ou trabalhadora além de sua superintendente. Há também um Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais – COMUPDA, mas ainda não conseguimos receber a documentação sobre seus componentes e de suas atuações, pois fizemos um requerimento à Presidente, Sra. Janaína dos Reis Coutinho Alves – que é também a Superintendente e Presidente do Fundo Municipal de Proteção e Bem Estar Animal, mas não obtivemos respostas. O Ministério Público do Meio Ambiente já foi acionado e em breve teremos estas informações para dar continuidade aos estudos e cobrar do Poder Constituído as responsabilidades com as atividades do CCZ.

Marcos– Em que pé que está a questão da reforma do CCZ de Uberaba? O que falta para começar essa “recuperação”?
Jurandir– Bom, fizemos uma manifestação na Câmara Municipal no momento de elaboração da Lei Orçamentária Anual – LOA/2019, e conseguimos aprovar verba o suficiente para que em 2019 sejam realizadas as reformas necessárias para desinterditar o CCZ que por denúncia ao Ministério Público, a Vigilância Sanitária Estadual interditou impedindo que se realizem as castrações para controle populacional no CCZ. Estamos aguardando a publicação da LOA/2019 e a entrada dos recursos nos cofres públicos para iniciarmos a campanha da liberação da verba necessária; o Ministério Público também se comprometeu a liberar verbas para a execução das reformas e ampliações do CCZ.
Marcos– Há uma polêmica em torno da castração química de animais de rua em Uberaba. Você tem alguma coisa a dizer sobre isto?
Jurandir– Sim.Há uma grande controvérsia no que tange à castração química, pois os Defensores dos Animais se posicionam contra por não ter a garantia de que esse procedimento não cause sofrimento aos animais e o posicionamento do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais – CRMVMG- que autorizou a execução da Castração Química em Uberaba para que se utilize um lote de 600 doses adquiridas pela municipalidade, mesmo havendo a contestação dos defensores/as dos Animais. Mas já há um procedimento assinado junto ao Ministério Público que o Município de Uberaba não vai mais adquirir o medicamento “Infertile” para a continuidade da castração química, e que a FAZU fará uso deste lote a título de pesquisa com apoio do Ministério Público e acompanhamento de um Veterinário indicado pelos Defensores dos Animais – Cuidadoras e Cuidadores Independentes; Mesmo assim as Cuidadoras e Cuidadores Independentes permanecem contra esta atividade.
O Conselho Federal de Medicina Veterinária – CFMV assim respondeu ao nosso questionamento sobre o uso do Infertile(castração química): “ Em atenção à solicitação apresentada por V. Sa., informamos que o assunto ainda está em análise interna e, tão logo tenhamos um posicionamento, informaremos.” Aumentando ainda mais a dúvida da eficácia e de não causar sofrimento aos animais defendido pelas Cuidadoras Independentes.

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“…aquele velho ditado: “é melhor prevenir do que remediar”

 

Marcos: Você tem pets?
Jurandir
– Hoje não; perdi os três que tínhamos; os últimos em junho de 2018– um casal de poodle; estamos ainda em fase de aceitação da ausência deles.

Marcos– O blog sempre pede à pessoa entrevista para deixar uma mensagem. O que você gostaria de dizer?
Jurandir– Eu gostaria de pedir aos Gestores Municipais que se interessem mais pela causa animal, pois eles são tão importantes quanto os humanos, e que se não forem bem cuidados, podem trazer várias doenças que afetarão os humanos e aí vale aquele velho ditado: “é melhor prevenir do que remediar.”
Parabenizo as Cuidadoras Independentes, que nestes poucos meses que estamos juntos, pude perceber o tamanho de seus corações e do amor dedicado aos animais ao ponto de contrair dívidas altíssimas para resgatar e dar assistência aos animais que sofrem por abandono ou maus tratos.

Lessandra Moreira de Carvalho

 

Razão e Sensibilidade!

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Formada em direito, Lessandra trabalha no TJMG. É casada e paralelamente com todas as atividades de esposa e funcionária pública, tem um trabalho que nunca termina e não propõe finais de semana ou férias remuneradas. Ela é protetora independente de animais, notadamente cães. Inteligente, objetiva e, especialmente franca, sem medo de dizer o que precisa ser dito e a quem precisa ser dito. Fala com razão e sensibilidade. Uma lição de autenticidade em um momento ainda cheio de “clichês” e pouca prática.

 

“A atitude de quem resgata é realmente uma atitude de muita doação de nós mesmo e de tudo que temos, mas É PRECISO ESTABELECER LIMITES SIM!!! “

 

Marcos Moreno– Lessandra, você é uma conhecida protetora independente dos animais. Desde quando você abraçou essa causa e por quê?
Lessandra Moreira de Carvalho– Abracei a causa animal há, aproximadamente, 8/9 anos, mas hoje em dia que vejo que foi, principalmente, depois que minha mãe faleceu de uma forma bem traumática para mim. Sempre amei cães, amo a natureza, os animais, mas creio que “tentei resgatar e ter muitos animais como uma forma de fazer um trabalho voluntário de ajudar um ser vivo e, inconscientemente, tentar preencher o vazio da falta da minha mãe com o amor e trabalho pelos animais.” Demorei anos para entender esta última parte.

Marcos– Você já participou de alguma ONG?                                                                                                                                              Lessandra– Nunca participei de ONG em Uberaba, pois acho que as da nossa cidade viraram um “depósito” de animais, o que acho terrível para o bem estar deles. Existem sim ONGs hiper limpas, organizadas, de extrema responsabilidade com cada animal no Brasil, mas são muito poucas. Já participei no início do Grupo Santo Focinho, que mais tarde também já tee o objetivo de virar ONG. Mas acabei saindo do grupo depois.

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Marcos– A atitude de quem protege animais é uma atitude, naturalmente, de muita doação. É preciso estabelecer limites?
Lessandra-
A atitude de quem resgata é realmente uma atitude de muita doação de nós mesmo e de tudo que temos, mas É PRECISO ESTABELECER LIMITES SIM!!! Falo por causa própria: é uma tarefa que suga nossa vida, nosso dinheiro e nosso estado emocional.
Assim, uns 4/5 anos atrás, eu comecei com umas dores terríveis na barriga, quase não conseguia andar, passei muito, muito mal. Quando vi que não melhora, fui a um médico que já me conhecia há anos, e só de me ver falar, disse: “você está totalmente agitada e ansiosa demais. Tanto que essa dor é ar que você está engolindo enquanto e fala, sua respiração esta afetada pelo emocional. O que está acontecendo?”
Foi aí que me abri com o médico e contei o tanto de resgate que eu estava fazendo, eu ficava olhando as postagens do face que ninguém resgatava e eu ia lá no “fim do mundo” resgatar o que via.
Eu participava de vários grupos de resgate no whatsapp e vivia enlouquecida resgatando. E estava extremamente nervosa com tantos resgates e problemas.
Foi ai que o médico disse que eu iria sair naquele dia de todos os grupos que eu participava e que teria que cuidar da minha saúde.
Foi o que fiz. Fui inclusive para a psicóloga. Após uma semana sumiram todas as dores.
Marcos– De quantos cães você cuida hoje?
Lessandra– Atualmente cuido de 20 cães: 8 são meus e 13 estão em uma casa alugada só para eles, prontinhos para adoação, castrados, vacinados, sem uma pulga sequer. Quem toma conta desses animais sou eu e Cláudia Toledo.

Marcos– Por que cresce tanto o número de protetores de animais? O abandono é maior hoje e as responsabilidades menores?
Lessandra– Bom, é grande o número de protetoras, estão todas lotadas e endividadas, mas são poucas as que pegam, levam no veterinário, cuidam de tudo, castram (QUE PRA MIM É UMA DAS PRINCIPAIS FUNÇÕES DE UM PROTETOR) e vacinam. Sabe por quê? Porque gasta dinheiro e a maioria não quer gastar nada, ou quer que os outros paguem tudo pra elas, o que é absurdo, mas existe! Muitas pegam da rua, dão um banho e botam para adoção!
Não acho que a responsabilidade dos tutores é menor. Acho é que as pessoas estão mais irresponsáveis a cada dia que passa. Por isto o abandono.Também nossa lei é ridícula. Nunca previu sistema de reclusão (cadeia é abrangida aqui) como pena para ninguém!!! Podem abandonar, matar, maltratar que NADA, pois era previsto só detenção!
Acho que não faz 1 mês que a lei foi alterada para incluir a Pena de Reclusão… Vamos ver se algo muda, pois nossa própria polícia é totalmente despreparada para a causa animal.
Marcos– Ao lado de outras pessoas com o mesmo nível de consciência em relação à causa, você esteve participando de sessão da Câmara Municipal de Uberaba, recentemente, que votou um projeto de reforma do CCZ de Uberaba. Como surgiu esse projeto?
Lessandra– Quanto ao projeto de reforma do CCZ, onde estive com outras protetoras independentes na sessão da Câmara Municipal de Uberaba, ele surgiu primeiramente numa reunião com no máximo dez pessoas, dentro de uma quadra, para conversarmos sobre nossas idéias. Entre elas estava o Jurandir, que já trabalhou anos na Secretaria de saúde. Ele foi a nossa luz no fim do túnel. Com a experiência prática de quem sabe como tudo tramita nos ajudou a pôr no papel nosso projeto e entrar na Câmara para que fosse separado, no orçamento de 2019, o dinheiro para colocarmos em prática.

Marcos– Você pode falar por alto o que está previsto nesse projeto em termos serviços e espaços físicos?
Lessandra– Primeiramente, temos um Centro de Zoonoses que não funciona pra nada com relação aos animais de Uberaba. Então, nosso Projeto é fazer aquilo funcionar plenamente, com obras em todo o terreno da CCZ, salas de cirurgia, sala de pós-cirúrgico, veterinários concursados para fazerem muita castração cirúrgica, locais para animais resgatados de maus tratos, ter um funcionário que realmente vá com o cambão ajudar no resgate de um animal quando precisarmos, pois isso não existe hoje, e é função da zoonoses, etc.

50220c6a-a4c2-4c0e-b867-c728d71e6104Marcos-Quais são os maiores impedimentos do funcionamento de um CCZ adequado?
Lessandra– Na minha opinião, os maiores impedimentos para funcionamento de um CCZ adequado é a falta de vontade das pessoas, dos políticos e a falta de recursos! Isso é uma obrigação da prefeitura de cada município e o prefeito daqui nunca foi cobrado por isto!
Marcos– Quer que dizer que é possível existir um CCZ adequado às suas obrigações?
Lessandra– Lógico que é possível existir um CCZ adequado e que cumpra suas obrigações, mas para começarmos tudo até terminar sabemos que vamos encarar muita luta pela frente. Mas já demos o primeiro passo. Tem que haver comprometimento da prefeitura.
Marcos– Você pode citar alguns lugares, dentro de fora do país que podem servir de exemplo?
Lessandra– O que vou citar como exemplo é como acabar com o abandono num país: Holanda e Alemanha! Estes países simplesmente acabaram com os cães de rua, sem matar nenhum!
Eles proibiram a venda de animais de raça, investiram alto nos abrigos públicos e obrigaram a quem quisesse ter cães, que adotassem dos mesmos.
Além disso, tem mesmo que exigir uma série de regras para você ter um cão ou gato, como, por exemplo: passaporte, microchip de identificação, cadastro do animal na Prefeitura do município, imposto anual para cada animal, alguns também exigem seguro para cobrir eventuais danos que possam ser causados pelo animal.
Lá o número do microchip também é registrado na coleira de identificação, que traz inclusive o símbolo da prefeitura.
Isto para mim é um sonho! Um sonho que aconteça algum dia no Brasil!

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Marcos– Que outras espécies de animais que vivem no meio urbano você considera que estejam desprotegidos?
Lessandra– No meio Urbano, além dos cães e gatos, acho que os pássaros estão muito desprotegidos! Além do tráfico que existe, há também os prédios espelhados, que, como o fórum de Uberaba, os animais vêm voando, não sabem que é vidro, batem e morrem, ou ficam machucados ou com asa quebrada não podendo mais voar. Também acho que animais selvagens como cobras, micos, lagartos, furões, nada disso deveria ser aceito como animal de estimação, é absurdo. E, com certeza, também são traficados.

Marcos– O que você pensa da substituição dos animais de tração por veículos motorizados?
Lessandra– Eu acho que os animais de tração não deveriam existir nunca mais, e não precisam ser substituídos por veículos motorizados, mas sim por uma simples bicicleta com um tipo de uma caixa enorme de folha de alumínio ou ferro atrás, é o que chamamos de cavalo de lata. Isso já foi feito em algumas cidades do Brasil.

Marcos– Gostaria que você deixasse uma mensagem para as pessoas…
Lessandra– Bom, a minha mensagem para as pessoas é que passem a ter responsabilidade real pelos seus animais, que parem de comprar e adotem mais animais resgatados com amor e com condições de comprar ração, levar ao veterinário, pagar as vacinas anuais e que tenham cuidado de não deixar eles fugirem. Assim como vocês não perdem seus filhos, não percam seus animais. Pensem que adotar é um gesto nobre e de solidariedade com um animal que já sofreu muito nas ruas e que merece, mais que qualquer outro, um lar amoroso.
CASTREM SEUS ANIMAIS! MACHOS E FÊMEAS!
Parem de achar que podem comprar um cão de raça em 10x, mas não tem dinheiro para cuidar dos problemas de pele que vão ter, cardíacos, renais, nos olhos. Depois abandonam na rua!
Parem de pensar só em animais de raça, porque nem você, que é Brasileiro, tem raça, pois somos um dos povos mais miscigenados do mundo!

Juliana Sene

      Começar bem!

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Estamos começando um novo ano. E para começarmos em grande estilo, vamos contar um pouco da história de Juliana Sene, uma Fisioterapeuta que equilibra suas atividades profissionais com o trabalho voluntário de ser protetora independente de animais. Para quem precisa entender melhor esse trabalho, ele se resume, a meu ver, em puro altruísmo. Em favor dos animais. Ela não fundou uma ONG, não faz desse trabalho qualquer possibilidade de meio de sobrevivência, mas não se sente capaz de dar de ombros ao pedido de socorro de um animal que, provavelmente não sobreviveria sem atitudes assim. Vice presidente da Ong SARA – Solidariedade Animal, Responsabilidade Ambiental, mergulhou nesse trabalho há aproximadamente sete anos, quando aconteceu o fechamento de três canis na cidade de Uberaba, denunciados por maus tratos aos animais. Foi notícia regional, daquelas com aquelas cenas horríveis que infelizmente ainda assistimos pelo país afora. Fabiana é exemplo de lutadora pela causa. Verdadeiramente!

 

 

“Precisamos de uma mudança urgente, hoje são mais de 13 mil animais abandonados na nossa cidade, isso também é um problema de saúde pública”

 

Marcos Moreno– Juliana, o que é SARA?

Juliana Sene– SARA – Solidariedade Animal, Responsabilidade Ambiental.
Ong onde seu carro chefe é educação, orientação (campanhas, palestras e etc.) e castração, que não possui abrigo, pois os filiados e fundadores acreditam que acumular animais em abrigos não é a saída para resolver o problema de superpopulação na cidade e cremos que abrigos não sejam locais ideais para animais residirem. A saída hoje para superpopulação, na nossa opinião é educação ( orientação sobre a importância da castração) e um programa efetivo do ccz de castração (gratuita).

Marcos– Você é protetora independente?
Juliana– Sim, sou protetora independente, faço esse trabalho independente de participar de alguma ONG. Os animais que resgato são custeados por mim, resgato, presto socorro se necessário (consultas, exames, tudo que for necessário) para que se restabeleça, castro, vacino , vermífugo, identifico e procuro adoção responsável.
Marcos– Quais funções semelhantes entre uma ONG de proteção animal e um Centro de Controle de Zoonoses?
Juliana– Trabalhos educativos, procurando esclarecer e contar com a colaboração e participação de toda a sociedade e principalmente controle de populações de animais domésticos (cães, gatos) por meio de esterilização cirúrgica (castração). Se a ong tem abrigo isso deverá ser feito assim que o animal tenha condições de enfrentar a cirurgia, anestesia e etc, senão acaba procriando dentro do abrigo e também para que seja encaminhado para adoção castrados. A maioria das Ongs que não possuem abrigos , também tem projetos de castração e educação como o ccz.

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Marcos– Existem no Brasil CCZ que funcionem bem?
Juliana– Lembro de ter postado no facebook um tempo atrás um ccz exemplo, onde tudo funcionava muito bem, desde o atendimento a animais errantes vítimas de atropelamento à castração e feirinhas de adoções, mas infelizmente não consegui achar a publicação na internet. O ccz da nossa cidade há uns anos atrás chegou a trabalhar bem melhor do que hoje, infelizmente. Antigamente quando era gerido por outra direção o canil recolhia animais errantes vítima de atropelamento e prestava socorro, recolhia cadelas no cio na cidade e eram castradas no ccz e encaminhadas para adoção, feirinhas regulares para adoção dos animais que se encontravam no canil e também mantinha um convênio com a polícia do meio ambiente para que animais de maus tratos fossem encaminhados para lá até que se achasse um fiel depositário para o mesmo. Hoje esse convênio também não existe mais.

Marcos– Sempre pergunto sobre a opinião do entrevistado sobre políticas públicas. O que falta e o que existe?
Juliana– Pois é nossos animais da cidade estão muito carentes em relação a políticas públicas, hoje nem o ccz funciona …que dirá o resto!!! Precisamos de uma mudança urgente, hoje são mais de 13 mil animais abandonados na nossa cidade, isso também é um problema de saúde pública. Precisamos de leis mais severas de maus tratos, de um programa de castração gratuita (ccz), de apoio aos animais resgatados de maus tratos pela polícia de meio ambiente (veterinários, medicamentos, local para recebê-lo e etc), um ambulatório para atendimento para população carente, de uma atenção especial aos cavalos que puxam carroças na cidade (o ideal e “ sonho” de todos amantes é que houvesse proibição de tração animal na cidade), precisamos de muita coisa, ficaria o dia todo escrevendo aqui rsrsrs. Você me pergunta o que existe? Na minha opinião hoje nada de proveitoso e ideal, nem castração que seria o mínimo existe através do ccz.

Marcos– A denúncia de maus tratos funciona? A quem recorrer?
Juliana– Sim, funciona. O problema é que se a polícia chega até o local e constata, o animal teoricamente deveria ser retirado, mas o poder público não disponibiliza um local de destinação desse animal vítima de maus tratos, nem veterinário para fazer um laudo de maus tratos e tratar o animal, então acaba ficando complicado retirar. Aí o que acontecesse é que o animal acaba ficando no local com o “agressor” e o mesmo ficando como fiel depositário o que não é o ideal. O ideal é que a pessoa que faz a denúncia se prontifique a dar o lar temporário e a cuidar do animal até ser destinado a um fiel depositário/ possível adotante futuro.
Recorrer ao 198 ou 190.

Marcos– O que identifica maus tratos?
Juliana – Abandonar, espancar, golpear, mutilar e envenenar; Manter preso permanentemente em correntes; Manter em locais pequenos e anti-higiênico; Não abrigar do sol, da chuva e do frio;  Deixar sem ventilação ou luz solar; Não dar água e comida diariamente; Negar assistência veterinária ao animal doente ou ferido;  Obrigar a trabalho excessivo ou superior a sua força; Capturar animais silvestres; Utilizar animal em shows que possam lhe causar pânico ou estresse; Promover violência como rinhas de galo, farra-do-boi etc..
Outros exemplos estão descritos no Decreto Lei 24.645/1934, de Getúlio Vargas. Lei Federal 9.605/98 – dos Crimes Ambientais Art. 32º. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Pena: detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Marcos– O Brasil ainda está muito distante de um ideal de respeito aos animais?
Juliana– Muitooooo, na minha opinião, as leis precisam ser revisadas, penas são muito brandas, na maioria das vezes pagas com multas ou serviços prestados, e isso para mim é no mínimo revoltante.
Precisa mudar a cultura do Brasil, na minha opinião deveria começar a educação e respeito em relação ao meio ambiente e animais na escola, fazer parte da grade curricular. Orientação e educação!!! Hoje nos deparamos frequentemente com tutores de animais totalmente desinformados quanto ao mínimo que um animal doméstico necessita como vacinas, vermifugação, castração e tal. Acreditem…. tem gente que acha e jura que o animal só tem que tomar de vacina a antirrábica, quando a outra é de extrema importância e na minha opinião muito mais importante. Hoje passamos por um surto de cinomose na cidade devido à falta de informação e de cuidado com os animais. Às vezes o tutor economiza 40 reais com uma vacina e depois tem que gastar mais 1000 reais p tentar salvar um animal com cinomose e ainda não salva.
Estamos longe de ser um país que cuida e respeita os animais.

Marcos– O que você tem como sonho no sentido de proteção animal?
Juliana– Meu sonho é que eles sejam respeitados como devem ser, sejam amados, que as pessoas tenham no mínimo compaixão.
Politicas públicas para os animais, leis severas, projetos sérios e que funcionem, castração gratuita, apoio da prefeitura aos animais errantes (os abandonados, atropelados, doentes), ambulatório público, fim das carroças, esses são alguns dos meus sonhos!

Marcos– Pode deixar uma mensagem para os homens em relação aos animais?
Juliana– Quem ama um animal com todo o seu coração mostra também o seu bom caráter, sabe identificar um amor genuíno pelo qual eles nos respondem e que não chega até nós de forma humana, chega de forma sutil e ao mesmo tempo intensa, verdadeira e inesquecível.
Animais nos ensinam mais do que qualquer ser humano quando estamos falando sobre lealdade e companheirismo. Eles são puros, amáveis e dedicam a sua lealdade ao dono sem outras limitações pelas quais o ser humano passa. Respeitar os animais significa respeitar a vida. O respeito também é sinal de sensibilidade e entendimento do sentido da vida.
Minha vida com certeza seria diferente sem eles (sem os 18 que eu tenho e os da rua) sobraria mais tempo, mais dinheiro, seria mais livre ….. Mas, quando penso no meu amor por eles, no amor deles por mim, na minha dor em ver um animal em situação de sofrimento….não trocaria eles por nada nem ninguém. São minha vida, dão sentido a minha existência.
Para mim são… o melhor no mundo….sinônimo de amor.

Rayssa Gotti Alves

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Ela é formada em Direito, mas descobriu que seria melhor profissional no segmento de fisioterapia. Por um lado, a advocacia falou alto por ser filha do conceituado advogado Marcos Alves e de Marise Gotti Alves. Por outro, talvez tenha se inspirado na profissão do irmão, Rafael, que é médico. A competência e a dedicação têm inspiração por todos os lados. E no quesito dedicação, um exemplo é a que tem pelos seus “bebês” de 4 patas, resgatados das ruas. Aconteceu: tiveram a felicidade de cruzar seu caminho e hoje recebem toda essa dedicação, que é natural dela, do seu caráter, da sua generosidade. Ama seus “filhotes” e com ela vamos saber que adotar um cãozinho, é realmente um ato de amor.

 

“Os animais permanecem ao nosso lado mesmo após a sua morte pois também sofrem de saudades, e podem permanecer neste plano por ate 4 anos. São seres de Deus sem dúvida alguma.”

 

Marcos Moreno– Rayssa, desde quando você faz essas “aventuras” de levar cães de rua para sua casa? Como foi a primeira vez?
Rayssa Gotti Alves- (Risos) A primeira vez foi em 2014, quando vi o Floquinho. Mas ele não veio direto pra minha casa. Eu precisei lutar muito pra ter ele aqui comigo.

Marcos– Você alguma vez pensou em estudar veterinária?
Rayssa- Apesar de ouvir isso de muitas pessoas, meu amor pelos animais nunca chegou ao ponto de querer tornar isso uma profissão.

Marcos– Você já participou de alguma ONG?
Rayssa– Diretamente não. Eu costumo ajudar com doações, compartilhando pedidos nas redes sociais. Já consegui duas adoções pra cachorros que peguei no meio da rua literalmente.

Marcos– Na sua casa seus pets ficam “lá fora” ou ocupam os mesmos lugares que você?
Rayssa- Eles ficam dentro de casa, e dormem nos quartos. O Floquinho dorme comigo na cama, e as outras duas dormem no quarto dos meus pais. A Nina na cama com eles, e a Meg, que é a última resgatada, dorme na caminha no chão.

Marcos– Quais são os maiores benefícios dessa convivência para você?
Rayssa– Sem dúvidas receber esse amor incondicional preenche os meus dias, e faz com que eu sempre tenha motivos pra sorrir e pra encher o meu coração de amor. Eles trouxeram luz pra minha casa, e alegram a vida de todos aqui.

Marcos- E o que é mais trabalhoso?
Rayssa– Eles não dão trabalho nenhum! Claro que ter um bichinho, requer cuidados, mas até dar um banho é fácil. Atualmente temos uma pessoa que vem dar o banho neles a cada 15 dias.

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Marcos– Os cães ganharam mais espaço entre as famílias brasileiras. Você acredita que pode acontecer também com outros animais?
Rayssa– Acredito sim. Todos os animais merecem receber o amor e carinho de uma família. Infelizmente o ser Humano acredita que está acima de tudo e todos, e fazem esses pobres seres de escravos. O mercado de venda de animais também é cruel e as pessoas financiam isso em nome de ter um animal de “raça”.
Marcos– Qual é a sua análise sobre o que disse o cantor Eduardo Costa a respeito da morte do cãozinho na loja do Carrefour de Osasco?
Rayssa– Esse cidadão perdeu mais uma oportunidade de permanecer calado. O que aconteceu com essa cachorrinha foi uma atrocidade, um absurdo pensar que em 2018 esse tipo de situação é tão comum. As pessoas maltratam animais por puro prazer e diversão. Eu vejo diariamente na internet o trabalho incansável das ONGs em resgatar animais que sofrem tortura literalmente. E não apenas os animais de rua, mas animais que têm família, nem sempre escapam da maldade do ser humano.

Marcos- Acredita que seus cães entendem o que você fala? Acha que há uma inteiração entre vocês?
Rayssa– Acredito que entendem sim e há uma interação, que inclusive já foi comprovada cientificamente (Risos). Eu realmente acredito que temos uma conexão surreal, e que o Floquinho sobreviveu aos maus tratos, graças ao amor que temos um pelo outro.

Marcos– Sob seu ponto de vista da espiritualidade (independente da religião). Como você vê os animais, claro que, especialmente os cães?
Rayssa– Quando a minha primeira cachorrinha morreu, eu sofri muito. Ela chegou na minha vida quando eu tinha apenas 7 anos, e morreu depois de 15 anos aqui. O meu pai me deu na época um livro sobre a espiritualidade dos animais, e foi realmente confortante. Os animais permanecem ao nosso lado mesmo após a sua morte pois também sofrem de saudades, e podem permanecer neste plano por ate 4 anos. São seres de Deus sem dúvida alguma.

Marcos– Você pode deixar uma mensagem para os humanos?
Rayssa– Se você puder, adote um animal abandonado. Visite abrigos, olhe pra aquele cãozinho na rua que passa por você com compaixão. Alimente se puder, faça um carinho. Eles só querem amor, comida e um cantinho onde possam se esconder de qualquer mal.

Ana Helena Diniz de Albuquerque Moura

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Ana Helena tem uma especialidade que eu diria ser incomum pelo menos pela ótica geral: tratamento com Ozonioterapia e Alimentação Natural de cães . Porém, cada vez mais necessária. Natural do estado de São Paulo, Ana Helena formou-se em Veterinária aqui, e por aqui ficou, exercendo a profissão em sua clínica, inicialmente desenvolvendo o trabalho com ozônio em gado. A partir de uma experiência pessoal com sua cadelinha, começou a desenvolver essa técnica de tratamento em animais de pequeno porte. Divide hoje seu tempo nas áreas de tratamento com Ozonioterapia e Alimentação Natural de cães. É casada e tem 4 filhas de 4 patas.

 

“A comida de um cão selvagem é o alimento natural, eles caçam para sobreviver…”

 

Marcos Moreno– Você é nutricionista de cães? Essa é uma área muito específica. Foi uma opção de especialização baseada em que?
Ana Helena Diniz– Sou nutrologa e nutricionista de cães ,especializei nessas áreas devido a sérias complicações de saúde com a minha cachorra que em um momento da vida esteve com o organismo em péssimo estado devido à ingestão de tantos medicamentos. O sofrimento era muito grande, muitos efeitos colaterais , imunidade baixa, então decidi parar com tudo e buscar uma vida com menos toxicidade e efeito colateral para o organismo, foi quando me apaixonei pelo tratamento com ozônio e um pouco depois com a alimentação natural.
Então hoje os medicamentos na minha casa são em primeiro lugar a ALIMENTAÇÃO, acredito que alimentando os animais naturalmente (comida) e suplementando adequadamente , consigo controlar a imunidade e assim combater qualquer tipo de doença.

Marcos– Desde quando você iniciou sua faculdade, o objetivo foi trabalhar com animais de pequeno porte?
Ana Helena– Não, sou apaixonada por Bovinos, atendo bovinos até hoje com o tratamento com ozônio. Depois de formada , tive a grande oportunidade dos pequenos entrarem na minha vida e assim sigo entre bovinos e cães. Sou apaixonada em bichos em primeiro lugar.

Marcos– O que é Ozonioterapira?
Ana Helena– Ozônio e um gás com odor característico, composto por 90% de oxigênio, utilizado como agente terapêutico, com varias formas de aplicação.
Utilizado para tratamento pelo seu poder antioxidante e potente regulador de imunidade, a concentração a ser utilizada depende da patologia do animal.
Entre as mais tratadas : Ortopedia, dores crônicas (artrite e artrose) cicatrização de feridas, etc.

Marcos– Quando se começou a usar ração para cães, parece que foi um grande avanço. Especialmente pela prática. Isso não significa que o cão está bem nutrido?
Ana Helena– Sim, o cão que se alimenta de ração está bem nutrido , mas devemos sempre lembrar que para uma ração durar 1 ano, que é o prazo de validade, contem vários tipos de conservantes, mesmo as rações com conservantes naturais, é um alimento industrializado. Alguns conservantes presentes na ração são bastante prejudiciais a saúde dos cães.

Marcos– Pela quantidade de alimentos naturais que estamos vendo surgir no mercado, parece que esse tipo de alimentação voltou com força total. É isto mesmo?                                                                                                                                                                                      Ana Helena– A comida de um cão selvagem é o alimento natural, eles caçam para sobreviver, se alimentam de carne, frutas e alguns matinhos , mas basicamente CARNE. Hoje está mais em alta a alimentação natural pelo simples fato da não ingestão de alimentos industrializados. Já existe muitos artigos publicados mostrando a porcentagem altíssima de câncer em cães que se alimentam de ração. Os humanos estão procurando por mais saúde e querem também que os seus amigos de 4 patas tenham mais saúde, e para isso existe a alimentação natural balanceada e suplementada por um nutricionista de cães.

Marcos– Como avaliar o estado geral de um cachorro se ele não pode falar o que sente?
Ana Helena– Avaliamos um cachorro com o histórico dos proprietários em seguida solicitamos inúmeros exames, sangue, fezes, urina , ultrassonografia, raio x, hoje esta cada vez mais pratico diagnosticar uma doença em um cão.

Marcos– Baseada em que você elabora uma dieta para um cachorro?
Ana Helena- Indispensável os exames de sangue, fezes, urina , histórico do animal e se necessário outros exames complementares, só assim conseguimos montar uma dieta adequada para um cão.

Marcos- Claro que a procura por uma dieta assim para um cão é feita por pessoas de classe A. Há uma possibilidade disto se popularizar?
Ana Helena– Todas as pessoas podem alimentar o seu cãozinho com COMIDA DE VERDADE, as dietas são elaboradas de acordo com a necessidade do animal, procure sempre utilizar legumes de verdade da época e pesquisar os valores de carnes, é possível utilizar uma carne barata com qualidade, para isso é necessários vários cálculos, adequando a porcentagem de proteína na dieta.
Marcos– Antigamente as pessoas gordas eram padrões de beleza. Com os animais foi ou ainda é assim?
Ana Helena– Ainda é assim, gordura não é sinal de saúde. A obesidade é um mal do século hoje em dia, são tantas complicações que o excesso de gordura causa na vida de um cão. Adequar a alimentação dos cães não é complicado e ajuda muito na longevidade e no nosso bolso, um cão saudável não adoece.

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Marcos– A correria da vida moderna não é um empecilho para esse tipo de cuidado com um pet?
Ana Helena- De forma alguma, é necessário se organizar e pouco mais de tempo para fazer a alimentação natural. Hoje eu dou a consultoria em casa para o preparo dos cardápios, dou dicas de todos os detalhes, desde como cortar até o congelamento, a melhor forma de oferecer a comida e o suplemento, isso ajudou muito as famílias que amam a alimentação natural.

Marcos– Ao contrário do comum, quando todos os experimentos começaram com animais antes de serem usados em humanos, esse caso foi o contrário?
Ana Helena– Não teve experimento em cães com a alimentação natural.

Marcos– Você tem cães?
Ana Helena– Tenho 4 cães, 1 gato, 2 calopsitas

Marcos– Para encerrar sempre peço para o entrevistado (a) deixar uma mensagem. O que você diria para um tutor que pensa que seu animal tem que ser gordinho?
Ana Helena– Deixe o alimento do seu pet ser o seu remédio , e o remédio do seu pet ser o seu alimento.
Em primeiro lugar mostro alguns exemplos de cães obesos, o antes e depois, e todas as complicações do excesso de peso. Diria para ele observar o seu animal no dia a dia, tem certas dificuldades, como dificuldade subir escadas, levantar, animal que dorme muito, não brinca…